Restrições às viagens entre “Deus e o Diabo”

Este é o sentimento ambíguo que vários responsáveis turísticos nacionais transmitiram em declarações a Ambitur.pt relativamente aos entraves da retoma de uma das principais atividades económicas do país. Sempre que as restrições foram retiradas, desde a pandemia de Covid-19, a procura dispara, demonstrando que o país continua com uma notoriedade em alta. Mas, por outro lado, a disparidade de restrições nos países europeus torna os circuitos nesta zona geográfica desaconselhada. Sendo assim, há um ponto em comum nos intervenientes que ouvimos: a falta de uma estratégia da União Europeia é o travão da retoma turística nacional.

Para João Fernandes, presidente do Turismo do Algarve, “todos temos este «Deus e Diabo» na nossa cabeça a puxar pelo lado securitário ou pela economia. É muito importante lembrarmo-nos que segurança é hoje sinónimo de atividade económica. Podemos baixar todas as guardas para que a atividade económica se desenvolva, mas como dependemos de procura externa, se a perceção sobre a nossa condição de segurança não for a mais adequada, podemos não ter a atividade que esperaríamos, só por termos baixado a guarda”. No entanto, para o responsável, “concordo, há restrições que ainda hoje temos que podíamos repensar, sobretudo considerando as caraterísticas desta última estirpe. Isso tem sido feito, por exemplo, ao nível do período de confinamento para isolamento por contágio. Por exemplo, ao nível do certificado por recuperação ainda não temos um match entre o período de 11 dias para sete dias que podem vir a ser cinco”. O presidente do Turismo do Algarve destaca ainda que “tudo o que fizermos em época baixa, para não termos um problema nas épocas intermédia e alta, é muito relevante, já o vimos o ano passado. Olhando para o histórico, temos tido um desempenho acima da média da Europa. Confio nas autoridades de saúde, embora ache que o equilíbrio da competitividade não pode ser alheio a estas decisões”.

Gonçalo Rebelo de Almeida

Para Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador da Vila Galé, “neste momento a única coisa que é fundamental é a medida que está em vigor de exigência de teste à entrada do país, que desapareça em fevereiro. Não há razão para que se mantenha mais tempo, deve ser terminada a 9 de fevereiro, período até ao qual está em vigor. A maior parte dos destinos não estão a exigir teste à entrada. Nós temos que retirar, é falso o tema da proteção sanitário. Quanto ao resto não tem grande impacto”.

Vítor Silva

Por seu turno, Vítor Silva, presidente do Turismo do Alentejo, refere que “dependemos (no Alentejo) muito dos aeroportos (para o mercado internacional), em concreto do aeroporto de Lisboa. Aquilo que o país exige hoje já não exige amanhã, em outros países acontece o mesmo. A União Europeia não teve uma estratégia unificada relativamente à pandemia, mas não foi na linha do caos completo. Os governos também têm de responder muito às suas opiniões públicas. O que espero é que quando chegarmos à primavera o pior tenha passado”.

Bruno Matos

Bruno Matos, diretor comercial do PHC Hotels, foca que “as restrições são sempre um ponto que nos preocupa, às viagens e nos hotéis. Acima de tudo o que nos preocupa é as medidas não serem igualitárias em toda a Europa. Com as diferentes restrições que existem nos diferentes países da Europa torna-se muito difícil os operadores trabalharem, porque muitos deles são multidestinos, têm combinações entre Portugal/Espanha ou Portugal/França”.

Miguel Cymbron

Por outro lado, Miguel Cymbron, diretor de vendas e marketing do Grupo Vip Hotels, indica que “temos que estar sempre ao nível dos nossos mercados concorrentes, senão estaremos sempre em desvantagem. Houve fases em que a comunicação portuguesa era muito má, no caso dos testes nos restaurantes, e muito difícil de ser praticada pelos turistas. Não nos podemos esquecer que estes têm que ir obrigatoriamente aos restaurantes, não são residentes. Obrigar os turistas a fazer testes de 48 em 48 horas e a pagar 25/30 euros, que é o que custa para um não residente, é uma violência. Estas questões têm que ser mais simplificadas”.