Até há muito pouco tempo, o turismo rural no Algarve resumia-se a meia dúzia de casas adaptadas a esta realidade da oferta turística, a qual apenas tinha expressão nacional em zonas como o Alentejo ou o norte do país.Recordo, aquando da minha passagem pela Região de Turismo do Algarve, em que promovi uma reunião com os empresários desta área, que as presenças reuniam poucos empresários. Hoje, porém, a realidade é completamente diferente.
Acredito que, por um lado, o Algarve percebeu que tinha de diversificar a atividade turística, criando complementos ao modelo sol e praia mas, por outro lado, tem vindo a constatar-se que nem todos os turistas que nos visitam o fazem apenas pelo sol e pela praia. Penso também que a diversificação dos países de origem dos que escolhem o Algarve para férias contribuiu para esta mudança.
Assim, creio que hoje e no futuro próximo, as atividades do turismo em espaço rural se irão afirmando na atividade turística algarvia, contribuindo para mostrar o que é realmente este “cantinho à beira mar plantado”.
No entanto, não se iludam os que pensam que fazer um projeto de turismo em espaço rural é apenas pegar numa casa e alugá-la aos turistas O cliente que procura este modelo de turismo quer muito mais!
Este tipo de cliente procura autenticidade! Ninguém vem de férias para um qualquer recanto do Algarve em busca de uma oferta igual à que encontra no litoral, onde a organização das unidades, a decoração, o modelo do jardim são do mesmo género, normalmente embelezadas por palmeiras. Aqui, as plantas autóctones são a preferência, o jardim mediterrânico deverá ser a escolha e a decoração, mobiliário e equipamentos devem ser simples e adequados à zona. Quanto mais autêntico, mais apreciado será.
A simpatia deve ser outro fator de diferenciação. Aquilo que nos distingue como povo acolhedor deve estar sempre presente. Tão importante como podermos comunicar numa língua percetível pelos nossos clientes é a simpatia do nosso sorriso. Devemos, sempre que possível, integrá-los nas atividades envolventes à unidade hoteleira. É inacreditável a felicidade que o cliente sente em participar nas tarefas diárias como alimentar os animais, colaborar na rega da horta e/ou ajudar na preparação de uma refeição com os ingredientes colhidos momentos antes na propriedade. Mostrar, em especial às crianças, que os ovos não vêm do supermercado faz com que estes clientes jamais esqueçam a experiência vivida numa unidade de Turismo em Espaço Rural (TER).
Outra questão que julgo fundamental está relacionada com os objetivos. O turismo rural não é uma atividade virada para a quantidade, mas sim para a qualidade. Ou seja, que ninguém espere enriquecer só porque vai operar uma unidade de alojamento no TER. Os preços deverão ser adequados à qualidade da oferta e nunca esquecer que o segredo está na fidelização do cliente. Hoje, com a liberalização dos meios de transporte, o cliente está apenas a algumas horas de nós e, caso goste da unidade, sempre que tiver um “buraco” na sua agenda irá procurar-nos. É, portanto, necessário que nos foquemos nesta questão que é crucial no negócio.
No seguimento do parágrafo anterior, é necessário ter em consideração o rácio dos custos da operação pois, por vezes, embora isso se note mais no capítulo dos hotéis rurais, os custos e obrigações para ter a “porta aberta” são os mesmos que uma unidade hoteleira de cem ou duzentos quartos, no entanto, as receitas são muito diferentes.
Por tudo isto, e de uma forma resumida, penso que o Turismo Rural tem futuro no Algarve desde que seja baseado na autenticidade e qualidade do produto e na forma calorosa de receber! O cliente de hoje é muito criterioso na escolha do local onde vai passar férias que, por muito curtas que sejam, devem ser muito vividas e levar a experiência para casa.
E é o Turismo em Espaço Rural que mostra o Algarve autêntico e proporciona uma experiência rica e verdadeiramente enriquecedora!
Por Hélder Faria Martins, Diretor Geral do Hotel Rural Quinta do Marco