Marta Sotto-Mayor volta a oferecer aos leitores da Ambitur a sua coluna, onde aborda temáticas atuais do setor da Hospitalidade. A profissional conta com mais de 25 anos de experiência internacional, vários prémios e reconhecimentos ao longo da carreira. É graduada pela Escola de Hotelaria e Turismo do Porto em Gestão Hoteleira, obteve o Strategic Hospitality Marketing Certificate na Cornell University, e fez Licenciatura em Gestão Hoteleira no ISEC Lisboa – Instituto Superior de Educação e Ciências e Pós-Graduação na Glion Hotel Management School. Leia aqui mais um artigo.
Por Marta Sotto-Mayor, Formadora & Consultora Internacional – Especialista Hotelaria, Turismo e Restauração
A Nova Hospitalidade Pede Emoção, Participação e Espetáculo
O gastrotainment já não é novidade, mas continua a ser um mistério para muitos. Não se trata apenas de uma tendência dos negócios de restauração e bebidas, com chefs a “performar” ou iguarias instagramáveis. É uma evolução da Hospitalidade, onde a experiência sensorial desafia convenções e desperta emoções fortes e memoráveis.
A Nova Fronteira da Hospitalidade Sensorial
Se a experiência gastronómica se resume a servir deliciosa comida e bebida, será que se afirma como realmente memorável? E juntar um serviço “impecável” chega? Quando os Clientes não participam, não criam, não reagem… então só assistem. Quem se lembra, no longo prazo, de um espetáculo onde foi apenas público? A recordação é mais viva quando há participação, e o ingrediente extra é entertainment.
Eis algumas perspetivas que vão além do óbvio:
Narrativa Gastronómica: O Menu é o Enredo
Não basta ter pratos bonitos e bem apresentados, cada detalhe deve contar uma história. Na gastronomia imersiva tudo comunica: as pessoas, a luz, e o design do espaço, a escolha dos produtos e o processo, o ritmo e o formato do serviço. Quando adaptada a cada Cliente, esta dramaturgia gastronómica transforma uma refeição num enredo com suspense e efeito memorável.
O Ultraviolet, em Xangai, leva a narrativa gastronómica ao extremo: cada prato é servido num ambiente imersivo, onde luz, som e aromas mudam para amplificar a experiência. E se restaurantes comuns adotassem microelementos deste conceito para transformar pratos em histórias interativas? Pense bem: o seu menu entrega obras primas, com visão e mercado, ou é um filme sem clímax?
O Cliente Não é o Espectador, É o Protagonista
Quando há gastrotainment a experiência não deve ser apenas servida, deve ser vivida. A interação entre o Cliente e os elementos da equipa tem de ser tão fluida e envolvente quanto a própria comida e bebida. Restaurantes que vão além do tradicional serviço ao Cliente, quebrando as barreiras entre sala-bar e cozinha, criam momentos de verdadeira coautoria.
Jantares mais participativos são o futuro? No essencial a colaboração gastronómica é dar ao Cliente um papel ativo na construção da experiência, permitindo que influencie o prato ou a bebida, o momento e até a forma como decorre o serviço.
Tecnologia Como Elemento Invisível
Se a tecnologia do restaurante se nota demasiado, então está a ser mal usada. O desafio? Integrar tecnologia para elevar a experiência gastronómica, sem que esta roube a cena à Hospitalidade humana. Um carrinho de sobremesas com realidade aumentada para contar a história dos ingredientes pode elevar a experiência, sem roubar protagonismo ao serviço humano. Não é preciso complicar, muitas vezes a surpresa certa no momento certo é o ingrediente que transforma uma refeição numa experiência inesquecível. Porque a tecnologia nunca deve ser imposta, nem substitui a humanização do serviço.
Os 5 Sentidos em Cena
O seu restaurante é um cenário bonito sem alma ou um palco sensorial? Um restaurante que se afirme no segmento gastrotainment pode ser uma galeria viva, uma peça de improviso (orquestrada), um concerto inesperado ou até um laboratório experimental cooperativo.
Um bom exemplo: a sobremesa do Alinea. Este restaurante em Chicago transforma a mesa numa tela, e a confeção torna-se um espetáculo ao vivo, feito com ingredientes selecionados no momento pelo Cliente. O resultado? Uma criação artística única, não há duas iguais.
No Sublimotion, em Ibiza, a refeição é tratada como um espetáculo multimédia de alta produção. Mas experiências inesquecíveis não precisam de cenários milionários. E se a equipa do restaurante identificasse o estado emocional do Cliente ou a sua cor favorita, ajustando o serviço em tempo real para amplificar essa emoção ou preferência? Não basta cantar parabéns no seu aniversário, é fazer mais e além. Como? Ler o livro Unreasonable Hospitality, do Will Guidara, é uma fonte de inspiração.
Tendências da Restauração: A Economia da Emoção
O gastrotainment não se esgota no prato ou no copo – passa pela narrativa, pela luz, pelo som, pelo toque e até pelo aroma surpreendente ao destapar um prato. Aposto que os Crepes Suzette vão voltar em força e com mais criatividade. Ainda bem! E os cocktails? Podem ser o fator X, se a mixologia for usada como espetáculo.
O valor acrescentado está na diferença: ninguém está disposto a pagar mais por banalidades. Uma ideia simples? Finalizar a produção na mesa com a delicadeza de a assinar dando à iguaria o nome do Cliente. É pouco usual, descomplicado e potenciador de impacto.
Se ninguém se lembrar do que aconteceu no seu restaurante daqui a um ano, terá o esforço todo valido a pena? No fim, para o Cliente, o que fica não é só o que se comeu e bebeu, mas o que se sentiu. O verdadeiro gastrotainment não se limita a servir refeições diferentes, o seu poder está em criar emoções e memórias fortes.
O verdadeiro gastrotainment tem sempre como protagonista o Cliente
E se, na sua realidade, o empratamento fosse feito em colaboração com o Cliente, sincronizado ao som da música que mais o emociona? (hoje a tecnologia permite isto com muita facilidade!) Não seria esse ingrediente sensorial um plus para um momento verdadeiramente único?
Se do teatro e do cinema se esperam grandes histórias, da restauração especial pede-se algo mais poderoso: a capacidade de transformar um momento comum (refeição) em memórias extraordinárias. Quando o/a Cliente sente que a experiência é exclusiva, feita com ele e para ele, não é apenas mais uma refeição: é um momento inesquecível. Ponha em prática, o Cliente agradece!
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