Opinião: “Hotéis e Alojamento de curta duração: Existe espaço para ambos”

Por Amiad Soto, CEO & Co-Founder da Guesty

O crescimento populacional é uma realidade que afeta, em grande medida, o setor das viagens. Enquanto a população ativa cresce ao nível mundial e o custo das viagens diminui, sendo o resultado óbvio: os níveis de turismo disparam e o setor precisa de se adaptar para enfrentar o desafio do aumento da procura.

De facto, a procura é tão elevada que serão precisos mais de 43.000 aviões nas próximas duas décadas para conseguir dar resposta a esta tendência, segundo o CEO da Boeing, Dennis Muilenburg. Estima-se que, a partir de 2020, só a geração Millenial gaste por ano mais de 1,2 mil milhões de dólares em viagens.

Qual o resultado desta combinação? Uma indústria avaliada em milhões de dólares e que não demonstra sinais de abrandamento, devido à cada vez maior facilidade de acesso a viagens.
Basta olhar para todas as opções de desconto disponíveis. Entre as várias plataformas que oferecem voos a preços acessíveis, promoções em bilhetes de comboio e as mais variadas opções de última hora – são imensas as possibilidades que nos ajudam a ter as férias que precisamos a preços que podemos suportar.

Com o acesso ao turismo tão facilitado, podemos observar uma mudança de paradigma quando o tema é viajar: passou de um luxo para um bem-essencial, um “direito”. Há cada vez mais pessoas no mundo, existem cada vez mais pessoas a querer viajar, e que, por conseguinte, precisam de um sítio para ficar quando o fazem.

É neste ponto que reside o sucesso da indústria de gestão de propriedades ao identificar e satisfazer necessidades que ainda não foram satisfeitas. Com o aumento da procura, diferentes tipos de acomodação ganham destaque, uma vez que nem o mais flexível dos hotéis preenche a 100% os atuais requisitos. Em Portugal, basta olharmos para os dados de novembro divulgados pelo INE onde o alojamento turístico português que registou o maior aumento quando comparado com outros tipos de alojamento: 900,4 mil dormidas nos primeiros nove meses do ano, atingindo um total de 6,879 milhões.
Porquê esta tendência? Tudo se resume ao individualismo, que se torna especialmente saliente quando estamos a investir o dinheiro das nossas poupanças. Aliás, o mesmo relatório revela números bastante interessantes, no que diz respeito às preferências hoteleiras dos portugueses. De acordo com o mesmo, a escolha dos consumidores recai nos hotéis-apartamentos de 5-estrelas, o qual se traduziu num aumento das dormidas em 48,4%, ou seja, mais 244,3 mil dormidas que nos primeiros nove meses de 2018, atingindo um total de 749,3 mil. Viajar é, de facto, cada vez mais um presente que damos nós próprios e que, geralmente, nos leva a sair da nossa zona de conforto durante todo o processo.

Os hotéis oferecem o clássico reportório de serviços que são flexíveis até certo ponto, pelo que não lhes compete responder a todos os tipos de procura. Ao expandir perante uma óbvia necessidade, os alugueres de curta duração não estão a desafiar diretamente a indústria hoteleira, mas a resolver um problema de uma forma que poderá beneficiar os dois lados.

A realidade com que nos temos confrontado é que existem aspetos que uma indústria pode aprender com a outra, tal como uma melhoria na segmentação do público-alvo. Os alugueres de curta duração estão a otimizar os respetivos métodos de organização e brand experience, ao passo que os hotéis estão a trabalhar numa personalização dos seus serviços e na eficiência da gestão de reservas.
Ambas as opções são válidas e adequadas a diferentes tipos de procura, em diferentes momentos da vida, portanto nenhum dos dois está a competir pelo mesmo público. A lógica da escolha não é “um ou outro,” mas sim “qual serve o objetivo pretendido desta vez”. Com o crescimento do turismo, há espaço suficiente para as duas indústrias que estão a ser forçadas a inovar e a melhorar continuamente, algo que se torna motivador para ambos.

O cenário não é propriamente novo, uma vez que não é nada mais nada menos que uma revolução. Tal como os telefones ou a internet, a acessibilidade em viajar está a mudar o mundo em que vivemos para melhor. A indústria do arrendamento para férias está a dar a muitos a oportunidade de atravessar oceanos, explorar novos locais e trocar ideias, que por sua vez contribuirão para o crescimento do turismo como um todo.

À medida que o turismo cresce neste ecossistema de partilha, os setores adjacentes vão continuar a evoluir e melhorar os seus serviços. Juntos, conseguiremos prosperar e satisfazer todas as necessidades dos viajantes. Há espaço suficiente para os dois!