#SmartandGreenTourism: Empresas terão “dificuldade de acesso ao capital” se não tiverem “em conta aspetos de sustentabilidade”

Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, moderou o debate entre Sofia Santos, Roberta Medina, vice-presidente do Rock in Rio, e Luís Neves, CEO da GeSI.

A Ambitur, em colaboração com a Fundação AIP, realizou na passada semana, dia 17 de março, no âmbito da BTL, a Conferência Smart and Green Tourism, que contou com dois painéis. “Como deve o turismo caminhar na busca de uma maior sustentabilidade” foi o painel moderado por Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, e no qual Sofia Santos, CEO da Systemic, economista e especialista em sustentabilidade e financiamento sustentável, deu o seu contributo.

A trabalhar esta temática já já 20 anos, a responsável foi assistindo à sua evolução e garante que, quer se trate de empresas privadas ou públicas, entidades públicas ou centros de investigação “há sempre formas diferentes de aplicar a sustentabilidade” e que no setor do turismo o principal aspeto a ter em conta é o facto de ser maioritariamente constituído por microempresas.

“Há desafios para se atingirem práticas mais sustentáveis mas, por vezes, complicamos demais as coisas”, admite Sofia Santos, que não hesita em resumir em três áreas básicas aquilo que todos podemos fazer: tentar consumir menos energia, menos água e ter menos resíduos. Só isto já seria “um grande caminho”, assegura a economista, adiantando claro que dependendo depois da dimensão das organizações, resultarão ações proporcionais para levar à diminuição deste impacto. “Eu diria que se qualquer empresa se preocupasse com estes três componentes ambientais, se todos caminhassem nesse sentido, já conseguíamos dar grandes passos”, remata.

[blockquote style=”1″]”Eu diria que se qualquer empresa se preocupasse com estes três componentes ambientais, se todos caminhassem nesse sentido, já conseguíamos dar grandes passos”[/blockquote]

Luís Araújo, enquanto moderador, levantou a questão do custo e do receio das empresas em investir para ser sustentável. Ao que Sofia Santos respondeu afirmando que “qualquer pessoa que consiga aceder a informação, e ter algum tempo para a processar, consegue perceber que vai ter mais custos a 10 anos se não fizer nada, do que se fizer alguma coisa”. E alerta: “Os custos a 10 anos podem estar associados ao aumento da dificuldade de acesso ao capital se a sua atividade não tiver em conta os aspetos da sustentabilidade”.

[blockquote style=”1″]”Os custos a 10 anos podem estar associados ao aumento da dificuldade de acesso ao capital se a sua atividade não tiver em conta os aspetos da sustentabilidade”.[/blockquote]

A especialista em sustentabilidade e financiamento sustentável lembra que as exigências a nível do planeta são grandes e que é necessário pensar que existe um desequilíbrio planetário reconhecido pelos cientistas que coloca em causa o bem-estar da vida humana. E frisa que a “urgência é grande” pois “esse desequilíbrio já deixou de ser utópico e os cientistas dizem que no ano passado tivemos uma maior aceleração da degradação ambiental do que inicialmente se tinha pensado que poderia acontecer até 2030”.

Havendo esta perceção científica, que é acolhida pelas entidades públicas e pelo poder político, a nível europeu e mundial, “temos aqui uma grande carga moral que vai incidir sobre uma grande maioria das organizações durante os próximos anos”, aponta a oradora. E um dos setores em destaque será o financeiro.

Sofia Santos não duvida que “vai haver um certo estímulo para o setor financeiro começar a questionar quais são as práticas ambientais e sociais que as empresas vão começar a implementar porque os próprios rácios de capital da banca vão estar associados à qualidade ambiental e social dos seus empréstimos”. E diz que as contas dos bancos poderão não ser favorecidas se continuarem a emprestar dinheiro a empresas que não conseguem evidenciar um comportamento mais produtivo nesta matéria.

[blockquote style=”1″]”vai haver um certo estímulo para o setor financeiro começar a questionar quais são as práticas ambientais e sociais que as empresas vão começar a implementar porque os próprios rácios de capital da banca vão estar associados à qualidade ambiental e social dos seus empréstimos”[/blockquote]

A CEO da Systemic explica ainda que isso irá passar-se sobretudo ao nível do financiamento público, que “vai ter que garantir que não danifica significativamente o ambiente”, ou seja, tudo o que são dinheiros do Compete ou do Banco de Fomento, entre outros, “vão ter que justificar que o dinheiro que será utilizado na economia não danifica significativamente o ambiente”. E é nesse sentido que estamos a caminhar.

Sofia Santos compreende que ainda haja pessoas e organizações que pensem que os temas ambientais são um custo porque foi esse o contexto no qual fomos criados, mas “há que perceber que já ultrapassámos essa fase e que agora o acesso ao capital, em particular ao financiamento público, vai ter este tipo de critérios”. O que significa, resume, que “o custo de não estar alinhado com estes temas é superior ao custo de estar”, porque em última instância “posso conseguir aceder a capital e a fundos se tiver essas preocupações e começar a implementar práticas; se não as tiver, posso aceder a capital privado mais caro ou não conseguir aceder a financiamento algum”.

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