Profissionais do turismo procuram descanso a sul do país

São portugueses, consideram-se uns privilegiados por dedicarem o seu dia-a-adia à área em que trabalham e optam por tirar férias no verão, entre os meses de junho e setembro. Rendem-se, na sua maioria, aos encantos das praias do sul do país e viajam na companhia de familiares ou amigos. Algo mais que os una? A dificuldade em desligar a 100% da sua atividade profissional. Falamos dos profissionais do turismo.

Ler, caminhar, namorar, apanhar sol, desfrutar de atividades ao ar livre e, não menos importante, “dolce far niente”. É deste modo que muitos dos profissionais do nosso setor gostam de desfrutar os seus dias de férias. É entre os meses de junho e setembro que a maioria destes profissionais tira uns dias de descanso não só porque, como explica Pedro Machado, presidente da Entidade Regional de Turismo do Centro, nestes meses “o país entra na chamada “seally season”, sendo mais fácil e potencialmente, menos constrangedor, tirar férias nessa altura”, mas também “para acompanhar as férias escolares dos filhos”, acrescenta Cecília Oliveira, diretora do Centro de Ciência do Café.

As praias do sul do país, principalmente as do Algarve, são a escolha da maioria dos entrevistados. Desidério Silva, por exemplo, afirma que, apesar de tirar poucas férias ao longo do ano, os dias que tira no verão dedica-os à sua região de sempre, onde aproveita para ler e caminhar. “É o melhor local para passar férias”, assevera. António Painha, diretor comercial do grupo Dom Carlos Hotéis acrescenta: “é um destino que não nos cansa nem satura e onde regressamos sempre com evidente prazer”.

Falamos apenas da maioria porque, como já era de esperar, no campo das entidades regionais de turismo não existe imparcialidade, ou seja, nem nas férias os presidentes “abandonam” as suas regiões. Pedro Machado reúne a famílias e os amigos na Figueira da Foz. “É um destino de eleição, há muitos anos a esta parte, quer pela sua qualidade e beleza, bem como, pelo contexto de restauração e serviços de excelência que existe nessa zona, assim como, pela proximidade familiar”, explica o responsável, acrescentando que aproveita estes dias para aproveitar “ para estar com o filho, e fazer todas as atividades que nem sempre a vida profissional permite, desde andar de bicicleta, ir ao cinema, ou simplesmente passear”. Não faltam também os “almoços e jantares com os amigos e com a família; as longas conversas de final de tarde, acompanhadas por um bom copo de vinho; as idas à praia, só de toalha na mão; as corridas matinais ao ar livre e um bom livro”.

Ainda durante o verão, e para além dos habituais dias no Algarve, Sónia Regateiro, diretora comercial da Solférias, vai aproveitar para viajar até à Grécia. Paulo Moura optou por juntar à semana que passa na Quinta do Lago, uma semana pela Islândia. Por cá, António Painha elege o Alto Alentejo e a Beira Baixa para uns dias de descanso aos quais junta uma incursão ao barlavento algarvio. “Projetamos para depois do final do verão uma viagem de maior duração a outras latitudes. Viajar, conhecer novas paragens e gentes é algo que nos apaixona e entusiasma. Tão bom como o sortilégio da descoberta do desconhecido só a alegria do regresso ao “lar, doce lar”, afirma.

José Manuel Antunes, diretor do operador turístico Sonhando é a exceção do grupo. “Raramente tenho férias nos períodos de junho a setembro. Por vezes só na segunda quinzena de setembro. É o período em que as operações estão em funcionamento e não posso abandonar o leme”, explica o responsável, acrescentando que, ainda assim, “se fosse de férias no verão iria para Malta”. Até à data, o “Nordeste Brasileiro foi o que mais vezes repetiu”.

Please, don´t disturb!

Viajar para um destino onde não exista acesso ao wifi é, segundo Sónia Regateiro, uma das poucas soluções para que se consiga desligar a 100% do trabalho. É por isso uma realidade pouco provável para os que optam por ficar por cá no verão. No geral, os profissionais afirmam não conseguir, nem que por uma semana, colocar o trabalhar para trás das costas. Mas há os que ainda tentam colocar a si próprios algumas “regras”. “Procuro utilizar o telemóvel o menos possível. Só assim, consigo “desligar” um pouco da azáfama diária. No entanto, no final do dia, há sempre uns minutos para fazer o balanço e procurar resolver algumas questões que sejam inadiáveis”, afirma Pedro Machado. Ainda assim, assevera António Painha, a tecnologia tende a dificultar esta tarefa: “os períodos curtos conjugados com o grande flagelo das omnipresentes comunicações dificultam seriamente as tentativas para bem conseguidos ou prolongados “switch offs”, tal não invalida as tentativas mais ou menos bem-sucedidas que levamos a cabo”.

Optar por destinos nos quais as suas empresas não têm atividade profissional poderia ser uma solução mas que não resulta para todos os casos. É “uma tarefa difícil” para Paulo Moura, da Europcar, ainda que este afirme que consegue desligar-se “95% do seu trabalho em férias”. Confessando que “nem sempre foge” dos lugares nos quais tem operação, mas “que seria conveniente”, José Manuel Antunes afirma que não consegue desligar totalmente do trabalho. “Nos destinos onde temos operação é impossível ter um único dia sem tratar de coisas relacionadas com o trabalho”, frisa. No caso de Cecília Oliveira, não há mesmo como tentar fugir: “é difícil fugir do café. Está em todo o lado e ainda bem”. Paulo Mendes, diretor geral da Airmet Portugal, “procura fugir dos destinos de massas” como é, por exemplo, o Algarve em agosto. Já Sónia Regateiro e Pedro Machado continuam a encontrar tranquilidade junto dos destinos que melhore conhecem. A primeira não abdica de uma semana de férias na Páscoa em Cabo Verde, que “é o core business” da Solférias, e o segundo da região Centro. “É uma região tão vasta e tão diversa, que possibilita uma série de experiências novas, em locais extraordinários e únicos, quase diariamente. Por tudo isto, nunca me suscita a “vontade de fugir”, muito pelo contrário”.

Leia o texto na íntegra na edição 292 da Ambitur!