“Sem transporte aéreo, não há turismo em Portugal”

O “novo” mundo sobre o qual tanto se tem falado mas que ninguém sabe ao certo como será, tem sido alvo de muitos debates, webinars e conferências. Desta vez, foi sobre dois desafios que esta “nova” realidade vai trazer ao tecido empresarial que a conferência  “E agora? Turismo: a reinvenção de um setor”, da Nova School of Business & Economics (Nova SBE), se debruçou: por um lado, fala-se sobre como será a sobrevivência das empresas; por outro, sobre a preparação das mesmas para conseguirem levar avante os seus negócios.

Fevereiro de 2020 foi talvez o melhor mês para o Grupo Pestana. Março ficou marcado pela inauguração do 100ºhotel da rede mas também pelo encerramento de todas as unidades em Portugal. A crise da Covid-19 fez com que o grupo fechasse também, e de forma gradual, todas as unidades que tem pelo mundo. De acordo com o CEO do Pestana, José Theotónio, a prioridade do grupo prende-se com a “gestão diária” e daí, seguem-se as preocupações, destacando a proteção dos “rendimentos dos colaboradores”, arranjando “formas de proteger o rendimento líquido” de todos. Além disso, o grupo tem-se focado também nos seus parceiros, clientes e fornecedores: “não atrasamos nenhum pagamento aos pequenos fornecedores”, diz o responsável, acrescentando que, com os clientes, foi levada a cabo uma política muito flexível de reembolso “sempre que houver necessidade”. A forma de tratar o cliente é, para o empresário, uma mais-valia para o futuro.

“Os hotéis vão reabrir de maneira muito diferente do que fecharam”

Atualmente, já é possível ver a luz ao fundo do túnel: “Já abrimos o golfe ao mercado nacional”, afirma José Theotónio, referindo que, em junho, está prevista a reabertura de “seis pousadas e quatro hotéis”. O mercado nacional será assim um “teste” para o Grupo Pestana que, para “funcionar bem”, estará dependente, acima de tudo, das regras de utilização de piscinas e praias. “Sem regras claras, não vai haver sequer turismo de verão nem turismo nacional”. Os sinais que têm sido anunciados são motivo de confiança para o responsável: “Se o mercado nacional responder, em julho vamos abrir mais unidades com maior peso”. No entanto, o turismo interno no verão corresponde a 30% da atividade do grupo: “Nunca será suficiente para a retoma da atividade”, diz o responsável, sublinhando que a mesma está “dependente da aviação”. E “sem transporte aéreo, não há turismo em Portugal”, atenta o empresário, destacando a importância de regras para os “aeroportos e companhias aéreas” que José Theotónio considera que devem ser “europeias”, até porque o momento seguinte será marcado pela “grande concorrência de destinos”, algo que poderá prejudicar a retoma. “Sem regras claras e standards europeus, isso vai fazer com que cada região faça as suas próprias regras”, podendo ser criada uma “confusão generalizada”, refere.

Há uma certeza: “Os hotéis vão reabrir de maneira muito diferente do que fecharam”. Garantir as normas de segurança e higiene e o distanciamento social, dando confiança aos colaboradores, clientes e população local, são, agora, prioridades numa retoma que será certamente lenta: para recuperar os níveis de fevereiro ou, até, de 2019, serão necessários “nunca menos do que 18 a 24 meses”, diz o gestor, alertando para o facto das empresas estarem preparadas para viver nos próximos tempos na “austeridade” e conseguirem assim “sobreviver”.

Recursos humanos são um “ativo” para permitir a retoma

Com grande parte da equipa em teletrabalho e com redução de horários, José Theotónio acredita que manter os recursos humanos ligados à organização é muito importante. “Os operacionais e os (colaboradores) de serviços partilhados são fundamentais para a retoma”, sublinha, considerando que são mesmo um “ativo” para a organização. No entanto, o atual método de trabalho das equipas é desafiante: “Temos promovido muita formação online e conversas frequentes” para que a ligação se mantenha. Além disso, têm sido reforçados outros projetos estruturais como a “melhoria do nosso site e canal direto” ou o lançamento da aplicação do grupo, promovendo novos comportamentos de check-in e check-out online. Uma vez que os novos standards da reabertura serão muito diferentes, o empresário considera ser fundamental envolver assim as “pessoas e a comunidade”, para que “estejamos preparados para o dia da retoma”.