Budapeste, capital da Hungria, é o destino perfeito para uma escapada em qualquer altura do ano, e três ou quatro dias são suficientes para conhecer o melhor da cidade das 11 pontes, e aguçar o apetite para poder voltar mais tarde. Foi o que a Ambitur fez, no final de novembro, a convite do Grupo Hotusa. Instalados no majestoso Aurea Ana Palace, localizado no lado Peste, sobre o qual falaremos noutra publicação, explorámos as duas margens que o rio Danúbio teimou em separar durante muitos anos mas que hoje estão mais unidas do que nunca, completando-se para uma experiência de história, cultura e gastronomia que não é indiferente a ninguém.
Ocupando as duas margens do rio Danúbio, Budapeste tem uma história de vida muito antiga, remontando aos tempos romanos. Aquela que é hoje conhecida como a “Pérola do Danúbio”, atrai milhões de visitantes todos os anos que rapidamente se deixam conquistar pelas paisagens de edifícios históricos e monumentais, exemplarmente requalificados e de uma beleza incontornável, bem como pela sua gastronomia rica onde não faltam guisados, especiarias (e aqui a famosa paprika é dominante) e alguns doces tradicionais. Atualmente, os turistas passeiam-se entre Buda e Peste, podendo facilmente atravessar qualquer uma das 11 pontes que unem esta cidade que, em outros tempos, se deixava separar pelo clima invernoso que congelava as águas do rio.
Tudo começou por Obuda, a cidade mais antiga de Budapeste, que esteve ocupada por tribos celtas até à conquista dos romanos. Estes apelidaram-na de Aquincum, uma homenagem às águas termais que ainda hoje dão fama à capital húngara. E é com os romanos que nasce Buda, no ano 14 a.C.. Mas a história não foi dócil a esta região, que passou por várias invasões, domínios e revoluções. Buda tornou-se capital do país em 1361, uma época de desenvolvimento que chegou ao seu auge no século XV, com o imperador Matias Corvino. Depois disso, os turcos ainda exerceram poder até 1686, quando os Habsburgo passaram a dominar, trazendo riqueza para a cidade, bem como a construção de muitas igrejas e edifícios públicos. Mas a verdadeira era dourada da cidade, e da nação, iniciou-se com o Império austro-húngaro, em 1867, altura em que o lado Peste passou a ser o mais povoado, e local de concentração industrial.
A primeira ponte a unir as duas margens do Danúbio nasceu em 1849 e é hoje conhecida como a Ponte das Correntes, ou Ponte Széchenyi Lánchíd, em homenagem ao seu criador, o conde István Széchenyi. A história voltou a não ser “amiga” de Budapeste com a Segunda Guerra Mundial a destruir uma parte substancial da cidade mas esta soube reerguer-se e voltar a brilhar no panorama europeu, reconstruindo o que hoje ainda podemos explorar numa viagem a este destino. Aliás, a Ponte das Correntes, sem dúvida a mais bela de Budapeste, que hoje podemos atravessar não é a mesma, mas sim uma reconstrução inaugurada 100 anos depois da original. Mas nem por isso deixa de ser menos bonita e de criar cenários que nos pedem para ficar eternizados numa fotografia ou vídeo. Á entrada de cada um dos lados da ponte, veem-se dois enormes leões que, ao saírem de Peste em direção a Buda, aparentam uma fisionomia mais séria e grave, e na direção inversa, dirigindo-nos para Peste, vindos de Buda, se apresentam com uma imagem mais amigável.
Nesta primeira reportagem, concentramo-nos pois no lado Buda e, claro, no Distrito do Castelo, onde é possível passar um dia de muita história e cultura. Para ali chegar, pode optar por subir as escadas ao lado da Ponte das Correntes ou então a ladeira à esquerda do funicular; se preferir, pode mesmo escolher o Funicular Budavári Sikló, que existe desde 1870.
Uma vez no topo, e embora a vista monumental seja grandiosa “a olhos vistos”, não deixe de pensar no que está por baixo da superfície: uma complexa rede de túneis e cavernas, que remontam à era medieval, e que serviram, ao longo dos tempos, como meio de fuga ou de abrigo em tempos de guerra. A exploração destes espaços apenas se iniciou em 1930, e hoje alguns túneis estão mesmo abertos ao público, mas são ainda muitos os segredos que continuam por descobrir.
A primeira fortaleza a nascer neste bairro foi mandada erguer pelo Rei da Hungria no século 13 mas muitas mudanças se seguiram. O Rei Matias I transformou-a no primeiro palácio real de estilo italiano renascentista da Europa, dotando-o de uma vida intelectual muito rica, ao receber os melhores cientistas e artistas europeus, bem como também da Biblioteca Corvina. Mas a invasão otomana do século XVI trouxe a sua destruição quase total. A verdade é que a dinastia Habsburgo que se seguiu nunca usou o edifício como residência real mas Maria Teresa da Áustria mandou recuperar o palácio para receber a Universidade de Nagyszombat. O que hoje podemos ver do complexo do Castelo de Buda ficou concluído em 1904, sob o domínio de Francisco José I que, apesar de nunca ali ter vivido com a sua carismática esposa, Sissi, Imperatriz da Áustria e Rainha da Hungria, o visitava com bastante frequência. O bonito palácio neobarroco ainda sofreu danos na Segunda Guerra Mundial e somente em 1980 voltou a estar recuperado, com a UNESCO a declará-lo Património da Humanidade em 1987. Atualmente, o Castelo acolhe a Galeria Nacional da Hungria, o Museu de História de Budapeste e a Biblioteca Nacional Széchényi.
Bem no coração do Distrito do Castelo avançamos para a Igreja de Matias, cujo nome oficial é Igreja de Nossa Senhora, a igreja católica mais famosa de Budapeste. Nela podem detetar-se vários estilos, desde o inicial romano, passando depois por uma segunda fase gótica e assumindo ainda um estilo renascentista numa terceira etapa de ampliação. A verdade é que, quando Matias morreu, e como não tinha filhos ou sucessores diretos, os otomanos ocuparam este espaço e usaram a igreja como mesquita, renovando todo o interior e cortando a cabeça às estátuas, pintando tudo de branco. E assim foi durante aproximadamente 200 anos. Mas foi nesta igreja que Francisco José I e Sissi foram coroados Reis da Hungria.
Na colina de Buda encontramos ainda o Bastião dos Pescadores, com as suas sete torres que homenageiam as setes tribos fundadoras da Hungria, e uma estátua de Estêvão I, a cavalo, o primeiro rei da Hungria e fundador da igreja húngara.
Uma curiosidade final: é também em Buda, neste distrito, que se situa a Casa de Houdini, que embora tenha nascido em Peste, e aos sete anos se ter mudado para os EUA, tem aqui o único lugar na Europa dedicado à sua memória. Além de alguns objetos em exposição permanente, é possível ainda assistir a alguns espetáculos de magia e são várias personalidades famosas que, ao passarem pela zona, não deixam de visitar este pequeno museu.
Explorado que está o lado Buda da capital da Hungria, resta-nos ainda conhecer Peste, mas isso ficará para outra história.
Por Inês Gromicho, em Budapeste, a convite do Grupo Hotusa