Por Gonçalo Fernandes, CEO Kodawari
Luxo sempre foi uma palavra complicada de definir.
Na hotelaria e durante décadas, o luxo foi sinónimo de opulência: lustres de cristal, interiores dourados, halls de entrada com centenas de metros quadrados e pés direitos de metros de altura. A experiência de luxo consistia em “inundar” os hóspedes com uma panóplia de serviços, mais ou menos exclusivos, mais ou menos originais, mas todos eles com uma característica comum, todos a ser pagos pelo hóspede a partir do momento em que faz a reserva, quer os valorizasse ou não. Também por isso e erradamente, luxo sempre foi ligado ao valor material de algo. Passar as férias num hotel que custa 500 euros por noite era um luxo, já passar num hotel de 80 euros por noite, era apenas uma estadia…Mas a percepção do luxo mudou.
Cada vez mais viajantes procuram não apenas o conforto material, mas também experiências únicas que alimentem o corpo, a mente e a alma. E aqueles que procuram o conforto material são bastante mais concretos na sua escolha, procurando sítios em que o “seu” luxo exista e não apenas a definição de outros do que o luxo é. Para alguns, luxo é a parte gastronómica da viagem, mas essa está tipicamente fora do hotel, nas cidades que visitam. Para outros é a localização, o design ou o facto de ter alguma temática que apreciem, para outros ainda será o tamanho da cama ou o banho perfeito.
Independentemente da interpretação, cada vez mais, a nova percepção de luxo está ligada à personalização da experiência, da curadoria.
Independentemente da interpretação, cada vez mais, a nova percepção de luxo está ligada à personalização da experiência, da curadoria. Não basta oferecer uma garrafa de champanhe à chegada. Os hóspedes esperam serviços adaptados às suas preferências individuais: desde almofadas com densidade diferentes que melhor se adaptem ao seu sono, a experiências locais cuidadosamente planeadas. E para que a curadoria seja bem feita, não se pode “cair” sempre nas experiências standards, essas qualquer turista encontra ao passear no local escolhido, mas sim outras, que surpreendam, diferenciem e criem memórias. Experiências que façam sentir algo e não dar apenas um check nos pontos turísticos e tirar uma fotografia igual a todas as outras.
Isto significa hotéis que se integram no ambiente local, que valorizam materiais e experiências locais e que promovem um impacto positivo na comunidade envolvente.
A autenticidade também é uma das facetas do novo luxo. Os hóspedes não querem mais uma experiência pasteurizada que poderia acontecer em qualquer parte do mundo ou comer pratos tradicionais locais em versões “desconstruídas”, em bistros ou restaurantes com estrela Michelin. Querem algo genuíno, que os conecte à cultura e ao lugar que estão a visitar. Isto significa hotéis que se integram no ambiente local, que valorizam materiais e experiências locais e que promovem um impacto positivo na comunidade envolvente.
Outro aspecto fundamental do novo luxo é a atenção ao bem-estar. A qualidade do sono, por exemplo, tornou-se uma prioridade central. Camas premium, lençóis de algodão egípcio, cobertores “pesados”, combinam-se com tecnologias que asseguram ambientes silenciosos e escurecimento perfeito dos quartos. Afinal, se não descansarmos e nos renovarmos, como é que vamos ter energia para visitar e desfrutar de tudo o que o destino tem para oferecer?
A sustentabilidade é agora parte integrante do conceito de luxo, um luxo responsável.
Ao redefinir o luxo, a hotelaria também está a responder às novas exigências ambientais. A sustentabilidade é agora parte integrante do conceito de luxo, um luxo responsável. Os viajantes esperam que os hotéis utilizem energias renováveis, reduzam o desperdício e adoptem práticas ecológicas, na sua actividade directamente e indirectamente, ao escolher e vetar os parceiros com quem trabalham. Oferecer uma experiência luxuosa não pode, em 2025, estar dissociado de um compromisso real com o planeta.
Esta nova definição de luxo representa um desafio para a hotelaria tradicional, mas também uma oportunidade.
Esta nova definição de luxo representa um desafio para a hotelaria tradicional, mas também uma oportunidade. Há um apelo crescente por experiências que combinem simplicidade, elegância e substância. Menos é mais: menos ostentação, mais cuidado; menos quantidade, mais qualidade. Na era do luxo redefinido, o que importa não é o brilho superficial, mas sim o impacto duradouro que uma estadia pode ter na memória e no coração dos hóspedes.
Numa época em que tanto tempo é passado em frente a um ecrã, seja de um laptop, smartphone ou televisão, um dos principais luxos é criar memórias reais, não de um reels ou de um story, mas da vida real, de paisagens, das cores, dos cheiros, dos sabores. É poder dizer-se, ao chegar a casa, que riscámos aquele sítio da nossa “bucket list”, não porque tirámos uma foto mas sim porque ficámos realmente a conhecer o local, a cultura, a gastronomia, porque regressámos com mais mundo e mais ricos do que antes de irmos. Afinal, luxo é sentir que o mundo foi desenhado à nossa medida e que quem nos recebe o faz como gostaria de ser recebido, com autenticidade, respeito e, sempre com um toque de magia.