“Portugal precisa do turismo que tem de ser apoiado com planos, fundos e mecanismos próprios”

A V Cimeira do Turismo Português, promovida pela Confederação do Turismo de Portugal (CTP), teve o seu kick off hoje com uma primeira Web Conference dedicada ao tema “O Mundo em Tempos de Pandemia“, debatida com Paulo Portas, vice-presidente da Câmara do Comércio e Indústria Portuguesa.

Francisco Calheiros, presidente da CTP, começou por refletir que “o Turismo só é mais prejudicado que outros setores porque tem uma palavra de ordem que é deslocalização. É fundamental que as pessoas se movimentem e, nesta pandemia, tudo o que se pretende é que as pessoas não o façam”. E foi assim que, entre abril e maio de 2020, o turismo em Portugal registou uma quebra na ordem dos 95%, adiantou.

O responsável avançou, em seguida, que até mesmo o pior dos cenários foi ultrapassado no setor turístico: “Ainda ontem tivemos uma reunião de direção, onde estão representados vários importantes stakeholders [companhias aéreas, agências de viagens, hotelaria e restauração], e ninguém estava minimamente motivado. Não com o que já se passou mas sobretudo com o que aí vem. Todas as indicações que temos são más. Ainda estamos muito longe de poder ver o fim desta pandemia.”

Francisco Calheiros apontou, ainda, uma das falhas diplomáticas do Governo ao “proibir, até ao mês passado, as companhias aéreas de voarem por nacionalidade, enquanto que em todos os outros países isso se verificou por nacionalidade dos cidadãos”. O resultado foi que “o último país para o qual a Emirates voltou a voar foi para Portugal e, no caso da Turkish, o seu hub no Porto mudou para Vigo”.

Ainda assim, o presidente da CTP confia que, apesar de uma certa diminuição no turismo de negócios, o setor vai dar a volta por cima pois as pessoas vão querer continuar a viajar. “No dia em que tivermos uma vacina, no dia em que as pessoas se sentirem seguras, aí vai acontecer o que aconteceu quando abrimos os corredores com o mercado britânico… Tivemos 50 voos por dia do Reino Unido para o Algarve”, comenta. Para o responsável, “temos de voltar a ter uma vida normal extremamente criativa” porque “não há economia no mundo que aguente isto”.

“Portugal precisa do Turismo” 

Já Paulo Portas sublinha que é “absolutamente extraordinário o caminho que Portugal fez nas últimas duas décadas” em termos de “crescimento e especialização como destino turístico” e prova disso é que fechou o ano de 2019 com cerca de 49 milhões de dormidas e 16 milhões de turistas estrangeiros. O orador recordou também “o tempo em que havia muita gente a dizer que havia turismo a mais em Portugal” e que hoje “se percebe a consequência de termos turismo a menos”. Já depois da crise financeira, o turismo foi “um dos pilares essenciais da capacidade de recuperação do país” e assegura que “Portugal precisa do turismo”.

O Turismo foi “afetado muito depressa” pela Covid-19 e “é evidente que será dos últimos setores a recuperar”, refere Paulo Portas. Estando o setor muito dependente “da criação de segurança e confiança” e “do game changer de tudo isto que é a vacina”, a sua opinião é de que o turismo “precisa obviamente de planos próprios, intensos e muito seletivos, para aguentar este intervalo até à vacina. Tem um peso tal em Portugal que acho que tem de ser apoiado com planos, fundos e mecanismos próprios, rápidos, pragmáticos e acessíveis”, argumenta.

Para Paulo Portas, “é inaceitável que as quedas que o turismo em Portugal teve em junho e julho tenham sido acentuadas pelo facto de não se ter tido uma estratégia profissional para proteger a nossa reputação e os corredores turísticos no momento em que era o último slot de reservas para o verão possível e disponível.” O político avança que na OCDE, Portugal está entre os quatro países que mais dependem, entre peso no PIB e no emprego, do turismo e que “conseguem substituir em menor dimensão o turismo internacional pelo doméstico”. Assim, Paulo Portas alerta que, face à atual situação em Espanha – crítica do ponto de vista do surto de Covid-19 – o país precisa de “acautelar outros destinos”.

O vice-presidente da Câmara do Comércio e Indústria Portuguesa defende que “a pandemia é global mas assimétrica” pois “não atinge os continentes, as economias e os setores económicos da mesma maneira”. Por exemplo, no primeiro trimestre do ano, a economia americana conseguiu crescer 0,3% na medida em que nos EUA “a gestão da crise da saúde pública é muito complexa e, muitas vezes, incompetente mas coloca-se no interesse da economia tão acima como o da saúde”, reflete Paulo Portas. Também a China cresceu 3,2% embora “a queda das compras de bilhetes de avião continue perto dos 30% e o défice de lotação dos hotéis também esteja 19% abaixo do ano passado”, continuou. Pelo contrário, a Europa “caiu fundo”. Paulo Portas conclui que “quem agiu muito depressa e sem grandes contemplações geriu francamente melhor a pandemia”.