Opinião by João Luís Moita: E depois da crise?

Por João Luís Moita, CEO Citur*

Eu próprio muito gostaria de saber a resposta a esta pergunta, mas há algo que certamente irá acontecer depois desta crise que a todos nos afeta. O Mundo vai mudar!

Estamos face a uma crise Sanitária sem precedentes, e espero sinceramente que não se perca a capacidade de pensar solidariamente, de forma estruturada e de modo a que se assegure uma vida decente à maior parte da população.

Penso que esta crise provocada pelo Covid-19 arrisca-se a revolucionar radicalmente a nossa forma de estar, de pensar, de agir. Caso não passe rapidamente, vai confrontar a nossa sociedade com realidades que temos teimado ignorar, nomeadamente face às desigualdades crescentes e à erosão real do funcionamento do “estado social”. Temos vivido alegremente, todos embalados por uma publicidade consumista que tem escamoteado as desigualdades crescentes da nossa sociedade.

O problema não deverá residir no cansaço, que esta obrigatoriedade de encerrarmos empresas e de estarmos confinados às nossas residências gera, mas sim no desvendar das debilidades da organização politica, social e económica, que ultimamente se tem avolumado.

Temo que caso esta crise se prolongue por muito tempo, vamos cair na realidade… Apesar da nossa sociedade apresentar progressos, a nível tecnológico e outros relacionados com o bem-estar, tem perdido a capacidade de pensar solidariamente e de uma forma estruturada relativamente a uma parte muito significativa da nossa população.

Espero que o nosso SNS esteja à altura dos acontecimentos e que não só os que têm modelos/sistemas de saúde privados estejam a salvo, pois será necessário socorrer grande parte da nossa população. Espero também que esta crise sanitária não seja duradoura ao ponto de criar também uma crise Económica e Social sem precedentes.

O setor em que nasci, trabalho e sempre trabalhei com imensa alegria e paixão, infelizmente, encontra-se completamente parado e não sabemos por quanto tempo, teremos agora que contar com o apoio, mais do que nunca, daqueles que durante os últimos anos prosperaram e viveram à conta do que o aumento do Turismo e dos que nos visitaram gerou. Teremos que ser solidários, teremos que ser resilientes e teremos que nos mobilizar e ter um discurso positivo, pois, mais uma vez, resistiremos e vamos provavelmente voltar a ser o motor da débil economia do nosso País, assim que esta crise cesse. Espero que se consigam mobilizar vontades e apelo a um esforço inteligente no sentido de superarmos contradições, mesmo que sérias, e que não são agora, nem serão no futuro essenciais. Será urgente a criação de medidas para que tudo aquilo que de positivo fizemos nos últimos anos, não se desmorone com esta crise.

Na verdade, nada será como dantes e o que virá, vai depender muito da atitude pública de todos e essencialmente da capacidade que os nossos governantes tiverem para criar medidas de apoio efetivas e reais, no sentido de conseguir que a Economia não se desmorone por completo. Agora e mais do que nunca, necessitamos de um serviço público bem apetrechado, eficiente e socialmente abrangente, que seja capaz de assegurar a todos, e sem exceção, uma vida decente.

Espero que todos juntos consigamos regressar rapidamente à normalidade, que o futuro seja promissor e nos permita viver a vida!

* A opinião foi solicitada por Ambitur.pt no âmbito de um conjunto de artigos que estamos a elaborar com empresários e responsáveis do setor sobre a atual situação que o país/mundo vice no âmbito do Covid-19.