A indústria aeronáutica internacional foi um dos setores mais afetados pela pandemia a nível mundial, atravessando a sua maior crise de sempre. A pandemia provou um autêntico terramoto na indústria. Portugal e a economia portuguesa, bastante dependentes do turismo, estão a sofrer esse impacto. Este ano registou-se uma diminuição de cerca de 80% do número de voos e de passageiros nos aeroportos portugueses. É importante não esquecer que as companhias aéreas no seu todo são responsáveis por 90% dos turistas que nos visitam.
Segundo a IATA, as companhias aéreas não irão ter resultados positivos antes do 4º trimestre de 2021. Governos por todo o mundo deram ajudas de 173 mil milhões de dólares. As companhias aéreas estão gratas pelos apoios, pois, sem eles, as companhias aéreas desapareceriam. Mas, adianta a RENA – Associação das Companhias Aéreas em Portugal, ainda muito mais é necessário. Os testes e as vacinas estão a avançar a passos largos, mas as reservas continuam muito baixas. Urge reabrir as fronteiras e estimular a procura.
Para apoiar uma retoma mais rápida, os apoios dos governos deverão ser universais, para assim não haver distorção da concorrência ao estarem disponíveis para todas as companhias aéreas. Além disso, aumenta a procura, beneficiando toda a cadeia de valor da aviação e, assim, os passageiros e as economias locais.
Como é que os governos podem estimular o mercado, diz a RENA? Através de…
– Taxas, impostos e taxas – Assegurar a acessibilidade dos preços das viagens aéreas suspendendo impostos, taxas aeroportuárias/ANSP, taxas de vistos e taxas de testes. Tais medidas melhoram a acessibilidade de viagens e ajudam as companhias aéreas, pois custos “externos” mais baixos aumentam a procura;
– Subsídios de rotas – Garantir a acessibilidade (por exemplo, zonas remotas) através da subvenção de rotas domésticas, incentivos para voos/lugares, pois deste modo ligam-se comunidades rurais e empresas e reanima-se o turismo. As companhias aéreas podem até operar rotas, mesmo inviáveis em termos comerciais;
– Incentivos financeiros, por exemplo, por passageiros, lugares ou com base na taxa de ocupação. Está provado que os viajantes multiplicam o investimento através do dinheiro gasto na economia;
– Adiantamentos/vouchers – Compras antecipadas de bilhetes para fazer face às necessidades de liquidez e apoiar a sustentabilidade financeira. Com estas medidas podem abrir-se mercados e proporcionar benefícios diretamente aos passageiros, dando ao mesmo tempo mais estabilidade nas reservas e apoio à tesouraria;
– Subsídios de viagem para passageiros – Lançar programas que subsidiem viagens, incluindo voos e alojamento, apoiando a acessibilidade e gerando benefícios para o turismo e a economia. Viagens com custos mais baixos impulsionam a procura.
Além destas medidas, Paulo Geisler, presidente da RENA, à qual a TAP também pertence, insiste na importância da implementação de testes rápidos a realizar nos aeroportos e cujos resultados os passageiros recebem antes do embarque. “Estes testes rápidos dão aos passageiros a certeza de que a saúde e segurança se mantêm no topo das prioridades”.
Segundo realça Paulo Geisler, “no caso concreto de Portugal, os apoios devem ser focados no setor e em medidas que, não perturbando a concorrência, potenciem a inversão do percurso: negociação de redução de taxas com a ANA, acesso a programas de incentivo por todos os agentes do sector e um rumo claro na política aeroportuária”.
Infelizmente, os sinais recentes não são encorajadores, alerta a associação. A recente aprovação no Parlamento da proposta do PAN, com o apoio do PS e do Bloco de Esquerda, é preocupante e dificilmente entendível neste quadro. A recém-criada taxa CO2 não ajuda à recuperação do setor. As companhias aéreas estão comprometidas em termos de sustentabilidade. Estão em curso negociações avançadas para a implementação do CORSIA (Esquema de Compensação e Redução de Carbono para a Aviação Internacional) e para programas globais de redução das emissões. “Há que dar respostas globais a problemas globais”, refere Paulo Geisler. “Não faz sentido criar encargos domésticos, onerar companhias e passageiros nesta fase, para arrecadar receitas para a ferrovia ou para outros meios de transporte quando a indústria está a investir muito em soluções ambientalmente aceitáveis (ao nível das aeronaves, do combustível).”