Sustentabilidade: “Há um novo tipo de visitante em franco crescimento com uma forte preocupação sustentável”

Estamos a ouvir os Conselheiros Ambitur sobre a questão da sustentabilidade no turismo e José Luís Arnaut deixa aqui a sua visão. O presidente adjunto da Associação Turismo de Lisboa lembra que “uma estratégia de sustentabilidade eficiente para o turismo deverá pressupor que as iniciativas são acessíveis a todos”.

Considera que a temática da sustentabilidade no turismo é prioritária para os gestores turísticos?

A temática da sustentabilidade é uma realidade no turismo e em todos os outros setores da sociedade. É uma temática fundamental quando pensamos no desenvolvimento da atividade turística, em políticas de crescimento ou em gestão do turismo. Existem objetivos muito ambiciosos na Agenda 2030, em prol das pessoas e do planeta, pelo que não só o Turismo como todos os outros setores devem estar envolvidos neste desafio.

No Turismo, a sustentabilidade está associada a uma multiplicidade de questões, desde ambientais, a energéticas, tecnológicas ou até mesmo sociais. Sem dúvida que é, cada vez mais, um fator de competitividade e de diferenciação que se verifica, nomeadamente, eficiência energética, redução do consumo da água e do desperdício alimentar, promoção da reciclagem ou até mesmo a gestão de recursos e de pessoas de uma forma eficiente.

Os turistas estão cada vez mais preocupados com o planeta e isso nota-se no seu comportamento, sempre que valorizam as opções que contribuem para a redução da pegada de carbono.

Que processos e aplicações de conceitos devem ser acelerados?

Alguns dos processos e aplicações de conceitos que podem e devem ser acelerados prendem-se com uma base simples de uma relação positiva entre o turismo, o ambiente e ordenamento do território, bem como uma forte influência do conceito de economia circular. Paralelamente, é preciso que as soluções sejam viáveis a médio e longo prazo, pois de pouco serve ter soluções ecológicas, se as mesmas tiverem um preço bastante superior ao alternativo.

Uma estratégia de sustentabilidade eficiente para o turismo deverá pressupor que as iniciativas são acessíveis a todos, pois só assim traduzem real impacto na sociedade e no planeta.

Tendo em conta as características do país, este pode ser um processo fácil?

Tendo em conta todas as características do nosso país, temos a plena consciência que este não será um processo fácil. Já muita coisa começa a ser feita, mas ainda há muito que falta fazer no que à sustentabilidade no turismo se refere. As empresas são um condutor importante neste processo, mas é necessária uma ação conjunta de todos os intervenientes.

É preciso que um destino turístico bem-sucedido não seja apenas aquele com os melhores resultados económicos. Para ser bem-sucedido, este deve ser gerador de rendimentos para a comunidade local, deve garantir a qualidade de vida da população, e valorizar e preservar o património, a cultura, as tradições, os recursos naturais, com o uso consciente dos ecossistemas, e este tem de ser um processo agregador e inclusivo, que tem de envolver o esforço de todos.

Quais os principais desafios e entraves que se devem ter em conta para um maior investimento nesta área por parte dos empresários turísticos? Como será possível debelá-los?

Penso que os principais desafios e entraves para um maior investimento passam por, em primeiro lugar, a perceção, por parte dos empresários turísticos, de que este é um investimento importante e com resultados muito positivos, a curto e longo prazo. Tanto ao nível económico como ao nível social. As infraestruturas que revelam preocupações com a sustentabilidade ambiental são aquelas que mais se têm diferenciado no mercado, atraindo mais público e de diferentes segmentos.

A verdade é que há uma procura cada vez maior pelo turismo sustentável, por soluções, algumas vezes até mesmo luxuosas, mas que não têm um impacto negativo no meio ambiente. Há um novo tipo de visitante em franco crescimento, um tipo de turista mais sustentável que procura este tipo de soluções e que vai selecionar destinos, infraestruturas ou opções turísticas com uma forte preocupação ambiental e sustentável, em detrimento das restantes.

É preciso entender que este tipo de investimentos económicos vai ter impactos muito positivos, não só a nível ambiental, como se pode pensar, mas socioculturais e, principalmente económicos. Mas temos consciência de que o investimento inicial, que muitas vezes ainda não tem os apoios e incentivos necessários, pode ser assustador ou pouco atrativo.