Por Gonçalo Teixeira, administrador da Vila Baleira Hotels & Resorts*
O turismo em Portugal tem apresentado um crescimento exponencial nas últimas décadas, consolidando-se, hoje, como um dos destinos mais procurados na Europa. A riqueza cultural, diversidade de paisagens e hospitalidade do povo português são, de facto, fatores determinantes, que têm vindo a contribuir fortemente para atrair visitantes de todo o mundo.
Apesar da mencionada tendência, o setor do turismo não se encontra isento de controvérsias e desafios. Este é, aliás, consideravelmente moldado pelos segundos.
Numa era marcada pelo digital, é construído todo um cenário de ritmo acentuado, onde nasce o novo consumidor, com cada vez maior poder negocial para escolher, comparar e comprar serviços. A sua exigência torna-se um desafio à sua satisfação, sobretudo quando confrontada com uma geração, por si, mais conectada, consciente e informada.
Com a pandemia do Covid-19, a capacidade de adaptação, disposição para inovação e esforço em superar expectativas tornaram-se os eixos de orientação das empresas do setor.
Se a digitalização e formação do novo consumidor se traduziu na adaptação do setor do turismo, também, numa visão retrospetiva, os últimos anos funcionaram como um estímulo à mudança. Com a pandemia do Covid-19, a capacidade de adaptação, disposição para inovação e esforço em superar expectativas tornaram-se os eixos de orientação das empresas do setor.
As restrições de viagens a nível internacional, em conjunto com os limites à circulação, afetaram as diversas atividades turísticas a nível mundial, levando a uma desaceleração significativa do setor no global, com o número de voos a cair drasticamente. De facto, a paragem das atividades deu origem direta a desafios múltiplos no turismo, que, como tal, se viu obrigado a reagir. Não só teve de existir um aprofundamento da tecnologia e canais digitais, como alterações concretas que refletissem, acima de tudo, elevados níveis de segurança, higiene e preocupação, culminando em novos modelos de negócio, infraestruturas aprimoradas e estratégias de marketing e comunicação revolucionárias.
Apesar de com origem negativa, os resultados do contexto vivenciado podem ser tomados como positivos. Os impactos da pandemia do Covid-19 trouxeram novas abordagens ao setor do turismo, com uma reflexão profunda, nomeadamente ao nível da sustentabilidade.
É de conhecimento geral que, com o crescimento acentuado dos movimentos turísticos, surgem preocupações relacionadas com o seu desenvolvimento sustentável, e, apesar da consciencialização de políticos, académicos e da sociedade em geral, poucos progressos haviam sido realizados no sentido de implementar o conceito de turismo sustentável na prática.
criaram-se condições de oportunidade para a adoção de práticas que se vertessem em níveis de sustentabilidade socialmente aceites, na tentativa de que esta solução contribuísse para o estímulo de movimentos turísticos e, como tal, para o renascimento da indústria
Ora, com o contexto pandémico a nível mundial, criaram-se condições de oportunidade para a adoção de práticas que se vertessem em níveis de sustentabilidade socialmente aceites, na tentativa de que esta solução contribuísse para o estímulo de movimentos turísticos e, como tal, para o renascimento da indústria.
A sociedade atual é tida como cada vez mais interessada pelo planeta e pela sua preservação, recusando-se a contribuir para práticas que contrariem esse interesse e, ao invés, dando prioridade a outras que o fomentem. Esta é a premissa que tem ganho força e que definirá as ações no turismo nos próximos anos.
Desde o check-in, à experiência propriamente dita, a personalização é transversal, e é requerida pelo cliente, que já não aceita outra coisa, se não aquilo que realmente prefere. Isto tem vindo, e continuará, a revolucionar as operações hoteleiras
Outros fatores reinarão no futuro. É de mencionar, nesta dimensão, os progressos sentidos ao nível da Inteligência Artificial. Desde o check-in, à experiência propriamente dita, a personalização é transversal, e é requerida pelo cliente, que já não aceita outra coisa, se não aquilo que realmente prefere. Isto tem vindo, e continuará, a revolucionar as operações hoteleiras, as quais se veem obrigadas a explorar e adotar ferramentas de Inteligência Artificial e Machine Learning, otimizando os serviços prestados aos seus hóspedes e, bem assim, formas de comunicação com os mesmos.
De facto, os últimos anos foram fundamentais no turismo em Portugal, com contextos e tendências sociais que estimularam o repensar de todo o negócio, desde as suas estratégias de ação, às infraestruturas em que atuam. A evolução é notável, e foi sentida a nível mundial, determinando um marco importante na indústria.
é imperativa a exploração de ferramentas e tecnologias que permitam a flexibilidade e facilidade de processos, ou a personalização completa de serviços
Apesar disto, é expectável que os próximos anos sejam igualmente determinantes, com novos e importantes desenvolvimentos a tomarem lugar e a alavancarem o setor. Num mundo cada vez mais digital, com uma sociedade cada vez mais conectada, é imperativa a exploração de ferramentas e tecnologias que permitam a flexibilidade e facilidade de processos, ou a personalização completa de serviços. Em paralelo com isto, é de notar a importância crescente que tem vindo a ser dada à sustentabilidade. O conceito de turismo sustentável tem ganho força e começa já a ser fator de escolha (ou de exclusão) para os clientes. O sucesso futuro de negócios no turismo dependerá, certamente, da sua adaptação ao contexto atual da sociedade, o que em grande parte se traduzirá na demonstração de níveis de sustentabilidade ambientalmente aceites, em políticas de preservação práticas e com resultados visíveis e, bem assim, na adoção de tecnologias que favoreçam a relação com o cliente e que o impactuem de uma forma singular.
*Este artigo foi publicado na edição 346 da Ambitur.