Por Rodrigo Borges de Freitas, diretor geral de Operações da Vila Petra
Os resultados e reconhecimentos de sempre, ainda que excelentes, apenas nos permitem ser o que sempre fomos, ao ponto de já ninguém se surpreender com os resultados alcançado pelo Turismo. Que fique claro que, o que não depende de ações políticas estratégicas nem de uma visão de futuro e se festeja, é a mais triste forma de acabar com os sonhos turísticos de uma região. Ainda que, com planos de ação e de marketing extensos e bem falados, alicerçados em conquistas regulares e óbvias, deixarão de aportar valor e apenas servirão para manter, como está a marca Algarve.
É na diversidade regional que se conquista uma cultura de excelência, de sucesso, se conquistam mais mercados, se promovem legados locais, se conquistam novos produtos de qualidade e se potencia o futuro de um destino turístico. Esta contínua permanência à sombra do que já é garantido que nos cega a busca criativa de novas oportunidades é o caminho oposto, que garante o sucesso da marca Algarve. Marca que tem exigido pouco a quem muito lhe deve dar.
Sonhar o Algarve não é um mero processo de identificação de pontos fortes nem muito menos de oportunidades, o Algarve deve sim surpreender pela capacidade de criar um sonho, um projeto pioneiro de modernização
Sonhar o Algarve não é um mero processo de identificação de pontos fortes nem muito menos de oportunidades, o Algarve deve sim surpreender pela capacidade de criar um sonho, um projeto pioneiro de modernização, através de políticas disruptivas, que garanta qualidade de vida à sociedade no geral. É essencial investir porque o retorno neste destino privilegiado é sempre garantido.
Reinventar o Algarve, com ausência de dinâmica nos mecanismos centrais de regulação, encravados pela “partidarite aguda” que vai invadindo as Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regionais (CCDR), se vai instalando nas Associações de Municípios e Entidades Reguladoras do Turismo (RT’s), torna-se no mínimo complexo! Por isso, cada vez mais são essenciais os projetos de iniciativa privada e que possam através do PRR, Portugal 2030 etc., dar um “Boost” ao Turismo, porque o setor público não nos garantiu, nem está a garantir e teima em não garantir uma visão de futuro consolidada e sustentada para o setor.
cada vez mais são essenciais os projetos de iniciativa privada e que possam através do PRR, Portugal 2030 etc., dar um “Boost” ao Turismo, porque o setor público não nos garantiu, nem está a garantir e teima em não garantir uma visão de futuro consolidada e sustentada para o setor
É este abuso da “(in)competência” selecionada e da falta de coragem para tomar decisões imparciais que teima em deixar sonhos por concretizar em Portugal, Aeroportos, Portos de Cruzeiros, Mobilidade, Saúde, Habitação, Modernização Tenológica, Gestão Hídrica, Eficiência Energética, Coesão Territorial, Igualdade de Oportunidades e Justiça, mas claro tudo isto por falta de dinheiro (a desculpa mais usada em Portugal pelos organismos que tutelam o setor)
Como pode, em 2025, não existir uma ligação ferroviária a atravessar a ria formosa, efetuada por comboios panorâmicos desde o Aeroporto de Faro ao centro da capital do Algarve para assim potenciar a frágil economia Farense, (no limite) são 9,5 milhões de turistas/ano que potencialmente podem ir ao comércio local de Faro, mesmo que fosse por 1hora? Só pode ser incapacidade executiva, porque não é seguramente por falta de carris, nem muito menos por falta de quem sonhe este projeto! Foram sucessivos governos a abandonar durante anos a economia local com um impacto social incalculável. É apenas um exemplo, mas o atraso nas soluções/decisões para responder aos dramáticos problemas de mobilidade na principal região turística do país corresponde a um falhanço político e acarreta um atraso de décadas face a outros destinos. A aposta na mobilidade é um sinal de progresso, portanto é imperativa a exploração de ferramentas tecnológicas que confiram modernização, que permitam flexibilidade, mobilidade e facilidade de desburocratizar processos para que a personalização de serviços seja cada vez mais completa e homogénea para todos.
A aposta na mobilidade é um sinal de progresso, portanto é imperativa a exploração de ferramentas tecnológicas que confiram modernização, que permitam flexibilidade, mobilidade e facilidade de desburocratizar processos para que a personalização de serviços seja cada vez mais completa e homogénea para todos
É que já ninguém entende a razão para esta asfixia crónica das economias regionais, sobretudo em zonas turísticas de sucesso. Esta perceção levanta questões lógicas que, pelos vistos, está a obrigar a um investimento em campanhas internas ao estilo “Eu conto com o Turismo”. Talvez sejam, estas campanhas, o assumir de vários anos de falhanços políticos no setor do Turismo. Em 2025 dizer-se que “O Turismo é tão bom quanto melhor for para as pessoas” é entrar em looping com o que foi dito em 1990, 2000, 2010 e 2024. Sabemos isto desde sempre, mas os de sempre dizem como sempre, o mesmo de sempre na esperança, que algo por artes mágicas, tenha um resultado diferente de o de sempre.
Um dos nossos senadores do Turismo em Portugal, Vítor Neto, que dispensa apresentações, disse e diz sempre, do alto da sua assertividade “Já não bastam palavras e sorrisos e limitarem-se a ir empurrando os problemas com a barriga. Impõe-se dar atenção ao que é importante e prioritário. E agir”.
Agir! Sei que sabem, aliás sabemos todos mas tem-se mostrado é que são muitas palestras, congressos, convenções, seminários, fóruns, mas falta ação!
O Secretário de Estado do Turismo Pedro Machado, um farol para o turismo, que congratulo, assume e bem que “é um grande desafio para todo o país perceber que pode contar com o turismo, para crescer e se desenvolver e mais do que isso, para ser um país mais justo, mais moderno, mais contemporâneo e, seguramente, mais competitivo”. Vamos a isso! mas ressalvo, com os mesmos de sempre apenas garantimos os resultados de sempre.
Mesmo sem uma visão global concreta e usando palavras do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa “O turismo é explosivo no seu crescimento em Portugal”. É de facto explosivo, agora imaginemos como teria sido se durante 20 anos os planos de marketing, para além da melhoria substancial no seu design e apresentação, tivessem sido bem executados. Previmos que o turismo, tal como está hoje, poderia vir a ser um problema e ser usado contra ele próprio, pois hoje nascem, vá se lá saber porquê, conceitos depreciativos para o turismo como Gentrificação”, “Turistificação” e “Overtourism”.
Garantir (hoje) que o turismo consegue desempenhar um papel fundamental na promoção do desenvolvimento da sociedade com impactos reais na economia e na sociedade que modernize a nossa vida que nos dê segurança, sustentabilidade ambiental, que promova da coesão territorial e nos confira felicidade, é emergente.
Já Hélder Martins, o nosso barómetro do Turismo do Algarve e presidente da AHETA, questiona muitas vezes “De que vale dentro das nossas paredes (empresas) tudo fazermos para dar valor ao produto, quando lá fora há uma volubilidade estratégica e uma ausência de visão consistente, pasme-se comum, em que 16 quintais (municípios do Algarve) são geridos de forma desintegrada, sem estratégia e sem consistência promovendo cada vez mais a desigualdade na nossa região e gerando até confusão a quem nos visita?”. Para além de tudo isto, ainda há quem se sinta confortável com o despedimento sazonal e com a precariedade contratual no setor do turismo. Em 2025 quem se sente confortável com o cancelamento da vida das famílias de forma sazonal e cíclica no Algarve, garantidamente não nos confere grande futuro. A sazonalidade não pode ser uma inevitabilidade, porque quem decide viver e trabalhar no Algarve merece um futuro digno e respeito. Se necessário o Estado tem de agir até porque as famílias residentes no Algarve estão cada vez mais estigmatizadas e envergonhadas por terem de recorrer ao setor social português, público ou privado (setor muito sobrecarregado) na missão de dar conforto a quem o turismo (não só mas também) deixa ao abandono ciclicamente à conta da sazonalidade.
Então a que futuro nos conduziu o Turismo?
O índice de pobreza no Algarve foi em 2024 dos mais altos no território continental, a taxa de abandono escolar é também das mais altas em território nacional e a taxa de ingresso no ensino superior é igualmente das mais baixas de Portugal?
Menos igualdade oportunidades para os jovens e as famílias que residem no Algarve a sentirem na pele privação material e social severa.
Em conclusão, são hoje os filhos do Turismo que, fruto da ausência física dos seus pais, da ausência da capacidade do turismo em agregar valor às suas vidas familiares, da ausência de estabilidade social, da ausência de um presente mais digno e de um frustrar dos seus sonhos familiares que já não querem viver neste e para este setor!
“Importem-se” agora pessoas, do e para o Turismo!
O Algarve merece muito melhor Turismo e Futuro.