Região de Lisboa “só tem a ganhar ao apostar no turismo de nicho”
A Ambitur.pt está a fazer uma ronda junto das entidades regionais de Turismo em Portugal para ficar a par das últimas novidades. Desta vez, esteve à conversa com a nova presidente da ERT Lisboa, Carla Salsinha.
Com uma chegada tranquila à Comissão Executiva da identidade, Carla Salsinha não tem dedos a apontar à anterior estrutura, confirmando que está “consolidada, muito bem hierarquizada e que tem uma equipa que está empenhada em defender o turismo da região de Lisboa”.
Agora que se iniciem os trabalhos, pois a prioridade, além de conhecer o pessoal da casa, é, até ao fim deste ano, reunir com os 18 municípios que integram a região e com todas as entidades, públicas e privadas, que são importantes para o setor turístico. Disto já resultaram encontros com a AHRESP (Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal), com a AHP (Associação da Hotelaria de Portugal) e com algumas autarquias – “para termos objetivos estratégicos e dizermos onde vamos apostar é preciso falar com as entidades para que nos digam o que temos de fazer”, evidencia a presidente da ERT Lisboa, acrescentando que “há produtos que apoiamos ao longo dos anos e que, agora, as próprias entidades nos vão dizendo que não vale a pena continuar a apostar tanto porque atingiram um patamar de sustentabilidade e há outros produtos que temos de crescer exponencialmente”.
E esta aposta em novos e diferenciados produtos servirá para combater a estada média baixa em Lisboa, que não chega a três noites: “temos de criar uma oferta que faça sentir às pessoas que quando aqui vêm precisam de ficar quatro a cinco dias para conhecer a região”. E entre os novos potenciais produtos está o enoturismo, sendo o “setor onde a região poderá crescer mais”, o turismo de praia, o turismo de observação e até o turismo de observação de golfinhos, claro, além do turismo sustentável e de natureza.
“Não competimos pelo preço, mas sim pela qualidade”
A entidade regional de turismo de Lisboa acredita que tem de combater o turismo de massa, começando a “credibilizar-se” para um turismo que procura qualidade e que atraia “o público com mais poder de compra e com um gosto mais requintado”.
Vendo a necessidade de puxar pelas autarquias para requalificar o espaço público e os próprios equipamentos turísticos, Carla Salsinha admite que a região “só tem a ganhar ao apostar no turismo de nicho” – o que poderá, de certa forma, ajudar também a equilibrar a margem Norte e a margem Sul, sendo que Lisboa, Cascais, Sintra e Oeiras são municípios com grande crescimento, e, por exemplo, Barreiro, Moita e Seixal “estão a precisar de coesão territorial”.
Denote-se que em 2022 a cidade de Lisboa chegou às 13 milhões de dormidas, Mafra triplicou na última década a procura e Sintra, no mesmo período, mais do que duplicou a mesma. Loures e Amadora seguiram a mesma tendência, e Montijo (+510%) e Alcochete (+472%) tiveram crescimentos muito expressivos.
“Quando se sai da cidade de Lisboa o peso do AL é muito forte”
Há um problema na medição do Alojamento Local da região, acredita a presidente da ERT Lisboa, pois os dados oficiais só contam os AL’s com mais de 10 camas, excluindo qualquer serviço com menor número – por exemplo, Barreiro, Mafra, Ericeira e Sintra são o grosso do alojamento local da região, mas uma maioria não é contabilizado: “estes dados são um bocado enganadores e isto prejudica até a entidade na medição”.
Mas, atualmente, estima-se que a região de Lisboa estará com 60% de hotelaria e 40% de AL, um peso “muito forte” e que, como desafio da entidade de turismo, tem de entrar nas contas.
Impacto da JMJ no turismo “vai ser medido para o ano”
As pessoas que vieram a Portugal e principalmente a Lisboa participar na Jornada Mundial da Juventude chegaram com um objetivo muito específico. Por isso, Carla Salsinha prevê que o impacto do evento só poderá ser sentido em 2024, porque muitas pessoas ficaram interessadas em conhecer melhor a região: “depois de falar com empresários e comerciantes soube que na semana a seguir à JMJ houve um número muito significativo de pessoas que acabaram por ficar em Lisboa e usufruir da cidade”.
Um grande impulsionador, acredita a responsável, será o tempo mediático que a região teve na comunicação social internacional, que promoveu, além do evento, paisagens e interesses de Lisboa.
Falta de decisão sobre novo aeroporto “penaliza seriamente a região”
Por fim e não menos importante, aliás, um assunto que é problema há mais de 50 anos, está o novo aeroporto de Lisboa. Aqui, a presidente da ERT promete “tentar pressionar para que se tome uma decisão o mais rápido possível”, sendo que não cabe à entidade “dizer onde se deverá localizar”.
As atuais e constantes imagens do aeroporto Humberto Delgado, como quis relembrar a responsável, de filas intermináveis para sair do avião e dificuldade em fazer a entrada formal na cidade, são “más para o turismo” e o atual Governo tem de decidir muito em breve como resolverá esta questão: “nunca nada será perfeito, temos de avançar”, remata.
Por Diana Fonseca