Opinião: “O turismo presente e o do futuro”

Por Joana Sebastião, Consultora de Recrutamento e Seleção Especializado do Clan

Embora o debate deva ser permanente e constantemente atualizado, o Dia Mundial do Turismo é sempre uma boa ocasião para refletirmos sobre o caminho que queremos seguir enquanto país que se tornou numa referência turística.

Embora Portugal tenha pontos de grande atração turística em todo o território, Lisboa e Porto são, hoje, destinos de enorme projeção internacional que continuam a somar recordes de visitantes. Este crescimento trouxe uma notoriedade e um dinamismo económico que alavancam o crescimento e desenvolvimento destas cidades. Mas trouxe também desafios que não podemos ignorar, como a massificação da oferta ou uma desajustada pressão sobre o espaço e equipamentos urbanos.

A perda de autenticidade em alguns lugares emblemáticos é também uma consequência que não pode ser desvalorizada. Quem percorre os bairros históricos do Porto ou de Lisboa percebe rapidamente os sinais da massificação: ruas sobrelotadas, comércio tradicional substituído por lojas direcionadas para turismo e habitação a preços cada vez mais inacessíveis que retira dos bairros os habitantes que lhes dão atração. Estes fenómenos são o reflexo de um crescimento acelerado que, se por um lado trouxe oportunidades, por outro, gerou transformações que levantam questões sobre o equilíbrio entre os visitantes e as comunidades locais.

Diversificar a oferta, valorizar territórios menos conhecidos e distribuir os fluxos turísticos, são passos fundamentais para garantir que o setor continua a gerar riqueza sem comprometer a qualidade de vida de quem reside nos destinos mais procurados.

É por isso que falar de turismo sustentável se tornou numa necessidade premente.

Diversificar a oferta, valorizar territórios menos conhecidos e distribuir os fluxos turísticos, são passos fundamentais para garantir que o setor continua a gerar riqueza sem comprometer a qualidade de vida de quem reside nos destinos mais procurados.

Não será por acaso que alguns municípios do interior investem na promoção do seu património cultural. São exemplos de que é possível atrair visitantes sem cair na lógica da concentração excessiva, dando visibilidade a outras formas de conhecer Portugal.

O facto é que a fuga à agitação urbana permite transformar uma estadia – mais do que uma simples pernoita – num momento de reconexão e um modo de viver o destino com outro ritmo. É esse o verdadeiro valor acrescentado para quem não procura apenas visitar, mas experienciar.

Também o setor hoteleiro começa a dar sinais de mudança, com alguns grupos a apostar em unidades fora dos grandes centros. Apesar dos desafios logísticos que estas opções podem representar, oferecem algo diferente: experiências mais calmas, próximas da natureza e que preconizam o retiro que o verdadeiro turismo deve ser. O
facto é que a fuga à agitação urbana permite transformar uma estadia – mais do que uma simples pernoita – num momento de reconexão e um modo de viver o destino com outro ritmo. É esse o verdadeiro valor acrescentado para quem não procura apenas visitar, mas experienciar.

O turismo, no fundo, é feito de encontros: entre culturas, modos de vida e pessoas.

Perde sentido quando é visto apenas através do número de chegadas ou de sucessivos recordes de estadias. Se perdermos de vista esta dimensão humana e cultural, arriscamo-nos a transformar aquilo que temos de mais genuíno num produto massificado e sem identidade.

Neste Dia Mundial do Turismo, a reflexão é inevitável: queremos apenas números em crescimento, ou queremos um turismo que seja sustentável, equilibrado e verdadeiramente respeitador das comunidades que o acolhem? A resposta depende das escolhas que fazemos hoje e da capacidade de pensar este setor como algo mais do que um motor económico, mas como um espaço vivo, feito de pessoas, culturas e experiências que merecem ser preservadas.