Sustentabilidade: “Importa liderar as tendências que influenciam eficazmente a procura”

Estamos a ouvir alguns Conselheiros Ambitur sobre a temática da sustentabilidade e a forma como é encarada pelo setor do turismo. Eduardo Jesus, secretário regional de Turismo e Cultura da Madeira, sublinha que a Região Autónoma da Madeira já concluiu o processo de certificação como Destino Turístico Sustentável e que a sustentabilidade é uma obrigação.

Considera que a temática da sustentabilidade no turismo é prioritária para os gestores turísticos?

A sustentabilidade é uma obrigação que ganha mais valor em função da capacidade de antecipação de práticas que nos possam distinguir de outros destinos. Sabemos que todos nós estaremos obrigados a voluntariamente seguir determinadas práticas e o facto de anteciparmos, coloca-nos melhor situados. Num mercado global e tão competitivo como é este do turismo, importa liderar as tendências que influenciam, eficazmente, a procura.

Que processos e aplicações de conceitos devem ser acelerados?

O turismo de hoje sobressai por ter viajantes cada vez mais atentos ao verdadeiro impacto das suas deslocações no ambiente e na sociedade. Nesse sentido, valorizam aspetos que vão muito além do que podem ver e fazer nos destinos. Um exemplo traduz-se no aumento da procura por soluções que calculem a pegada carbónica, permitindo compensá-la.

Daí que a sustentabilidade constitui uma das principais aliadas do turismo pelo que o setor tem de continuar a adaptar-se para corresponder a um elevado nível de satisfação dos turistas.

Existe um compromisso assumido que resulta do dever de participação num processo que a todos diz respeito.

Tendo em conta as características do país, este pode ser um processo fácil?

A facilidade ou dificuldade é sempre subjetiva. Daí que, tal como em muitas vertentes, há que haver pragmatismo e foco no que se pretende fazer.

No caso concreto da Região Autónoma da Madeira concluímos o processo de certificação como Destino Turístico Sustentável, liderado pela Secretaria Regional de Turismo e Cultura através da Direção Regional do Turismo. Teve como requisitos obrigatórios a elaboração de documentos como a Política de Sustentabilidade do Destino, a Avaliação de Riscos e ainda um Plano de Ação que estabelece um conjunto de compromissos e ações para a sustentabilidade para o período de 2022-2030, os quais foram elaborados em conjunto com os Grupos de Trabalho que integram a Estrutura de Gestão da Sustentabilidade do Destino.

Seguimos o programa delineado pela EarthCheck, que culminou, em fevereiro, com a obtenção do selo prata.

Iniciado no final de julho de 2021, a certificação traduz-se num passo fundamental na afirmação da Madeira enquanto destino turístico reconhecido, que deve fazer parte da estrutura de um novo modelo de turismo, capaz de gerar uma procura diferenciada, por estar na linha da frente na promoção do desenvolvimento sustentável do território, na autenticidade sociocultural das comunidades, na preservação da biodiversidade, na garantia do bem-estar social e na segurança económica dos destinos, com o uso consciente dos recursos ambientais.

Quais os principais desafios e entraves que se devem ter em conta para um maior investimento nesta área por parte dos empresários turísticos? Como será possível debelá-los?

Em relação ao processo de certificação da RAM, envolvemos toda a comunidade local. Isto porque acreditamos que um território para quem o visita é necessariamente um território de bem-estar para os residentes.

A participação de todos foi o elemento mais fundamental de todo este processo. Querer certificar o território, nesta perspetiva da sustentabilidade ambiental, económica, social e também cultural, não pode deixar ninguém de fora. E, no caso da Madeira, não foi apenas uma participação para tomar conhecimento e sim uma participação com intervenção assumida.

Trata-se de um processo estruturante que resulta de um envolvimento generalizado e com consequências muito abrangentes, logo, só assim faz sentido.