Sustentabilidade: “Os principais desafios prendem-se com a necessidade de uma visão comum nas várias entidades ligadas ao Turismo”

Estamos a auscultar os Conselheiros Ambitur sobre a temática da sustentabilidade e a sua relação com o setor do turismo. José Lopes, diretor geral da easyJet para Portugal, indica que na indústria da aviação, o desafio está na modernização do espaço aéreo europeu e a implementação de meios tecnológicos de otimização de voo.

Considera que a temática da sustentabilidade no turismo é prioritária para os gestores turísticos?

A temática da sustentabilidade deve ser prioritária em todos os setores, inclusive o do turismo. Têm-se observado avanços muito significativos na área, desde a redução de plástico, à implementação de consumos e produções mais sustentáveis, ou a utilização sustentável dos recursos naturais, mas claro, há ainda muito espaço para evoluir. No entanto, existem diversas iniciativas a nível europeu e global com o objetivo de focar vários eixos do setor e motivar os stakeholders a atuar de forma mais ecológica e responsável. No caso da easyJet, a sustentabilidade é sem dúvida uma prioridade. Não só de agora, mas já de há muito tempo, numa altura em que ainda não se falava tão ativamente destas temáticas. Atualmente estamos muito comprometidos com a redução de emissões de carbono na aviação, tendo lançado no ano passado o nosso “Roadmap to Net-Zero by 2050” cujo objetivo é atingirmos 0% emissões de carbono em 2050. Podemos dizer orgulhosamente que desde 2000, já reduzimos as emissões de carbono por passageiro por quilómetro em um terço através da renovação contínua da nossa frota, operações mais eficientes e aviões mais cheios. Também lançámos em 2021 novos uniformes para os pilotos e tripulação de cabine, feitos a partir de garrafas de plástico, cuja pegada de carbono é significativamente menor do que a do poliéster tradicional e fomos, nesse mesmo ano, a primeira companhia aérea a operar, a partir de Gatwick, voos movidos com 30% de combustível de aviação sustentável.

Que processos e aplicações de conceitos devem ser acelerados?

Estamos a trabalhar com os nossos parceiros Airbus, Rolls-Royce, GKN Aerospace, Cranfield Aerospace Solutions e Wright Electric, no sentido de desenvolvermos tecnologias cada vez mais ecológicas, que promovam a redução das emissões e a utilização de combustíveis de aviação sustentáveis, como a eletricidade ou o hidrogénio. Obviamente são processos que levam o seu tempo, pois requerem muita investigação e testes rigorosos para que tudo seja implementado com a maior segurança e é nesse sentido que seguimos o plano para a redução de carbono até Net Zero em 2050. Temos inclusivamente estabelecida uma meta intermédia deste percurso que visa a redução da intensidade de emissões de carbono em 35% até 2035. Em todo o caso, há pequenos gestos que cada um de nós pode adotar quando viajar e que a easyJet promove de forma ativa. Um deles é a maneira como fazemos as malas. Tendemos a ocupar muito espaço e a levar itens que nem vão ser utilizados, aumentando o peso da mala, sem necessidade, mesmo em viagens de curta duração. Defendemos, por isso, uma política de light luggage, ou seja, bagagens mais pequenas em espaço e peso, que no fim do dia ajudam na gestão de combustível e emissões do avião, uma vez que este não voa tão sobrecarregado. É um passo simples ao alcance de qualquer um.

Tendo em conta as características do país, este pode ser um processo fácil?

Portugal é um país com uma consciência ecológica bastante avançada e com características que podem e devem ser exploradas, nomeadamente no que diz respeito ao clima, com todo o seu potencial para as energias renováveis como é o caso da solar e a eólica. Isto falando do Turismo num sentido mais lato. No caso da aviação em concreto, atualmente não podemos pensar em Portugal como um país isolado. Estamos inseridos no contexto europeu com todas as vantagens e desvantagens que acarreta. Isto significa que todos os avanços de sustentabilidade no setor são pensados de forma integrada, de maneira a serem incorporados pelos vários países de forma eficaz sempre, mas também segura e eficiente.

Quais os principais desafios e entraves que se devem ter em conta para um maior investimento nesta área por parte dos empresários turísticos? Como será possível debelá-los?

Na verdade, os principais desafios prendem-se com a necessidade de uma visão comum da sustentabilidade, nas várias entidades ligadas ao Turismo. E isto pode não ter diretamente a ver com uma questão de investimento financeiro, até porque a União Europeia se encontra muito determinada em fomentar esta evolução. Temos de olhar para Portugal e para o mundo e pensar que se não agirmos, estamos a comprometer gerações futuras. Na indústria da aviação, o desafio está na modernização do espaço aéreo europeu com ligações mais diretas entre os destinos, e a implementação de meios tecnológicos de otimização de voo, tanto ao nível capacidade como da eficiência na utilização de combustível. Para isso é necessário enfrentar a mudança, o que nem sempre é fácil quando já existem hábitos e métodos muito enraizados. No caso da easyJet, essa mudança já tem vindo a ser feita de uma forma muito sustentada e com resultados evidentes. Mais recentemente, temos feito esforços em conjunto com os nossos parceiros, com o intuito de modernizarmos o espaço aéreo, atuando em várias frentes. A começar pela economização de energia através da renovação contínua da nossa frota para aviões NEO, com tecnologias que minimizam a queima de combustível (até 2029 iremos adicionar 168 destes aviões à nossa frota) e mesmo em termos de ruído são muito mais amigos do ambiente. Estamos também a trabalhar na implementação de tecnologias que promovam a eficiência dos voos, com ferramentas de controlo de gestão de combustível e no desenvolvimento de tecnologias que permitam voos movidos a combustíveis sustentáveis como a energia elétrica ou o hidrogénio, removendo assim as emissões de carbono. Destacamos também o facto de ser necessário continuarmos a promover a consciencialização para estes temas não só junto das populações, como também dos vários stakeholders e reguladores da indústria.