Opinião: “Turismo Urbano. Novos Desafios”

Por Cristina Siza Vieira

 

Os resultados consolidados da hotelaria de janeiro a outubro de 2015 (AHP-Tourism Monitors) revelam, a par dos indicadores de performance em alta, crescimento em todos os segmentos de mercado e destinos. O crescimento mais impressivo ocorre nas nossas duas principais cidades e o melhor segmento apontado pelos associados da AHP no ano de 2015 e para 2016 foi o “city/short breaks”. O crescimento de Lisboa, como sabemos, já se vinha afirmando há mais tempo e vem sendo progressivo, o Porto tem dado saltos verdadeiramente impressionantes.
O turismo urbano está on. Não apenas em Portugal, mas na Europa e no Mundo. Em 2014 foi o principal motivo de viagem dos europeus (ultrapassando as viagens de Sol e Mar) que realizaram quase 70 milhões de viagens de city breaks (quase 400 milhões de dormidas). Face a 2007, as viagens dos europeus a cidades cresceram 60% (TCMA de + de 7%) in World Travel Monitor, IPK 2015. No Top 10 das cidades visitadas pelos europeus as 9 primeiras são europeias (não há surpresas: como sabemos o turismo faz-se maioritariamente intra continentes) e a 10ª Nova Iorque. Este boom do turismo urbano resulta fundamentalmente da combinação de três variáveis: voos e alojamento baratos; novas atrações e atividades/novos destinos e a fusão de viagens de negócio/profissionais com o lazer, o bleisure.
É aqui que se colocam desafios muito interessantes para a nossa hotelaria: a traço grosso (muito mais haveria a dizer sobre este tópico) o perfil destes viajantes cai na faixa etária dos 25-44 anos, profissionais ativos, que tendem a fazer viagens curtas (sem tirarem dias de férias) e que pretendem aproveitar a viagem de negócios para conhecer um destino prolongando a viagem e gozando a vida local. Desafios como o planeamento e gestão dos espaços dentro dos hotéis, em razão dos usos e das áreas (quartos menores versus lobbys multi funcionais; bares, cafés e esplanadas abertos à cidade ou business centers? salas de reuniões?); desafios para as plataformas que apostam no “smart travel”; desafios para a promoção e marketing de um destino; apostar decisivamente numa oferta online e mobile integrada que ofereça desde pesquisas de informação, planeamento, reservas de alojamento, carro, excursões, permita convidar amigos, partilhar, comentar tudo fluido para os consumidores “on the go”.
E o boom do turismo urbano coloca a velha/nova questão da capacidade de carga das cidades…
Tão importante como as condições que oferecemos, é a visão estratégica que temos e portanto o desafio para os gestores e decisores públicos das cidades: olhem para o Turismo como uma prioridade, construindo em parceria e compromisso uma visão consistente e coerente que assuma uma gestão integral da oferta turística; suportando decisões com instrumentos de monitorização da performance turística da cidade e dos resultados económicos e sociais que o Turismo acarreta.

 

Este artigo de opinião foi publicado na Edição nº 286 da Revista Ambitur.