Principais players do setor debateram desafios e oportunidades do turismo para a próxima década

Após a apresentação dos eixos genéricos da ET 27, que decorreu, ontem, em Tomar, realizou-se um debate sob o tema “O Turismo nos próximos dez anos – insiders views” que trouxe para a mesa vários dos principais players do setor. Luís Veiga, ex-presidente da AHP, António Marques Vidal, diretor-geral da APECATE, José Manuel Esteves, diretor-geral da AHRESP, Pedro Costa Ferreira, presidente da APAVT e Desidério Silva, presidente da Associação Nacional de Turismo debateram, com a moderação do jornalista Nicolau Santos, os desafios e principais problemas deste setor.

Questionado sobre quais dos desafios apresentados pelo governo são os mais prioritários, Desidério Silva afirmou que “sendo tudo questões interligadas”, não existe um mais prioritário que outro. Para o presidente da ANT, e no que toca às regiões, “são as assimetrias entre as regiões e dentro das regiões” as problemáticas “mais difíceis” de solucionar. Já no que respeita ao Algarve, e a juntar à sazonalidade, existe a questão da urgente “requalificação da hotelaria” e dos destinos.

António Marques Vidal criticou as dificuldades que existem para conseguir erguer um projeto de animação por haver “uma grande falta de diálogo entre os operadores e as entidades públicas”. “O turismo tem de começar a conversar com os seus parceiros públicos”, como são os responsáveis do mar, ambiente e cultura”. Uma realidade para que Desidério Silva também chamou a atenção. “Há no país, nos departamentos, nos ministérios, uma grande necessidade de trabalhar em conjunto, de agilizar procedimentos, de minimizar os impactos dos empresários no setor do investimento e que haja condições que o investimento seja feito, mas recompensado”, afirmou.

Começando por alertar para o facto de sempre que há mudanças de governo em Portugal a tendência ser “mudar tudo”, Pedro Costa Ferreira chamou também a atenção para a importância de o governo assegurar “estabilidade” na lei laboral. Sobre os desafios para o futuro, o presidente da APAVT realçou a necessidade de Portugal conseguir manter o crescimento e o desafio da rentabilidade, no entanto, alertou para o facto de “apenas conseguirmos aumentar o preço, se aumentarmos o valor”. Já no que diz respeito à procura, à qual se deve dar mais atenção, Pedro Costa Ferreira destaca a importância de sermos capazes de “acompanhá-la” e “de não lutar contra ela” em casos como a Uber ou o airbnb”.

Luís Veiga, ex-presidente da AHP, voltou a alertar para a problemática do alojamento local e para o facto de “em Espanha, os preços estarem a descer por causa da oferta maciça” deste tipo de alojamento. Segundo o responsável, e de acordo com os dados disponibilizados pelo governo referentes a 2014, “9% das dormidas efetuadas em Portugal já dizem respeito ao alojamento local, ou seja 4,3 milhões de dormidas, o que representa 6% da receita”. Luís Veiga destacou ainda o facto da hotelaria nacional estar a saber inovar, nomeadamente, através da criação de espaços de socialização para clientes e com a comunidade local nas suas unidades. “A hotelaria está a seguir o caminho que a procura quer”, afirmou.

Já José Manuel Esteves surpreendeu a plateia ao contradizer os dados divulgados por Nuno Fazenda na apresentação da ET 27, na qual afirmou que era necessária uma melhoria da formação no setor e, consequentemente, do aumento do rendimento médio que corresponde, atualmente, “a menos 37% do que o da economia”. Para o diretor-geral da AHRESP, “há diagnósticos que são feitos que não são rigorosos” e os que dizem respeito aos salários que são pagos no setor da hotelaria e restauração são uns deles. “O nosso setor tem o salário mais elevado da economia portuguesa”, começou por afirmar o responsável, acrescentando que o salário mínimo pago neste setor é de 1016 euros.

Na sessão de encerramento da cerimónia, Francisco Calheiros, presidente da CTP, afirmou que a confederação “está genericamente de acordo com a ET 27”. Alertou, no entanto, para a questão dos aeroportos e da carga turística dos destinos que “têm de ser geridas”.

Já Manuel Caldeira Cabral, ministro da Economia, afirmou que “não é o meu papel estar a deitar a baixo seja o que for. Temos aproveitado o que de bom vem de trás, procurando deixar algo de melhor para o futuro”.