Opinião: “La rentrée s’announce”

Por Paula Oliveira*

Mesmo depois do 25 de Abril, o francês era a língua estrangeira base que estudávamos na escola. Lembro-me ainda dos livros “JeCommence” protagonizados pela família Dupont. E lá tinha um texto para início das aulas que se intitulava “ La rentrée s’announce”. Era a marca do outono e do fim da boa vida das férias grandes.

Hoje a chamada rentrée marca igualmente o fim do Verão e o começo da azáfama com os orçamentos, os planos, as grandes ideias , o agora é que vai ser para mais um ano. E sempre os números.

Olhando para os números da performance de Lisboa de Janeiro a Julho deste ano, verifica-se que não se portou nada mal. As dormidas de estrangeiros subiram 6, 6%, os hóspedes 8,1% e os proveitos globais 10 ,6%. Dos mercados emissores que mais subiram destacam-se Espanha, Itália, França, os EUA com subidas a 2 dígitos, mercados tradicionais de Lisboa. Mas também sobem a 2 dígitos a Irlanda, a Suiça, o Canadá e o Japão. Também houve mercados que desceram a 2 dígitos como é o caso do Brasil e da Rússia, o que não é novidade.

Mas ainda há um bom bocado para crescer. De uma forma consolidada e sustentada evidentemente, mas sempre a crescer. Quem nos visita não nos pesa. Bem pelo contrário: anima-nos, torna-nos mais cosmopolitas, faz-nos mais empreendedores, mais exigentes, mais sorridentes, mais confiantes no futuro e em nós próprios. Quem nos visita compra o que é nosso. E compra na nossa terra. É claro que eu , nascida e criada em Lisboa, tenho a tentação de achar, cá bem no fundo, que sou como que obrigada a repartir o meu paraíso com estranhos. Lembro-me quando muitas lojas da baixa eram quase só para mim e mais meia dúzia, quando os prédios não eram para ninguém, quando quase não havia filas de jeito nos monumentos, quando os restaurantes e bares eram assim uma espécie de territórios mais ou menos marcados, quando se apanhava um táxi que era uma limpeza -e sem haver TukTuk’s – , quando se via o rio Tejo por um canudo… ainda assim havia sempre bicha na ponte e na 2ª circular. Devido a portugueses a mais, certamente.

Deixemo-nos de coisas: adoramos esta animação e todos sabemos, independentemente de todas as versões, que esta foi a melhor coisa que nos aconteceu nos últimos anos. Portanto, podemos continuar a trabalhar para promover Lisboa sem permitir um único desvio que prejudique o natural crescimento dum destino que se revela cada vez mais apetecível. Venham eles. Nós cá os esperamos.

Este artigo de opinião está integrado na Edição 294 da Ambitur.

*Paula Oliveira, diretora executiva do Turismo de Lisboa, é uma das colunistas fixas da Ambitur.