#REVIVE: Luxo e lifestyle em Vila do Conde com o The Lince Santa Clara Hotel

Convento de Santa Clara

Portugal apresenta um património imobiliário público que diz muito acerca da identidade histórica, cultural e social do país. Foi com o objetivo de valorizar e dar a conhecer este ativo presente em todo o território nacional que o Governo criou o Programa REVIVE, abrindo o património ao investimento privado para o desenvolvimento de projetos turísticos. Imóveis abandonados e, muitas vezes, em ruínas ganham assim um novo propósito, funcionando como âncoras de atração às regiões, gerando riqueza e postos de trabalho. Ambitur falou com vários empresários que estão hoje a desenvolver alguns desses projetos. É o caso de Bernardo Mesquita, diretor de Operações dos The Lince Hotels & Resorts, que ganharam a concessão do Convento de Santa Clara, em Vila do Conde.

Foi aliás precisamente através do REVIVE que este grupo hoteleiro, que conta com duas unidades na ilha de São Miguel, nos Açores, iniciou a sua atividade no Continente, decidido a apostar na recuperação do património – arquitetura, cultura e história – ao ganhar a concessão do Convento de Santa Clara. O objetivo foi “querer acrescentar mais valor ao destino norte e a Vila do Conde em particular”, algo que Bernardo Mesquita garante que a cadeia já faz em São Miguel.

[blockquote style=”1″]”O REVIVE só continuará a funcionar se os privados forem realmente incluídos na equação e, existir uma «via verde» na execução do projeto de reabilitação. A burocracia e a inflexibilidade são inimigas do negócio”.[/blockquote]

The Lince Santa Clara Hotel, quarto ala nascente e poente.

Quanto a voltar a participar neste programa, “vai sempre depender do custo-oportunidade”, refere, adiantando que, na sua experiência, as diversas entidades públicas envolvidas no REVIVE “nem sempre se têm articulado a concretizar” o objetivo de promover e agilizar os processos de reabilitação e valorização do património público. “O REVIVE só continuará a funcionar se os privados forem realmente incluídos na equação e, existir uma «via verde» na execução do projeto de reabilitação. A burocracia e a inflexibilidade são inimigas do negócio”, critica o empresário.

O The Lince Santa Clara Historic Hotel & Spa, um investimento de 11 milhões de euros da parte dos The Lince Hotels & Resorts, verá as obras concluídas em outubro de 2022, devendo abrir portas, em soft opening, em dezembro. O hotel de 5 estrelas resulta da reabilitação de um dos edifícios mais emblemáticos do Norte, o Convento de Santa Clara, e irá disponibilizar cerca de 89 quartos, e espaços amplos e distintos para fruição dos hóspedes e clientes externos. Oferecerá Spa e piscina exterior, espaço para eventos e diversos outlets de restauração e bares.

Mas foram vários os desafios com que os The Lince Hotels se depararam no projeto de transformação do Convento de Santa Clara no The Lince Santa Clara Hotel. O diretor de Operações do grupo fala-nos desde logo da necessidade de articulação entre os vários intervenientes – Estado, Cultura, Câmara Municipal de Vila do Conde, Turismo e outras entidades públicas. “O tempo e a agilização dos processos nem sempre é uma prioridade. Mas deveria ser”, aponta Bernardo Mesquita. Por outro lado, a pandemia e os efeitos desta na economia têm sido outro grande desafio, a par da escassez de mão-de-obra e de materiais, e dos seus custos.

[blockquote style=”1″]”Cheio de força e de história, muito bem localizado, encaixa na perfeição no produto e serviço de luxo & lifestyle que queremos marcar na região”[/blockquote]

The Lince Santa Clara, Ala Sul

O Convento de Santa Clara é um dos edifícios mais emblemáticos da região Norte. “Cheio de força e de história, muito bem localizado, encaixa na perfeição no produto e serviço de luxo & lifestyle que queremos marcar na região”, sublinha o responsável.

O imóvel conta com diferentes fases de desenvolvimento e motivações distintas na sua utilização. E Bernardo Mesquita recorda que, no trabalho de reabilitação, foram encontrados vários artefactos e ossadas da Idade do Bronze. A construção original data de 1314, altura em que foi um convento feminino fundado por D. Afonso Sanches e D. Teresa Martins, para ser extinto no século XIX e aí passar a ser uma Casa de Detenção e Correção do Porto, seguindo-se o Reformatório de Vila do Conde e Escola Profissional de Santa Clara, sendo ainda conhecido como Centro Educativo de Santa Clara, estabelecimento de tutela de menores que funcionou até 2007. O edifício que hoje conhecemos é uma construção do século XVIII e aí podemos encontrar a Igreja Gótica de Santa Clara, de elevado valor arquitetónico, histórico e cultural. O CEO dos The Lince Hotels, Domingos Correia, e o arquiteto Carvalho Araújo, apresentam assim um projeto que visa realçar as características históricas do edifício. E, tal como aconteceu no Mosteiro de Arouca com a MS Hotels, a meio do projeto foi descoberto um piso que, nos primórdios da construção, não terá sido utilizado. Bernardo Mesquita garante que estas e outras descobertas “extraordinárias” poderão ser conhecidas quando o projeto estiver concluído.

O olhar do arquiteto José Manuel Carvalho Araújo

O gabinete de arquitetura Carvalho Araújo foi o responsável pelo projeto do The Lince Santa Clara Hotel. E José Manuel Carvalho Araújo começa por apontar que “o REVIVE tem pelo menos o mérito de mostrar a quantidade, qualidade e diversidade de estruturas e edifícios de excecional qualidade, que merecem a nossa atenção e o esforço de os devolver aos lugares”. Mas reconhece que aceitar este tipo de desafio nem sempre é fácil pois “são sempre projetos complexos, de gestão de vontades, expectativas e com muitas surpresas que vão acontecendo ao longo da obra. Há muita gente envolvida e diversas entidades com um interesse comum, mas com exigências e necessidades que por vezes colidem umas com as outras. Os projetos de arquitetura têm assim também uma função de harmonizar estes “confrontos” e encontrar soluções que permitam levar avante o processo de uma forma coerente e equilibrada entre as partes”. Por outro lado, lembra que se trata de obras com um “cronograma de execução curto e de natureza com uma certa imprevisibilidade, decorrente da própria natureza e estados dos imóveis”.

[blockquote style=”1″]”o REVIVE tem pelo menos o mérito de mostrar a quantidade, qualidade e diversidade de estruturas e edifícios de excecional qualidade, que merecem a nossa atenção e o esforço de os devolver aos lugares”[/blockquote]

Referindo-se concretamente ao The Lince Santa Clara, José Manuel Carvalho Araújo não hesita em admitir que o primeiro grande desafio foi “encontrar o ponto de equilíbrio entre as exigências de programa, que decorrem do plano financeiro, e a manutenção da imagem urbana do edifício existente, que na cidade de Vila do Conde tem uma grande preponderância, dado a sua posição elevada e escala de dimensão muito superior às construções que descem a encosta, até ao rio e mar”.

[blockquote style=”1″]o primeiro grande desafio foi “encontrar o ponto de equilíbrio entre as exigências de programa, que decorrem do plano financeiro, e a manutenção da imagem urbana do edifício existente, que na cidade de Vila do Conde tem uma grande preponderância, dado a sua posição elevada e escala de dimensão muito superior às construções que descem a encosta, até ao rio e mar”[/blockquote]

E explica que “a possibilidade de instalar quartos no desvão da cobertura era uma condição essencial para esse equilíbrio, o que obrigou ao desenvolvimento de soluções mais complexas, de forma a permitir ter iluminação e ventilação nos quartos no mesmo nível de qualidade dos restantes, mantendo ao mesmo tempo a garantia de uma alteração aparente da cobertura muito suave e na linha de continuidade com o existente. Houve um particular foco nesta matéria, obrigando-se à execução de protótipos aplicados no lugar, antes da validação final da solução”.

À medida que a obra foi evoluindo, o arquiteto responsável recorda que “as questões arqueológicas, estruturais e da natureza da construção iam-se revelando, algumas de forma inesperada para todos os intervenientes. Em termos arqueológicos acabaram se por encontrar achados mais estruturados do que inicialmente se previa e no edifício, fruto já de diversas intervenções anteriores, muitas soluções não eram de recurso às técnicas tradicionais, mas imitações muito bem executadas. Esta dicotomia foi sempre obrigando a ajustes de todos os projetos”.

O responsável esclarece que “o edifício acabou por se revelar mais complexo, quando todo um piso inferior foi descoberto. Sabíamos a priori que este era um convento por concluir, face às intenções e planos conhecidos e, portanto, algumas zonas inacabadas foram simplesmente aterradas, o que é o caso deste piso. Contudo a sua verdadeira dimensão só teve expressão quando se acabou a escavação geral/ arqueológica, mudando o paradigma e a potencialidade do próprio edifício”.

[blockquote style=”1″]”É do ponto de vista da gestão do hotel algo de mais complexo, mas mais entusiasmante e vivo para o ambiente do hotel. Nenhum espaço estará temporariamente fechado, nenhum espaço é residual”[/blockquote]

José Manuel Carvalho Araújo conclui afirmando que “a história do edifício teve naturalmente impacte nas decisões do ambiente geral pretendido. Teve muitas funções desde que foi concebido. Mas podemos traduzi-las em expressões simbólicas e emocionais; recato, conhecimento, bem-estar… Todas as possibilidades existem neste edifício pela sua fluidez de espaço e no projeto todas as principais funções estão mescladas”. E acrescenta que “a configuração dos espaços existentes é contínua, as salas interligam-se umas nas outras. Assim existem no projeto poucos espaços comuns autónomos, pelo contrário, convivem no mesmo espaço as diversas funções. É do ponto de vista da gestão do hotel algo de mais complexo, mas mais entusiasmante e vivo para o ambiente do hotel. Nenhum espaço estará temporariamente fechado, nenhum espaço é residual”.

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