TAP assume “uma forte ambição de contribuir ativamente para o futuro sustentável da aviação”
A Ambitur falou com algumas das principais companhias aéreas a operar em Portugal para um trabalho especial publicado na edição 354 sobre a sustentabilidade no setor do turismo. Hoje, deixamos a visão da TAP, nas palavras da sua diretora de Sustentabilidade, Maria João Calha, acerca das metas e iniciativas a este propósito. Engenheira do Ambiente de formação, e com experiência de 20 anos no setor da aviação, a responsável, que reporta diretamente à Chief Customer Officer, conta com uma equipa multidisciplinar que colabora de forma integrada com as várias áreas da empresa, com o objetivo de acelerar a transição da TAP para um modelo de operação cada vez mais sustentável. A responsável não hesita em afirmar: “A TAP está a consolidar uma abordagem integrada à sustentabilidade ambiental, com metas claras, iniciativas concretas e uma forte ambição de contribuir ativamente para o futuro sustentável da aviação”.
Na companhia aérea portuguesa, a sustentabilidade e o desempenho ESG (Environmental, Social e Governance) são encarados como “pilares centrais” de uma estratégia que visa criar valor a longo prazo, reforçar a resiliência do negócio e fortalecer a confiança dos stakeholders. Isso mesmo nos explica Maria João Calha, que adianta que a TAP tem vindo a traçar o seu próprio percurso para a descarbonização, com objetivos e metas a médio prazo que promovem um crescimento operacional mais responsável, sempre alinhada com a agenda global para a neutralidade carbónica e com a Aliança para a Sustentabilidade na Aviação, no âmbito do Roteiro Nacional para a Descarbonização da Aviação (RONDA).
Nesta estratégia, um dos eixos centrais é a modernização da frota. A entrevistada recorda que, só em 2024, a substituição progressiva de aeronaves por modelos de nova geração, por isso mais eficientes, permitiu alcançar uma melhoria de 9,7% na eficiência energética operacional face a 2019.
Outro compromisso assumido pela transportadora é a promoção de combustíveis de aviação sustentáveis (o chamado SAF) e aqui a meta é, incorporar, até 2030, 10% de SAF na operação, ultrapassando as exigências regulamentares da União Europeia. “Esse objetivo reflete a nossa ambição em definir um roadmap claro contribuindo para uma aviação mais sustentável”, realça a diretora de Sustentabilidade.
a companhia de aviação nacional tem investido na circularidade a bordo, através do projeto “Sustainable Cabin”, que promove a triagem e reciclagem de resíduos nos voos com chegada a Lisboa
Além disso, a companhia de aviação nacional tem investido na circularidade a bordo, através do projeto “Sustainable Cabin”, que promove a triagem e reciclagem de resíduos nos voos com chegada a Lisboa. Atualmente, mais de dois terços dos itens não alimentares utilizados a bordo já são rotáveis ou recicláveis, e os plásticos descartáveis estão a ser progressivamente substituídos por alternativas mais sustentáveis.
NO domínio da gestão ambiental, Maria João Calha destaca a certificação IEnvA (IATA Environmental Assessment), alcançada em 2024. Baseada na norma ISO 14001, esta certificação reforça os processos internos da companhia e assegura a integração de boas práticas ambientais na operação, contribuindo para a redução do impacte ambiental.
Os resultados de uma estratégia integrada
Esta estratégia encontra-se já numa fase de consolidação e aceleração, garante a gestora: “Hoje, já conseguimos apresentar resultados mensuráveis”. E um dos mais expressivos é, sem dúvida, a melhoria de 9,7% na eficiência energética, refletindo o impacte direto do investimento em aeronaves de nova geração e na otimização de operações.
Mas também a nível da circularidade a bordo se têm registado progressos “significativos”, assegura: Atualmente, 92% dos itens descartáveis utilizados nos voos são recicláveis e 67,5% dos itens não alimentares são reutilizáveis (rotáveis). Além disso, 75% destes materiais têm origem nacional, promovendo a economia local e reduzindo as emissões associadas ao transporte.
Atualmente, 92% dos itens descartáveis utilizados nos voos da TAP são recicláveis e 67,5% dos itens não alimentares são reutilizáveis (rotáveis)
Já no que diz respeito aos resíduos, a TAP tem em curso dois projetos estratégicos que visam minimizar o impacte ambiental das atividades em terra e em voo. Em 2024, lançou uma iniciativa de reciclagem a bordo, que tem como meta reciclar 60% dos resíduos de catering gerados nos voos europeus com chegada a Lisboa. E no Campus da TAP, sempre que tal é tecnicamente e economicamente possível, privilegia-se o encaminhamento dos resíduos para valorização, em detrimento da eliminação. A responsável aponta que, no ano passado, 63% dos resíduos produzidos pela companhia em território nacional foram encaminhados para valorização. Mas sublinha que o maior foco continua a ser a redução da produção de resíduos na origem, adiantando que um bom exemplo é o trabalho desenvolvido nas áreas de manutenção, priorizando-se a reparação de peças e componentes sempre que possível.
“Estamos, assim, numa fase de implementação ativa, com foco na entrega de resultados concretos e na consolidação de uma abordagem ambiental estruturada e alinhada com o futuro do setor”, resume Maria João Calha, à Ambitur.
Quais os desafios?
Mas há desafios pelo caminho e a TAP tem consciência de que a melhoria do desempenho ambiental em qualquer companhia aérea é inevitavelmente acompanhada de “desafios relevantes”.
A diretora de Sustentabilidade da empresa aponta a disponibilidade e o acesso a soluções tecnológicas sustentáveis como sendo um dos principais desafios, nomeadamente no que toca a combustíveis de aviação sustentáveis, que ainda apresentam custos significativamente superiores aos combustíveis fósseis e uma disponibilidade limitada, especialmente na Península Ibérica.
Outro desafio prende-se com a gestão e digitalização de dados ambientais, fundamentais para uma monitorização eficaz, reporte transparente e tomada de decisão baseada em evidência. “Com a evolução dos requisitos regulatórios — como acontece com a nova diretiva europeia CSRD — torna-se fundamental implementar sistemas de recolha de informação mais robustos e processos integrados e transversais, que assegurem o acompanhamento rigoroso dos indicadores de desempenho”, esclarece Maria João Calha.
a sustentabilidade exige a mobilização de toda a organização e a integração de novos comportamentos, rotinas e prioridades no dia-a-dia de equipas altamente especializadas
Internamente, a responsável destaca o desafio da gestão da mudança organizacional e explica que a sustentabilidade exige a mobilização de toda a organização e a integração de novos comportamentos, rotinas e prioridades no dia-a-dia de equipas altamente especializadas. “Para isso, temos vindo a reforçar a formação, a sensibilização e o envolvimento das áreas operacionais, com o objetivo de acelerar esta transição com impacto real”, afirma.
Por fim, evidencia que a colaboração com stakeholders externos — desde fornecedores e parceiros a entidades públicas — continua a ser essencial. E não tem dúvidas de que “muitos dos avanços ambientais mais significativos dependem de soluções integradas e de ecossistemas de inovação que estão ainda em desenvolvimento”.
Por Inês Gromicho