Reestruturação da TACV implica redução de pessoal

O presidente do Conselho de Administração da companhia de aviação cabo-verdiana TACV disse hoje que a reestruturação em curso na empresa implica redução de pessoal, estimando em mais de uma centena os postos de trabalho a cortar. Em entrevista à agência Lusa, João Pereira da Silva adiantou que essa redução poderá ser conseguida através de reformas antecipadas, reformas, rescisões amigáveis e, em último recurso, despedimentos.

“Todos os processos de reestruturação têm de mexer nos custos de pessoal”, afirmou João Pereira da Silva, num momento em que a companhia está novamente no centro da atualidade por causa do arresto de um avião na Holanda devido a dívidas a fornecedores. “Esta reestruturação entra em linha de conta com todos os custos, incluindo o de pessoal. Um dia ou outro haveríamos de chegar ao pessoal”, acrescentou.

O presidente do Conselho de Administração (PCA) dos Transportes Aéreos de Cabo Verde (TACV) lembrou que desde 2013 é sabido que a empresa precisa de reduzir mais de uma centena de postos de trabalho. “É à volta disso. Não posso dizer se é 120, se é 110. Se se conseguir reduzir os números de pessoal navegante, o total diminui, porque ganham mais, mas isso é mais complicado”, afirmou, considerando mais fácil cortar na área administrativa, direção financeira ou venda de bilhetes.

Segundo João Pereira da Silva, os vencimentos na empresa variam entre os 30 mil escudos (cerca de 300 euros) e os 300 mil escudos (cerca de três mil euros) por mês, sendo que a recente saída dos trabalhadores do handling praticamente não alterou a estrutura de custos com pessoal. “Estamos a falar em reformas antecipadas e reformas. Temos 22 contratos assinados de reformas antecipadas e vamos continuar”, disse.

O responsável acrescentou que é a TACV que está a pagar as reformas antecipadas e que a redução dos custos com pessoal deverá passar por conseguir que o Estado assuma este pagamento, bem como as compensações nos casos de rescisão amigável. “Se necessário for, chegaremos ao despedimento. É sempre um processo complexo que está a ser discutido internamente e que vai ter de se discutir com os sindicatos”, disse, acrescentando não acreditar que “haja despedimentos antes das eleições” legislativas de 20 de março.

João Pereira da Silva lembrou que a TACV tem como único acionista o Estado, considerando, por isso, que nenhum conselho de administração consegue fazer um “despedimento importante” sem duas formas de apoio estatal: luz verde para o fazer e financiamento.

O presidente da TACV disse ainda que o trabalho de levantamento e elaboração de propostas para a reestruturação técnico-operacional da empresa está na fase final. “Já temos mais ou menos acertada a nova estrutura corporativa, que será muito menos pesada em termos de conselho de administração e de direções, com menos administradores, e uma estrutura menos pesada em termos de departamentos” explicou. “Está-se a fazer um exercício de meter nessa estrutura o pessoal que é necessário, estamos a reavaliar as rotas e o produto que oferecemos ao cliente”, acrescentou.

Para João Pereira da Silva, a reestruturação financeira é agora “o maior busílis da questão”. “É preciso dinheiro. Não é só pagar as indemnizações ao pessoal. Quando se vai ter com um credor importante e queremos entrar em negociações para reduzir a carga mensal a pagar […] a primeira coisa que nos diz é: ‘vou fazer esse esforço, mas qual é o esforço que tu fazes?'”, adiantou.

“Temos de fazer um esforço de redução dos nossos custos gerais e temos de fazer um esforço de pagamento à cabeça. Tudo isso está em curso. Agora vêm as eleições e esperamos que logo a seguir, o Governo seja capaz de tomar as decisões necessárias para tornar a empresa sustentável”, sublinhou.

Face à situação da companhia, que acumula um passivo de 9 mil milhões de escudos (81,6 milhões de euros), a reestruturação e recapitalização são inevitáveis, considerou.

“Não há nenhum processo de reestruturação que se faça sem recapitalização. Quando o nosso crescimento de vendas é de três, quatro ou dez por cento por ano, os nossos resultados não podem ser tais que cubram o passivo acumulado e ainda os custos correntes”, disse.

O PCA da TACV lembrou que perante os credores a situação da empresa é há muitos anos de “negociação permanente da forma de ir pagando”, à espera da reestruturação e da recapitalização.