TAP cresce em receitas e em número de passageiros apesar dos prejuízos

A TAP apresentou, esta sexta-feira, os resultados financeiros de 2018. O aumento do preço do petróleo e “custos não recorrentes e extraordinários” geraram um prejuízo de 118 milhões à companhia aérea portuguesa.

Miguel Frasquilho, chairman da TAP

Na sessão de apresentação em que a Ambitur esteve presente, Miguel Frasquilho classificou 2018 como sendo um “ano difícil em termos operacionais, económicos e financeiros” mas que “não compromete o nosso futuro”. O chairman da TAP Portugal referiu que estes resultados não são um entrave à criação de “raízes para que o plano estratégico possa continuar a ser implementado como estava previsto”.

Coube a Antonoaldo Neves apresentar os resultados. O presidente executivo  da TAP Portugal destacou o aumento das receitas como um desafio que “superámos, apesar da desaceleração”. Num ano de prejuízo, a TAP  conseguiu aumentar o desempenho da caixa para os “233 milhões de euros” quando comparado com 2017, o que significa um “aumento de 39%”. Apesar de ter sido um ano complicado, “conseguimos manter a dívida da empresa com a banca do mesmo padrão dentro dos 280 milhões que nós tínhamos em 2017”. Os rácios definidos pela banca portuguesa no processo de recuperação pela dívida foram atingidos no ano passado. “Conseguimos entregar todos os rácios”, sublinha

Receitas, vendas e novos mercados

Em 2018, as receitas da TAP apresentaram um “bom resultado. Crescemos 9,1% e passou a 3.2 mil milhões de faturação”, um feito considerado “notável”, para além do aumento do número de passageiros transportados. “Em comparação com o ano passado, aumentámos mais um milhão e meio”, atingindo a marca dos 15,8 milhões. Antonoaldo Neves sublinha que este crescimento quer do número de passageiros, quer das receitas da TAP foi “mais do que o dobro das nossas companhias aéreas competidoras na Europa.”

No que toca aos mercados, o presidente executivo da TAP frisa que as receitas da transportadora no Brasil, o principal mercado externo da companhia aérea, “caíram 10%” em 2018. “Pela primeira vez, no quarto trimestre, (este mercado) teve menos vendas no ano 2018 do que em 2017”, destaca. Mesmo assim, a receita da empresa cresceu 9,2% “graças a todos os investimentos”. O responsável refere o aumento para as 11 mil das descolagens (30 descolagens a mais por dia). “A nossa frota aumentou permitindo uma maior eficiência da TAP”, sublinha.

Além disso, a operação da TAP Manutenção e Engenharia (TAP ME) no Brasil foi reestruturada. Com um custo de 27,6 milhões de euros, a reestruturação levou a que mais de mil colaboradores fossem dispensados e a operação de Porto Alegre encerrada. No entanto, a TAP ME Brasil deverá apresentar resultados positivos. Por seu turno, a TAP ME Portugal conseguiu um crescimento de 55% face ao ano anterior graças à venda de serviços externos.

A América do Norte foi um dos mercados que mais se destacou pela positiva nestes resultados. Antonoaldo Neves referiu que a companhia cresceu em 10% com as parcerias conseguidas, totalizando cerca de “800 mil clientes vindos dos EUA”.

As novas rotas lançadas permitiram “subir o ranking da rentabilidade”, garantindo a sustentabilidade da empresa. A título de exemplo, só no mercado de Chicago “vendemos 70% das passagens nos EUA. Isso é atrair turistas para Portugal”, refere o presidente executivo, sublinhado que a empresa “nunca lançou 17 novas rotas em apenas um ano” e a atual equipa “foi capaz de as lançar”. Considerado como um “mercado emergente”, só no fim deste ano é que “os frutos vão ser colhidos”.

Noutros mercados, a companhia aérea também evoluiu positivamente. Na América Latina e em África, houve um crescimento de /% e de 11%, respetivamente, com este último a registar “mais 1,5 milhões de passageiros. Já no mercado nacional, o crescimento foi de 9% com 94 mil passageiros.

Satisfação do cliente melhorou

Antonoaldo Alves não poupou nas palavras para descrever a situação da companhia aérea nacional em relação aos serviços de apoio aos clientes: “A TAP tinha uma deficiência grave no serviço”. O ano anterior foi de investimento nesta área, com o lançamento de um novo site, novos serviços na classe económica e um melhor tratamento das reclamações no call center. Além disso, a taxa de atendimentos ao cliente das chamadas para o serviço de apoio fixou-se, em 2018, nos 84%. Em 2019, o objetivo é os 90%. “É o mínimo que uma companhia pode fazer”, indica o responsável.

Outro ponto em foco, em 2018, foi a pontualidade. Só no ano passado foram cancelados 2.490 voos, tendo causado um prejuízo à empresa, entre indemnizações a clientes ao aluguer de aviões de substituição, de 41 milhões de euros. A administração não quer que o mesmo cenário se repita e, para isso, houve investimento “na melhoria dos processos internos para melhorar a pontualidade e foram colocados três aviões de reserva”, além da contratação de 100 colaboradores e da revisão no centro de controlo de operações. Além disso, a TAP está a promover um estudo numa “consultora internacional” por forma a “identificar melhorias na infraestrutura do aeroporto de Lisboa” contra estes problemas de pontualidade.

O que é certo é que as medidas estão a dar frutos: a pontualidade aumentou. Desde o início do ano até agora, a pontualidade dos voos da TAP situou-se nos 80% contra os 73% em período homólogo de 2018.

Contrato de proteção de combustível permitiu à TAP proteger metade do volume para 2019

Raffael Quintas

Dos investimentos realizados pela TAP em 2018, o administrador da TAP, Raffael Quintas, destaca os “custos não correntes e extraordinários” que atingiram os 95 milhões de euros. O aumento do preço do petróleo teve um grande impacto neste valor: se, em 2017, os gastos com combustível estavam nos 580 milhões de euros, em 2018, esta rubrica atingiu os 798 milhões de euros, uma aumento de 32%.Para mitigar esta questão, a TAP criou uma política de combustível estabelecendo um “contrato de proteção de combustível futuro feito com bancos internacionais.” Este investimento permitiu que a TAP “protegesse metade do volume de combustível para 2019” com um preço competitivo. Com a nova frota, cada aeronave que chega de rotas de Médio Curso poupa 20% do combustível, sendo que isso se reflete nos custos finais com poupanças até 8%. Até ao final de 2019, 73% das frotas de longo curso serão operadas por aviões NEO de última geração.

O responsável acredita que, dos “118 milhões de euros de prejuízo que tivemos no ano passado, 95 milhões são custos que não se devem repetir daqui para a frente”.

Impacto Social e económico para Portugal

Em 2018, a companhia de bandeira nacional teve um impacto social e económico significativo no país. Antonoaldo Neves sublinha que, no turismo, registaram-se “quatro milhões de turistas”, estimando cerca de “5,5 milhões de euros de receitas diretas para o turismo nacional”. Muito em graças às novas rotas, Portugal recebeu mais 20% de turistas americanos, representando “4,5% dos turistas em Portugal no ano”.

A TAP Portugal terminou o ano 2018 com “12 mil colaboradores diretos em Portugal”. A empresa promoveu um programa de pré-reformas e saídas voluntárias e que custou 26,9 milhões de euros, valor a ser pago ao longo dos próximos 10 anos. No entanto, com o programa, a companhia aérea vai conseguir poupar mais de 20 milhões de euros ao longo dos próximos anos.

Apesar do programa, foram contratados cerca de 1200 novos colaboradores, representando uma massa salarial de “43,6 milhões por ano”. Os custos com pessoal da TAP em Portugal totalizaram 680 milhões sendo que, em 2018, a TAP “pagou 267 milhões de euros em impostos e contribuições”. O presidente executivo é perentório ao afirmar que é a TAP  “maior exportadora de serviços em Portugal.”

Apesar de concluir que os resultados não foram “como o previsto”, Miguel Frasquilho não hesita em dizer que 2018 trouxe “lições para o futuro: A TAP não comprometeu o futuro, mas sim preparou-o”, conclui.