Opinião: “Mobilidade e Turismo na Região de Lisboa”

Por Jorge Humberto, diretor Departamento Operacional ERT-RL

A visão da Entidade Regional de Turismo da Região de Lisboa relativamente ao nosso desenvolvimento turístico percorre todo o Plano Estratégico para o Turismo da Região de Lisboa, elaborado em 2014, e com um horizonte temporal em 2019.

Essa visão tem uma âncora: a cidade de Lisboa. E um objetivo: apresentar toda a Região e a sua diversidade de ofertas e de recursos como possíveis experiências a quem nos visita.

A cidade de Lisboa é o nosso hub turístico. Ser o melhor destino de cidade do mundo e o melhor destino de city break do mundo, tudo em 2018, e nos World Travel Awards, tem consequências.

E essas consequências são a enorme notoriedade e o evidente reconhecimento da cidade de Lisboa como destino turístico. Este reconhecimento é também, em simultâneo, um ponto de partida.

Um ponto de partida para o conhecimento da região e não apenas da cidade.

E é isso que tem acontecido. Destinos como Sintra, Cascais, Mafra, Setúbal, Almada e Oeiras têm crescido acentuadamente.

Outros destinos começam a afirmar-se e a apresentar uma densidade de ofertas e de experiências até há pouco tempo não imagináveis. Sesimbra, Montijo, Seixal, Amadora, Loures, Palmela, Vila Franca de Xira e Alcochete têm já um lugar no turismo da região.

Um número que quase tudo explica é o crescimento médio anual do número de hóspedes, entre 2005 e 2017 (um longo período temporal) que foi na região de 11,6% e na cidade de 17,3%. Dois crescimentos que se induzem e se complementam. Crescer tanto e durante tanto tempo só é possível com o valor turística da Região de Lisboa como um todo.

O futuro, talvez não com crescimentos tão espetaculares, o que aliás nunca poderia acontecer para sempre, irá consolidar esta realidade. Uma realidade que considera e inclui a afirmação dos territórios menos desenvolvidos da região.

As intenções de investimento já divulgadas e a decisão quanto a uma nova estrutura aeroportuária na região de Lisboa consolidarão certamente esta tendência.

Fator decisivo para a construção deste futuro é a mobilidade. Apenas a mobilidade poderá permitir não apenas que seja fácil um turista ir de Lisboa a um destino X ou regressar a Lisboa de um destino Y mas, igualmente, ligar esses dois destinos.

Este desafio é o desafio da nossa atual rede de transportes públicos. Hoje já acontecem, com relativa frequência, e a partir de Lisboa, visitas a Sintra, Cascais, Cacilhas ou Ericeira. Mas precisamos de mais. Mais ligações, mais frequências, mais interligação e conexão entre os vários sistemas de transporte.

Uma região como a região de Lisboa permite visitas, com perfis muito distintos, tratando-se de deslocações de autocarro, elétrico, metro, comboio ou barco. Quando conseguirmos esta conexão entre estes diferentes meios de transporte e ainda tivermos em atenção a informação, a sinalização e a bilhética, então a mobilidade será uma realidade mais presente. E mais presente para os cidadãos mas também, e é esse o nosso tema, para os visitantes e os turistas.

Com mais mobilidade a região, e os seus territórios com menor maturidade turística, serão um foco e um destino mais evidente, em particular, nas segundas e terceira visitas.

A Área Metropolitana de Lisboa tem em desenvolvimento um ambicioso plano de modernização da rede de transportes na região de Lisboa. Os operadores, públicos e privados, são chamados a participar nesta mudança verdadeiramente estrutural na mobilidade da região.

O setor do turismo, por sua vez, também desenvolve iniciativas complementares a esta mudança essencial.
Por exemplo na ampliação muito relevante do alcance territorial do Lisboa Card (com cerca de 300.000 cartões vendidos em 2018). Que a partir de abril de 2019 integrará a rede Fertagus e um conjunto expressivo de visitas a conteúdos turísticos de territórios como Vila Franca de Xira, Loures, Palmela, Sesimbra ou Setúbal.

Em síntese temos como desafio, no curto prazo, a adequação da rede de transportes públicos a mais e novos públicos (turistas) e, em simultâneo, a novos destinos/áreas de atração turística na AML.

Maior mobilidade tornará a região e os seus diversos territórios mais próximos. Permitirá visitar mais em menos tempo. Tornar acessível o que antes era inacessível e possível de visita o que estava fora dos habituais programas de viagem.

A integração entre as ofertas da cidade e da região tornar-se-ão, progressivamente, uma realidade mais presente. Este ampliar de ofertas pode ainda, complementarmente, aumentar relativamente a estada média (um objetivo sempre muito difícil num destino de cidade), fazer crescer as segundas viagens à região e, finalmente, ampliar a abrangência e a diversidade das nossas ofertas como destino.

Cidade e região partilham assim um futuro comum como destino turístico.