Turismo de Qualidade e Sustentabilidade em debate na Summit Shopping Tourism & Economy Lisboa

A 2.ª edição da Summit Shopping Tourism & Economy Lisboa decorreu na passada semana, no Pestana Palace Lisboa. “Políticas impulsionadoras do Turismo de Qualidade e a sua Sustentabilidade” foi o tema de uma das mesas redondas que contou com os oradores Cristina Siza Vieira, vice-presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP); Vítor Costa, presidente da Associação de Turismo de Lisboa (ATL); e Bruno Bobone, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa (CCIP). Coube à moderadora Helena Amaral Neto, coordenadora de cursos executivos no Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa (ISEG), levantar a primeira questão: “O que é o Turismo de Qualidade numa perspetiva hoteleira e empresarial?”.

Para Cristina Siza Vieira, a questão que se coloca é diferente: “Há turismo que se possa afirmar como tal sem qualidade?”, referindo que esta classificação “oscila para cada um de nós. O tipo de padrão de pessoas que viaja traz forças de tração opostas”, afirma, notando que “desde muito cedo” o ato de viajar está intrínseco em cada pessoa. Siza Vieira considera que o conceito “qualidade, para cada um de nós, é que as expectativas sejam correspondidas”, dando a possibilidade ao viajante de “emergir numa experiência que oferece tudo”. No caso da hotelaria, a responsável da AHP afirma que “servir o turista é de facto uma experiência de A a Z”. O Turismo de Qualidade começa por “corresponder às expectativas de quem nos procura”, desde o “momento em que o viajante faz uma pesquisa na internet” até ao “momento em que chega ao local ou país”, refere, destacando que “há toda uma questão de coerência e autenticidade” em seu redor.  Siza Vieira descreve este turismo como “aquele que é coerente com o destino e autêntico, não querendo ser algo que não é”.

Relativamente ao facto de o Turismo de Qualidade ser “medido” ao nível de estrelas, a responsável considera que “a qualidade” “não é algo que se meça por estrelas, por galardões ou chaves”.O hotel de cinco, três ou duas estrelas tem que “procurar corresponder àquilo que a pessoa procura”. Ligada à “qualidade” está a questão da sustentabilidade, algo que faz parte do ADN de um hotel”, afirma Cristina Siza Vieira, garantindo que um “turismo não sustentável não é Turismo de Qualidade”. Para a responsável da AHP há uma “relação muito direta” entre “sustentabilidade e a operação hoteleira”. No entanto, “não se pode olhar para uma cidade (Lisboa ou Porto) da mesma forma como se olha para o Alentejo”, acreditando que “há muito espaço para crescer sustentavelmente”. 

Já numa perspetiva de cidade, a responsável defende uma “relação entre o espaço e o habitante”, sabendo “receber quem nos visita mas também quem cá vive”. Na visão da representante da AHP, o turista é um “residente” embora “mais temporário do que os outros. Se uma cidade for boa para quem ela vive, será seguramente uma cidade boa para quem visita”, considera. 

Em relação ao “overtourism”, Cristina Siza Vieira é sucinta: “A verdade é que ainda ninguém descobriu um ponto de equilíbrio”. Olhando para Londres, “ existem muitos turistas” mas “estão todos concentrados no mesmos sítios”, aponta. No caso de Lisboa, a vice-presidente da AHP considera o último regulamento que surgiu do Alojamento Local (AL) como sendo uma “aproximação ao tema”, em que se realizou uma observação entre a proporção de AL e residentes, percebendo-se que “estamos a entrar em desequilíbrio em determinados bairros” pelo que foi “impedido” mais alojamentos nesse sentido. 

“Na cidade, nós vivemos do Turismo”

Baseando-se nos vários debates que se têm assistido, o presidente da ATL, Vítor Costa conclui que, “para alguns, a qualidade era termos as vantagens económicas do turismo e não termos turistas”. Sobre a regulamentação do AL, o responsável está de acordo mas questiona se é “apenas a limitação do AL que vai impedir que os habitantes continuem a sair os bairros históricos”. Para o presidente da ATL, estes problemas “já existiam antes de surgir o turismo”, afirmando que “a alguns poderes políticos também lhes interessa que o turismo seja uma ´bote expiatório` para a sua falta de políticas dirigidas às questões concretas”. A questão dos “bairros históricos” são “um exemplo” de tantos outros problemas. Vítor Costa defende que “não basta ´abolir` o turismo”, até porque vários estudos já realizados indicam que “uma grande parte da população considera positivo o impacto” da atividade. “Na cidade nós vivemos do turismo”, declara, considerando ser fulcral neste tema “identificar os segmentos, os mercados, as abordagens, os produtos e ter uma estratégia para o território”.

Relativamente à questão de “alongar a estada média”, Vítor Costa indica que “preferimos ter uma outra abordagem”. Considerando Lisboa como um destino turístico, aquilo que se pretende é ter uma “visão de um destino mais alargado”, afirma, destacando que no “seu interior existe uma enorme diversidade”, no qual “identificamos vários pólos com uma abordagem diferente”, como os “city shop breaks” enquanto “produto umbrella” ou os “produtos complementares” (sol e mar ou natureza,).

Ciente de que “dificilmente vamos viver um período em termos de atividade turística igual ao dos últimos cinco ou seis anos”, Vítor Costa destaca como desafios a “questão da sustentabilidade” e a “preparação para um novo ciclo de crescimento” e um “novo período” que se avizinha.

“Trabalhar a qualidade do resultado”

Numa lógica empresarial, o presidente da CCIP, Bruno Bobone, define “Turismo de Qualidade” como sendo aquele que “deixa os melhores resultados na atividade”, conseguindo ter a capacidade de “dar ao turista aquilo que ele espera mas também ajudá-lo a descobrir aquilo que ele deve levar daqui”,transmitindo um “maior conhecimento” e uma “maior capacidade” e fazendo com que o turista “leve muito mais do que aquilo que levaria se não tivesse essa ajuda”, acrescenta.

Notando “melhorias” na questão do excesso de turistas nos espaços culturais, nomeadamente nos museus, o presidente da CCIP afirma que “há muito a fazer” nesta matéria, destacando o exercício de “trabalhar a qualidade do resultado” como, por exemplo, “conseguir ser mais interativo nas visitas” para que “as pessoas consigam levar uma mais-valia e ter valido a viagem”, refere.

“Politização dos grandes objetivos estratégicos é o pior que se pode fazer”

Ao contrário do investimento na indústria, que é “muito estruturante para o país” mas com “resultados muito lentos”, o turismo, num “primeiro momento, já começou a distribuir rendimento”, explica Bruno Bobone, evidenciado que a relação dos habitantes com o turismo é de uma “proximidade enorme”. Este relacionamento, numa primeira fase, é  “muito positivo” porque “receberam dinheiro”, afirma. Já na segunda fase, existe um contraste: “os que se queixam e os que não se queixam”. Neste “contraste”, o presidente da CCIP refere a importância de “aproveitar as duas versões”, conseguindo em conjunto “envolvê-los” na decisão, fazendo o “melhor para o país e para a cidade” para que haja um “convívio positivo entre o turismo e a habitação”.

Bruno Bobone aproveita o momento para alertar para a “politização dos grandes objetivos estratégicos”, sendo o “pior que se pode fazer. Temos de proibir os políticos de usarem aquilo que nos é fundamental como um arma de arremesso para dizer mal do outro que está à sua frente”, afirma. Cabe aos políticos “saberem como atingir” determinado objetivo, não o mudando, atribuindo ao turismo “um papel muito importante” e que deve ser “usado como referência” nesta matéria.