Reportagem: Como estão as empresas de animação turística a reagir à crise da Covid-19?

O Covid-19 impactou muito o negócio das microempresas, onde se insere a maior parte dos negócios de animação turística, desde os eventos corporativos, aos passeios em grupo. A Ambitur.pt quis saber como vão as empresas de animação turística subsistir em tempos de crise e que medidas procuram ver contempladas pelo Estado.

António Rodrigues

Os eventos são uma das áreas mais afetadas, no turismo, pelo Covid-19. Durante o mês de fevereiro, na Meet Me at Porto começou a sentir-se alguma “preocupação” nos clientes e parceiros e, em março, “todos os eventos corporativos, programas com grupos e projetos foram cancelados ou reagendados”, recorda António Rodrigues, Sales, Marketing & Comunication Manager da empresa.

O primeiro passo foi dado no sentido de “reduzir custos” através da renegociação com fornecedores, a adesão ao lay-off e a não renovação de contratos de trabalho que terminavam em maio. Outra medida que podia ser adotada pelo Estado era a “suspensão de pagamentos à segurança social e impostos” uma vez que “a faturação é inexistente”, considera o responsável. António Rodrigues confia que a Meet Me at Porto vai conseguir “sobreviver”, aliás terá de fazê-lo, e que “o panorama vai melhorar”.

Cláudia Caetano

Num momento em que se “convida” ao isolamento social, a Equinócio encerrou completamente a sua atividade na área dos eventos corporativos. Cláudia Caetano, uma das fundadoras, revela que a primeira medida foi assim “colocar os colaboradores em casa”, divididos em regime de teletrabalho e férias. Claúdia Caetano admite ainda que o Estado poderia fazer mais pelas empresas do setor turístico, nomeadamente, alargar o lay-off por mais tempo, contemplar os sócios gerentes e uma vez que tal mecanismo remunera em 66% os colaboradores “seria justo usufruir de 66% do seu tempo laboral”, defende. Outras medidas sugeridas são disponibilizar “mais fundos para fins de empréstimos sem juros e ponderar o fundo perdido” além da “redução de impostos”.

José Pedro Calheiros

O Turismo de Natureza e Aventura também teve as suas perdas. A SAL Sistemas de Ar Livre, por exemplo, suspendeu toda a sua oferta de caminhadas e passeios regulares logo no final de fevereiro e José Pedro Calheiros, diretor geral, dá conta de que “todas as reservas que tinhamos em carteira, de março a novembro, foram canceladas e não houve mais nenhum contacto”. Apesar do clima de incerteza, a SAL conseguirá “manter o negócio aberto” por via de investimentos em outras áreas de negócio da empresa.

Para o diretor geral da SAL, o Estado terá de “fazer muito mais” para ajudar o setor do Turismo a sobreviver a esta crise: “O futuro vai implicar uma grande intervenção estatal para garantir o recomeço da economia turística.”

No caso da Turaventur começou por se adotar um manual de medidas de higiene e distanciamento, para funcionários e clientes, que previa a alteração de buffet para carta ao pequeno-almoço e a desinfeção de bicicletas, etc., até que surgiu o lay-off.

Teresa Vilas Boas

“Tivemos uma queda total de faturação, acrescida de uma série de devoluções”, afirma a manager, Teresa Vilas Boas. A Turaventur depende cerca de 90% do mercado externo, pelo que 55% dos clientes confirmados e que já 15tinham pago adiaram a data, 45% pediram devolução e todos aqueles que ainda não tinham pago cancelaram. A responsável adianta que “estamos a utilizar as nossas economias para ultrapassar a crise” e que “conseguiremos subsistir alguns meses sem despedir ninguém”. No entanto, “é muito complicado porque a recuperação do turismo se prevê a mais longo prazo”.

Teresa Vilas Boas argumenta que o Governo deve alargar o período lay-off “para que as empresas possam fazer um planeamento”, tal como contemplar os sócios gerentes, apostar em apoios a fundo perdido, rever o IRC que é “calculado com base nos lucros do ano anterior” e baixar o IVA da animação turística para 13% ou 6% visto que “o mercado interno, que muitos apontam como a salvação do turismo, também está com as finanças delapidadas”. Uma descida do IVA poderia “ajudar a conquistar esse mercado”, reflete. Adiciona ainda que a “tributação autónoma não pode ser maior para as empresas que derem prejuízo” pois “todos vamos dar prejuízo”.