“Região Centro está a querer posicionar-se como novo destino”

Entrou no turismo em 2006 e cedo se apercebeu de que este era um setor dinâmico e profissional, mas com alguns problemas que ainda hoje estão por resolver. Hoje, à frente do Turismo Centro de Portugal, Pedro Machado, também ele “filho” desta grande região, fala do que tem sido feito nesta entidade e de como tem procurado posicionar o Centro do país como um destino com produtos com potencial de captar mercados internacionais.

pedro_machado09Em 2015 fica concluído um processo de consolidação de uma marca única no Centro. Quais os momentos mais difíceis?
O primeiro grande desafio foi criar uma perceção clara da imagem do destino que é o Centro de Portugal, que era necessária porque resultamos da fusão de 10 regiões de turismo. Enquanto destinos nossos concorrentes como o Algarve, a Madeira ou Lisboa têm 50 anos consecutivos de consolidação e promoção de uma marca, o Turismo do Centro resulta da fusão de 10 ex-marcas.
O segundo desafio era estreitar relações de território. A Serra da Estrela e o Oeste, a região de Aveiro e o Médio Tejo, Leiria/ Fátima e Viseu/ Dão Lafões e a Beira Baixa, não tinham relações de trabalho. Este grande desafio incidiu em colocar dentro do mesmo plano de trabalho territórios com caraterísticas tão diferentes, com estádios de maturidade e até de produto turístico tão diferentes. O Turismo do Centro envolve 100 municípios, é a maior região do país, com 31% do território nacional e 2,4 milhões de pessoas. Para termos a perceção, o Centro de Portugal é maior em número de municípios do que as regiões de Lisboa, Alentejo, Algarve e Madeira juntas.
O terceiro desafio era que os empresários pudessem participar neste esforço conjunto, sendo necessário aproximar as empresas e empresários dos próprios municípios para podermos ter, no final, uma cultura de um destino que já é percecionado como tal. Hoje o país olha para a região Centro e reconhece se está a querer posicionar como novo destino, que está a ser estruturado, a apresentar produtos, em alguns casos até inovadores.

pedro_machado46Em que fase estamos agora?
Consolidado o processo de rebranding da marca, precisamos agora de muscular as nossas empresas e requalificar o nosso tecido económico. Sabemos hoje que há problemas estruturantes relativamente ao país, sendo que o Centro de Portugal não deixa de os refletir. No caso do Centro de Portugal, que não tem grandes grupos económicos, precisamos muito de capitalizar as nossas empresas e isso passa quer pelo modelo de negócio que têm hoje, quer pela necessidade, em muitos casos, de requalificação.
Em segundo lugar, o Turismo do Centro de Portugal precisa hoje de tratar de questões conjunturais determinantes na atividade turística da região, como o custo da acessibilidade, que é maior aqui. Há aspetos estruturais ao nível do tecido económico da região, e conjunturais, como é o caso das despesas associadas à atividade turística, que nos preocupam.
A terceira grande linha para o processo em que estamos é aproveitarmos este Quadro Comunitário de Apoio, no caso concreto o Centro 2020, que tem 37% da sua dotação orçamental para as empresas, estamos a falar de 800 milhões de euros para injetar nas empresas do Centro de Portugal. Precisamos de aproveitar esta oportunidade, que vai ajudar a revitalizar o tecido económico. Algumas das marcas emblemáticas que temos hoje precisam desta injeção de capital.
À data de hoje, estamos a realizar reuniões de trabalho em que, na estratégia de desenvolvimento do Centro de Portugal, o turismo aparece como domínio diferenciador dotado de uma verba de 10 milhões de euros para os próximos três anos, sobretudo para intervir ao nível da qualificação de uma nova oferta estruturada do património mundial, que representa dois milhões de euros de FEDER que estão na dotação deste plano conjunto da CCDRC e o Turismo Centro de Portugal; três milhões de euros para a valorização e promoção da marca Centro de Portugal; e cinco milhões de euros para contratualizar com o território, leia-se comunidades intermunicipais. Isto para que, numa leitura dos instrumentos de planeamento que temos disponíveis, o modelo de desenvolvimento do Centro, os PRODERs, as ITIs – Intervenções Territoriais Integradas, as BLDCs (que eram até aqui os gabinetes de ação local) e o próprio turismo tenham uma convergência do ponto de vista dos recursos financeiros para que a consolidação da Marca Centro de Portugal não seja fragmentada por intervenções locais desconcentradas, mas que haja uma articulação perfeita.


Porque é simultaneamente presidente da Entidade Regional do Turismo e da Agência?

É um modelo que defendo há muito tempo. À semelhança do modelo do Turismo de Portugal, as Entidades Regionais de Turismo (ERT) deveriam ter duas grandes áreas de intervenção: a promoção interna e a promoção externa. No Turismo do Centro, muitos dos recursos financeiros que colocamos à disposição da promoção externa derivam da ERT. 50% dos Planos de Comercialização e Vendas da Agência de Promoção Externa são financiados pela ERT. Os técnicos que estão na Agência de Promoção Externa são libertados através de contratos de cedência de interesse público, mantendo o seu vinculo ao Turismo do Centro mas, no fundo, não deixam de ser técnicos da ERT que estão nas Agências de Promoção Externa. Há uma necessidade absoluta de convergência de princípio entre aquilo que é, a jusante, a promoção interna e a capacidade de receber turistas externos e, a montante, o que é a atividade das Agências Regionais, sobretudo quando elas projetam o modelo de internacionalização nos vários mercados para que depois os turistas venham para os territórios. Do meu ponto de vista essa seria a reforma a fazer.

pedro_machado49O que espera deste Governo no que diz respeito à atividade turística?
O Governo deve olhar para o país como um todo. O Governo anterior não teve essa perceção, focando o investimento sobretudo no modelo de internacionalização, não tendo percebido que o país não corre à mesma velocidade. Há regiões maduras e que, por força da natureza, estão mais bem preparadas para o processo da internacionalização, mas isso não significa que «arrastem» as regiões menos desenvolvidas para o mesmo grau de desenvolvimento. Quando hoje discutimos o excesso de turistas em Lisboa e no Porto, e percebemos que a região Centro não chega aos 50% de taxa média de ocupação, significa que esse modelo não resulta. É preciso olhar para o desenvolvimento integrado do país, criar estruturas que ajudem a alavancar e a dinamizar as empresas que estão no país todo, e perceber que os resultados excecionais que o país está a ter devem ser olhados com particular atenção ao nível de desenvolvimento do país, e não da consolidação das regiões mais maduras.
Por outro lado, o modelo de desenvolvimento e da promoção turística tem que regressar à autenticidade e diferenciação de que os produtos que conseguimos conquistar e estruturar nos destinos regionais são o mote. Há produtos que hoje ainda não estão programados. O turismo religioso é seguramente uma das áreas que deve crescer. O país tem de olhar para o turismo religioso como nunca olhou até hoje. Fátima tem 15 mil camas e é responsável pela atração de quatro milhões de pessoas por ano. O país deve-se focar em produtos que são de referência, produtos que têm uma fortíssima capacidade de se virem a assumir do ponto de vista internacional.
Finalmente, e esse sinal foi dado na BTL, é necessário uma atenção especial do papel regulador que o Estado tem na criação de condições para capitalizar as nossas empresas. Esta é uma atividade em alguns casos sazonal e tem de ser entendida como tal. O Governo tem de olhar para a capitalização das empresas e para o modelo de desenvolvimento integrado do território.