“Sou a prova de que com muito trabalho se consegue ter sucesso”

IMG_3672Como é que o turismo se cruza na sua vida?
Ao acabar o quinto ano de escolaridade fiz várias experiências. Falamos em meados dos anos 60. Fui ator de teatro e de fotonovelas, locutor e agente artístico – numa altura em que não havia televisão. Sempre me habituei a falar em público com uma certa facilidade.
Nessa altura começou em Lisboa um fenómeno que era a vinda de turistas americanos, porque os aviões que vinham dos EUA para a Europa tinham de parar em Lisboa, devido à sua autonomia. Através de um amigo apercebi-me que era uma coisa boa andar com o microfone e explicar o que era a cidade de Lisboa. Foi assim que comecei no turismo: como guia dentro dos autocarros.
Na altura havia uma grande agência de viagens em Portugal a Cityrama/Capristanos e foi aí que comecei, em 1965, a trabalhar como técnico ligado à vinda de estrangeiros a Portugal, que é a minha especialização. É ao que me dedico até hoje, cinquenta anos depois.
IMG_3665Quer falar-nos do seu percurso?
Trabalhei em poucas empresas. Enquanto estava nos Capristanos vivi o período do PREC, durante o 25 de Abril. Lembro-me de termos feito uma greve com ocupação de instalações, que era uma coisa que estava na moda, para impedir o lockout, com piquetes, tendo sido a primeira greve no mundo no setor das agência de viagens.
Depois dos Capristanos tive uma experiência distinta nas Viagens Meliá, entre 1976 e 1979, a maior multinacional do mundo de viagens, que me deu uma experiência e visão positiva e acesso a novas formas de gestão pioneiras, como por exemplo, o sistema Meliatronic, para reservas.
Em 1979 tive a brilhante ideia, juntamente com dois companheiros da Meliá, de fundar a Top Tours, que foi uma história de sucesso ímpar, que ainda subsiste hoje apesar das várias pequenas mudanças de nome e acionistas. Ainda hoje a Top Atlântico é uma referência.
Quando já deveria ter arrumado as «botas», porque estava aborrecido de estar em casa sem fazer nada, decidi criar a TopMic.

 

IMG_3634Qual o desafio que mais o marcou?
O início da Top Tours é uma coisa que marca. Foi uma empresa que teve o seu início em 1979, numa sala alugada com dez metros quadrados e uma máquina de escrever que custou 500 escudos, em segunda mão. Entre maio e dezembro de 1979 assim foi. Tinha uma promessa de que iriam entrar, em janeiro de 1980, o Sr. Mário de Matos e o Sr. Jacinto Aleixo (que estavam na Meliá), o que veio a acontecer. Um dos grandes segredos e desafios da Top Tours foi ter três áreas de atividade distintas. Uma, o incoming, dirigida por mim, outra o outgoing, dirigida pelo Mário de Matos, e a terceira vertente, a venda por grosso, dirigida pelo Jacinto Aleixo. Trabalhávamos os três, de manhã à noite, inclusive ao sábado e domingo. Fizemos um grande esforço entre 1979 e 85/86.
A fundação e o percurso da Top Tours é um marco de tal forma que conseguimos à posterior concretizar a concentração/fusão com a Macrotur.
Não escondo também que a TopMic tem para mim um sabor muito especial, que resulta de revisitar o passado. Quando inicio a TopMic, numa sala alugada, em janeiro de 2012, onde pusemos umas secretárias usadas e começo a pensar: agora onde vou vender viagens? Onde vou arranjar quem me compre viagens? Foi voltar ao início.

 

IMG_3655O negócio da TopTours foi um dos maiores negócios feito no setor das viagens em Portugal…
De longe e dos próximos anos, se pusermos como exceção o que a Springwater pagou pela Top Atlântico, mas que está na base no negócio feito connosco. Foi um negócio muito importante, o dinheiro foi secundário, apesar de falarmos num montante avultado. Nesta altura há dois negócios diferentes. Quando aproximámos o Grupo Espírito Santo para fazer a fusão da Top Tours com a Macrotur, este não envolvia dinheiro, mas sim troca de participações, em que considerávamos que a Top Tours valia mais que a Macrotur. O rácio daria que ficássemos com 70% e o Espírito Santo com 30%. Só que o GES queria ter no mínimo 50%, havendo então um acerto de compensações.
Este foi o primeiro negócio, no ano 2000, em novembro. Ficámos então com 50% do grupo. No início de 2001 as coisas não correram bem na gestão conjunta. Propus então ao outros sócios comprar-lhes as posições, o que aconteceu.
Este acordo é feito dia 31 de agosto de 2001, em que estabelecemos os valores, mas dando-me até 15 de setembro para o concretizar. Só que deu-se o 11 de setembro. Isto significou que entre o dia 11 de setembro e o 15 de setembro nem dormi, porque não sabia se havia ou não de comprar. Mas concretizei e fiquei com 50% da empresa.
Em 2004 vendi a minha participação pessoal (GES), com uma transação relativamente importante. O negócio concluiu-se a 31 de dezembro de 2014. Fiquei então como administrador não executivo de algumas empresas relacionados com o turismo, nomeadamente os Hotéis Tivoli e a companhia de aviação Portugália.

 

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Se pudesse voltar atrás no tempo, faria alguma coisa diferente?

Eventualmente. Não teria feito a fusão que fiz com a Macrotur. As coisas acabaram por correr mal. Talvez tivesse sido uma opção diferente ter continuado a Top Tours, com a sua dimensão, sendo a segunda ou terceira do mercado, mas ter continuado. Se isso fosse assim, o panorama das viagens em Portugal seria completamente diferente. E na altura havia um dos sócios que não queria vender, o Sr. Mário de Matos. Ele queria que continuássemos com o negócio.

O associativismo também faz parte da sua vida…
Sim. Por exemplo, antes da Expo’98, ou seja, em 1997, transmiti ao dr. Vitor Costa (responsável pelo turismo em Lisboa) que antevia um problema de atratividade do destino. Estávamos a fazer um grande esforço financeiro para a realização da Expo’98. Esta é a génese da criação da Associação do Turismo de Lisboa, que fará no próximo ano os 20 anos. Fui o único presidente do Turismo de Lisboa em representação dos privados.
Na parte associativa tive um grande papel na fundação da CTP, que foi feita com base nos meus grandes esforços, e de outros profissionais. Começámos por constituir o CNET, Conselho Nacional das Empresas de Turismo, depois em vésperas do Dr. Fernando Nogueira ser candidato pelo PSD a Primeiro-Ministro decidimos avançar com a Confederação do Turismo, cujo primeiro presidente foi o saudoso Fernando Martins.
A APAVT a que estive ligado enquanto presidente da mesa de Assembleia-Geral durante quatro ou cinco mandatos também teve um papel importante na CTP, tendo assumido posteriormente a direção através do dr. Atílio Forte. A minha atividade associativa prende-se com a CTP, APAVT e Associação do Turismo de Lisboa. É daí que me advém as medalhas e condecorações que me foram atribuídas. Neste campo não me arrependo de nada e fazia tudo igual.

Leia a entrevista na integra na edição 291 da Ambitur.