Opinião: “O poder de um filme”

Por Alexandre Marto Pereira, Fátima Hotels Group

É sempre um prazer receber um dos clientes mais antigos do Hotel Estrela de Fátima. Inglês nascido em Bombaim, visita Fátima anualmente. Hoje tem mais de 90 anos. Tinha participado em criança, ainda a India era parte do Império Britânico, numa peça teatral sobre Fátima na escola católica local. Desde esse momento prometeu que viria a Portugal – veio em 1984, e nunca mais deixou de vir. Acontece que quando vem ao santuário, acompanhado pela larga família, não deixa nunca de viajar pelo resto do país, conhecendo em cada visita um novo canto que o encanta.

Falo deste hóspede a propósito do filme que irá estrear em 30 de Abril – “Fátima”, do realizador Marco Pontecorvo. O filme é uma das maiores produções cinematográficas internacionais de sempre em Portugal (na altura das filmagens anunciaram mais de 6 milhões de euros, na imensa maioria capital privado norte-americano), e teve um financiamento do Fundo de Apoio ao Turismo e ao Cinema (gerido pelo ICA e pelo Turismo de Portugal).

O filme será certamente alvo de críticas, boas e más; e muitos continuarão a ser toldados na sua análise por considerações ideológicas pessoais – a favor e contra.

Tive a oportunidade de o visionar. Não sendo um crítico de cinema, não irei tecer comentários sobre a qualidade do mesmo embora suspeite que aspetos como a fotografia venham a ser unanimemente aplaudidos. Não sendo teólogo ou mariologista não irei desenvolver opiniões sobre essas perspetivas particulares. Nem seria esta publicação palco para isso.

Mas importa aqui referir a importância que um filme desta dimensão terá no turismo em Portugal. O filme será estreado simultaneamente em 1.000 salas – e isto apenas nos Estados Unidos da América! Tem a participação de atores consagrados como Harvey Keitel, Sônia Braga, Joaquim de Almeida, Goran Visnjic ou Lúcia Moniz.

Depois do circuito mainstream (e poucos filmes com janela para Portugal alcançaram esse patamar) será visionado por muitos anos em dezenas de canais católicos televisivos (e não só) em todo o globo, e apresentado em milhares de escolas, grupos e igrejas católicas. Terá audiências de muitos milhões de pessoas.

Se uma peça de teatro infantil na Índia pode ter uma influência enorme nas decisões de viagem de um inglês, imagine agora o impacto que este filme poderá ter.

O filme é também uma janela sobre diversas partes do país. Foi filmado em locais como a Tapada de Mafra, Coimbra e Cidadelhe (um local que merece e precisa desta visibilidade). Uma janela que será aberta potencialmente pelos 1200 milhões de católicos em todo o mundo, mas também por simples cinéfilos, ateus curiosos, ou por alguém de qualquer fé que um dia encontre a obra durante um zapping na sua televisão.

O apoio financeiro direto nunca foi o tema mais importante, dados os fundos privados garantidos à partida. Mas recordo agora a intervenção que a Secretária de Estado do Turismo teve para criar o ambiente legal para captação deste tipo de produções (o filme esteve para ser gravado na Colômbia e em Itália, dadas as condições ali oferecidas).

Esteve bem, e é-lhe devida também aqui uma palavra de gratidão, pela visão que teve sobre o potencial de Fátima para o país. Seria bom que todos partilhassem, na perspetiva do turismo, da mesma visão.