Reportagem: Uma viagem espiritual pelos caminhos de Portugal

Um pouco por todo o país são vários os caminhos religiosos à sua espera para uma nova forma de explorar Portugal. Ambitur apresenta-lhe um roteiro que passa pelo Centro, Lisboa, Alentejo e Algarve e que lhe permite conhecer o nosso património construído e imaterial, seja através de igrejas, santuários ou festas religiosas. É um segmento que tem vindo a ganhar força e adeptos, conquistando o seu lugar no turismo nacional.

Igreja S. João Batista, Tomar, @Turismo Centro de Portugal

Em Portugal o Turismo Religioso tem vindo a crescer, um pouco por todas as regiões. Mas é no Centro do país que este segmento tem maior força, despertando a atenção de portugueses e estrangeiros que ali procuram um encontro com a espiritualidade. É pois por esta região que a Ambitur inicia este roteiro e Pedro Machado, presidente do Turismo Centro de Portugal, não hesita em afirmar que “o turismo religioso é um dos mais importantes segmentos da nossa oferta e o seu contributo para a internacionalização da Marca Centro de Portugal é incontornável”. Falamos aqui de Fátima mas também da herança judaica que, nesta região, tem um conjunto de destinos “absolutamente distintos”.

Pedro Machado

Não há dúvidas de que o Santuário de Fátima é aqui o centro de todas as atenções, tendo ganho uma importância internacional inegável e despertando o interesse de católicos e não católicos, com motivações religiosas ou outras. Este é um espaço “de recolhimento, de silêncio e de oração para milhões de pessoas em todo o mundo”, explica Pedro Machado. De acordo com dados do próprio Santuário, divulgados em fevereiro de 2019, foram sete milhões os peregrinos em 2018.

Diz-nos Pedro Machado que “uma visita ao Centro de Portugal é uma visita repleta de encontros: encontro entre várias crenças religiosas, da procura e encontro do indivíduo consigo mesmo e de encontro com as mais antigas tradições portuguesas”. São muitas as basílicas, capelas, catedrais, conventos, ermidas, igrejas, mosteiros, museus de arte sacra e sinagogas que fazem parte do património histórico-religioso edificado que “a Região Centro cuida com carinho para dar a conhecer a quem a visita”. Referências que estão espalhadas por toda a região e que incluem, por exemplo, a mais alta escultura em pedra alusiva à Virgem Maria e aos Três Pastorinhos, na Serra da Estrela.

Vítor Costa

Lisboa: património religioso é central
Na Região de Lisboa o património religioso também ocupa um lugar central na experiência turística. Quem o garante é Vítor Costa, diretor-geral da Associação Turismo de Lisboa, que nos diz que em cada um dos 18 municípios que o compõem, de Vila Franca de Xira a Mafra, e de Alcochete a Sesimbra, este património marca os centros históricos e “cada Igreja Matriz conta a história do lugar e o percurso histórico de quem o habita”.

Cabo Espichel, @Turismo Lisboa

É imperdível o património mundial da UNESCO, aqui representado através do Mosteiro dos Jerónimos e da Torre de Belém, da Paisagem Cultural de Sintra e do Palácio Nacional de Mafra. Por isso, Vítor Costa não hesita em afirmar que uma visita à região pressupõe sempre o contacto com este “rico património religioso”, seja nas zonas mais antigas das cidades e vilas, num largo ou no final de uma rua, no cimo de uma subida ou na proximidade do Tejo, do Sado ou do Atlântico. “No centro das nossas terras, porque no centro da nossa cultura e da nossa história, o património religioso é frequentemente o exemplo mais rico e mais significativo da nossa arquitetura e da nossa arte”, explica o responsável. E adianta: “Podemos até afirmar que a visita a Lisboa não fica completa sem pelo menos uma visita a um exemplar de património religioso”.

Ceia da Silva

Alentejo: um convite a percorrer os Caminhos de Santiago
Já no Alentejo, explica António Ceia da Silva, presidente do Turismo do Alentejo e Ribatejo, o Turismo Religioso “é uma parte integrante de uma relevante oferta compósita que a região possui, a qual tem por base o Turismo Cultural e Patrimonial”. Ceia da Silva frisa que a estruturação deste segmento se encontra ainda numa fase de estabilização e, por essa razão, o convite da região do Alentejo e Ribatejo aponta para que o visitante percorra os Caminhos de Santiago, devendo contar com uma “viagem repleta de inúmeras surpresas e mistérios prontos a ser desvendados”, descobrindo duas regiões que oferecem história e cultura e explorando “uma riqueza que se dá a conhecer nas marcas de um tempo que se preservou e de uma modernidade que lança as pontes para o futuro”.

A recente estruturação dos Caminhos de Santiago Alentejo e Ribatejo, no âmbito dos Caminhos da Fé, vem assim resgatar a história e o simbolismo da fé e da espiritualidade para peregrinos e caminhantes “motivados pela realização de percursos ancestrais, onde possam manifestar a sua religiosidade e terem experiências culturais pela descoberta de paisagens, hábitos e tradições populares, mas sobretudo pela vivência do património religioso existente, quer para devoção, quer para conhecerem as origens e o significado da sua arte e arquitetura, os rituais e mensagens nele integradas”, sublinha Ceia da Silva.

Festa Grande Mãe Soberana, Loulé @Turismo Algarve

Algarve: sinais de um passado histórico marcante
Rumando ao sul do país, o Turismo Religioso apresenta-se como um produto complementar que “adquire importância acrescida na estratégia regional”, assume João Fernandes, presidente da Região de Turismo do Algarve. Umas férias no Algarve podem ser também uma viagem no tempo ao encontro dos testemunhos dos povos e culturas que, ao longo da história, se cruzaram com a região. “Da presença romana à longa herança árabe e até à reconquista cristã, não faltam motivos para redescobrir sinais de um passado histórico marcante”, sublinha o responsável. Sinais visíveis, por exemplo, em rotas turísticas como a Al’Mutamid (legado hispano-muçulmano no Algarve), a UMAYYAD (legado da dinastia Omíada), a “Rota de casas e negócios” (legado judaico) ou até os percursos associados à rota de peregrinação do Caminho de Santiago, já que uma das suas rotas liga o Algarve ao norte do país.

João Fernandes

Também as festividades associadas à presença cristã são apelativas e, neste capítulo, o Algarve é essencialmente conhecido pelas celebrações da Páscoa e do Natal. Quem não ouviu já falar dos festejos da Mãe Soberana em Loulé, da Festa das Tochas Floridas em São Brás de Alportel ou do presépio de Vila Real de Santo António, considerado o maior do país? “É tudo isto – as tradições, as festividades religiosas, os locais de culto e a nossa genuinidade – que nos torna singulares no panorama da oferta internacional”, frisa João Fernandes.

A não perder no Alentejo e Ribatejo
1. As Catedrais de Santarém, Portalegre, Évora e Beja;
2. Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, Santuário de Nossa Senhora de Aires (Viana do Alentejo) e Santuário do Santíssimo Milagre de Santarém;
3. Percorrer os “Caminhos de Santiago Alentejo e Ribatejo”.

A não perder no Algarve
1. Tavira, a “cidade das igrejas”, onde acaba de ser inaugurada uma exposição de arte sacra na Igreja de Santa Maria do Castelo;
2. A Sé Catedral em Faro e a sua antecessora, a Sé de Silves;
3. A Igreja Matriz de São Lourenço, em Almancil, um dos maiores tesouros artísticos do Algarve, cujo interior é totalmente revestido de azulejos figurativos.

A não perder no Centro
1. Santuário de Fátima, em Ourém;
2. Fazer o Caminho Central de Santiago, de Alfama à Galiza;
3. Conhecer a Casa do Passal, de Aristides de Sousa Mendes, em Carregal do Sal.

A não perder em Lisboa
1. Palácio Nacional de Mafra, eleito património mundial da UNESCO;
2. Igreja Matriz de São João Batista, Alhandra, no município de Vila Franca de Xira;
3. Santuário de Nossa Senhora do Cabo Espichel, em Sesimbra.