Opinião – “Missão coletiva: um País que valoriza os Trabalhadores”

Por Ana Mendes Godinho, Ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social*

Foi durante a recente visita a Portugal, que o Comissário Europeu para o Emprego e dos Direitos Sociais – o meu querido Amigo e sempre inspirador Nicolas Schmit – testemunhou, no terreno, como o investimento nas qualificações pode mesmo ser transformador de vidas.

Estávamos num evento de apresentação do Programa UPskill e ouvimos depoimentos de quem reencontrou o futuro e quis ali partilhar histórias de sucesso.

Um momento inesquecível, que nos fez sentir que estamos no caminho certo.

O Programa UPskill procura a requalificação de desempregados ou trabalhadores em situação de subemprego e começou por abranger as várias áreas das Tecnologias de Informação e Comunicação. Porque eram estas as necessidades efetivas de talento, em muitos casos críticas, identificadas pelas empresas.

O que houve aqui de diferenciador foi, precisamente, uma parceria entre o IEFP, a Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações e instituições de Ensino Superior, a partir da qual se construiu um projeto com o objetivo de ligar o mercado de trabalho às Pessoas, no caso concreto na área das competências digitais.

Esta iniciativa tornou-se tanto mais relevante quanto desafiante foi o contexto em que a lançámos: em março de 2020, em pleno início da pandemia. Foi um enorme risco assumido por todos e que agora mostra que valeu a pena.

A verdade é que, passados três anos, este é um dos programas como maior sucesso em termos de adesão de empresas e de integração de trabalhadores.

O modelo desta parceria assenta numa palavra: compromisso.

Compromisso das organizações de formação que desenham os cursos à medida das necessidades das empresas.

Compromisso das Pessoas que, durante 9 meses, se dedicam a uma qualificação.

Compromisso das empresas que assumem a contratação permanente destes Trabalhadores que têm aproveitamento, com um salário que os valoriza, definido no início do processo.

No caso do Turismo, este compromisso é essencial e determinante.

Foi a atividade que mais Trabalhadores perdeu durante a pandemia.

Neste momento, a recuperação do Turismo voltou a posicionar Portugal em níveis superiores aos de 2019, que tinha sido o nosso melhor ano de sempre.

Isso reflete-se também no emprego, tendo em 2022 sido criados mais 40 mil postos de trabalho no Turismo face a 2021, mas ainda longe do número de Trabalhadores em 2019.

Com o desemprego em níveis historicamente baixos e o emprego registado a bater recordes, é evidente o repto coletivo de conseguir atrair e fixar Pessoas em Portugal e, por maioria de razão, no Turismo.

Isto só se consegue com compromisso de todos.

E, sobretudo, com a valorização dos Trabalhadores.

O Turismo precisa de Trabalhadores, mas cada vez mais o mundo do trabalho é aberto e global e as Pessoas decidem as suas opções em função da forma como são valorizadas.

O Turismo precisa de Trabalhadores, mas cada vez mais o mundo do trabalho é aberto e global e as Pessoas decidem as suas opções em função da forma como são valorizadas.

E sabemos todos como a pandemia mudou também as motivações dos trabalhadores, que hoje são diferentes e mais exigentes.

Da parte do Governo, a atração e retenção de Pessoas e de Talento tem constituído sempre uma prioridade.

Seja durante a pandemia, com o apoio extraordinário e massivo à manutenção de postos de trabalho.

Seja com o investimento estrutural que temos assumido para criar condições para atrair e fixar Pessoas:

  • Com a criação da gratuitidade das creches.
  • Com a simplificação dos processos de vistos.
  • Com o acordo de livre circulação nos países da CPLP.
  • Com a criação dos vistos para nómadas digitais.
  • Com o acordo de valorização dos salários, rendimentos e produtividade celebrado com os Parceiros Sociais.
  • Com a Agenda do Trabalho Digno, que aposta na qualidade das relações laborais, na inclusão e na conciliação da vida pessoal e profissional como fator crítico de atração de jovens.

Todos sabemos que o Turismo vive de Pessoas.

E isto exige de todos nós um compromisso coletivo para garantir que conseguimos um crescimento inclusivo.

Portugal tem de se afirmar também como País para viver e trabalhar.

O setor do Turismo pode e deve liderar este novo tempo.

Porque é mesmo condição crítica do nosso futuro coletivo.

*Este artigo foi publicado na edição 343 da Ambitur.