Opinião: “Novos desafios, os mesmos problemas – A profissão em turismo”

Por Antónia Correia, presidente da Direção do Laboratório Colaborativo KIPT*

O mercado de trabalho atual no turismo não é particularmente promissor. Baixas expectativas de carreira, a discrepância entre o trabalho e a escola, as dificuldades de conciliar o trabalho e a família são alguns dos desafios que já existiam mas que hoje, por força de tanto falarmos deles, tornaram-se barreiras aparentemente intransponíveis num país que, sendo centrado no turismo, precisa de pessoas, para não arriscar perder os pergaminhos de melhor destino do mundo.

Estudos que remontam a 1981 mostram que o conflito latente entre a escola e o trabalho leva a que mais de 30% dos alunos a frequentar cursos de turismo desistam de trabalhar no setor mesmo antes da sua graduação.

A expetativa de carreira é, também, um assunto com investigação consolidada desde a década de 90. Ainda assim, o problema persiste. Preconceito social e convicções, que poderiam muito bem ser generalizadas para qualquer profissão (horários de trabalho e remunerações baixas), alimentam a falta de notoriedade da profissão em turismo.

Nos anos 2000 enceta-se a discussão da impossibilidade de conciliar família e trabalho em turismo, pelo modelo funcional que exige funcionamento permanente (24x24horas). Provou-se que este conflito contribui para a rotatividade e compromete o desempenho e a eficiência, no turismo e noutros setores de atividade talvez socialmente mais nobres, mas não menos exigentes em termos funcionais.

Estes e outros problemas fazem parte da agenda de investigação/ação do primeiro laboratório colaborativo em turismo – KIPT (Knowlegde to Innovate Professions in Tourism), que se propõe contribuir para um mercado de trabalho valorizado, gratificante, inclusivo e conciliador num setor do turismo sustentável e resiliente, em estreita colaboração com 20 entidades associadas.

Não pretendemos persistir numa discussão intemporal inconsequente, queremos sim integrar e motivar alunos e profissionais para uma valorização por competências realista, onde a aproximação entre escola e trabalho é inevitável. Queremos devolver à profissão em turismo o estatuto social que merece, a partir de modelos de desenvolvimento profissional onde salários e horários fazem parte da equação. Queremos promover um diálogo permanente e colaborativo, num ecossistema onde a transferência de conhecimento é o mote.

Porque atitudes são fundamentais, o KIPT já está a trabalhar e em breve anunciará um conjunto de propostas de ação que podem muito bem ser transversais a outros setores de atividade menos falados, mas com as mesmas maleitas.

*Este artigo foi publicado na edição 343 da Ambitur.