Turismo em Rede foi o tema em cima da mesa de mais um webinar do 4º Fórum de Turismo Visit Braga, que teve lugar na passada semana. Ricardo Rio, presidente da Câmara Municipal de Braga, fez questão de dar início ao debate afirmando que “nada conseguiremos fazer sozinhos no sentido de valorizar o turismo e promover o nosso país”. E acrescentou que “quanto mais pontes criarmos entre os agentes do território, sejam eles autoridades públicas ou representantes do tecido empresarial, seguramente que estaremos a prestar um melhor serviço às comunidades”.
As Aldeias do Xisto, um projeto que agrupo 20 municípios e mais de 200 agentes privados, são um bom exemplo de turismo em rede. Isso mesmo garante Rui Simão, presidente executivo da ADXTUR – Agência para o Desenvolvimento Turístico das Aldeias do Xisto, que explica que se trata de um projeto de cooperação para estruturar uma oferta, que apesar de não se esgotar no setor turístico, acaba por nele encontrar a principal ferramenta de afirmação. As Aldeias do Xisto arrancaram no ano 2000 e estão hoje na sua terceira fase de desenvolvimento, com o desafio apontado a transformar notoriedade em negócio. “Assumimos como desafio central a capacidade de transformar esta rede já praticamente consolidada num ator coletivo capaz de vender, de se posicionar e de ganhar quota de mercado no país”, frisa o responsável. E lembra que, com a pandemia de Covid-19, a procura por destinos do interior do país se tornou ainda mais relevante no mapa mental dos portugueses e destinos como as Aldeias do Xisto, que já estavam devidamente organizados e tinham as ferramentas para acolher essa procura, tiveram vantagens acrescidas.
Manuel Pinheiro, presidente da comissão executiva do Vinho Verde, confirma esta redescoberta do interior que acabou por caracterizar o ano de 2020, e com isso a descoberta dos produtores de vinho. “E os poucos da nossa região que têm já programas e serviços tiveram um crescimento fora do normal”, esclarece. O orador salienta porém a importância da cidade de Braga, que funciona como plataforma giratória de turistas que podem chegar aos produtores de vinho verde. ” Para nós é importantíssimo que a cidade se desenvolva, que o turismo regresse, que os restaurantes e os hotéis se encham, porque quanto mais programas houver à volta da cidade mais esta rede funcionará como uma oferta urbana, com cultura, com património edificado, com animação, e depois uma oferta mais verde com atividades ao ar livre, com provas de vinhos e gastronomia”, adianta. Apontando como falha a falta de formação de muitos produtores, garante que está a ser feito um investimento nesse sentido, bem como numa série de iniciativas que funcionam como complemento da oferta turística como um todo.
Manuel Pinheiro aproveitou o momento para informar que está para breve a apresentação de uma aliança entre a Rota dos Vinhos Verdes, a Rota do Vinho do Porto, a Rota de Trás-os-Montes e a Rota do Varosa, no fundo, as rotas de vinho do Porto e Norte de Portugal. “Vamos começar a trabalhar em conjunto”, dá conta o responsável, lançando projetos para que o turista perceba a dimensão e a multiplicidade desta região. E frisa: “o funcionamento em rede é fundamental”.
“A procura turística não vai ter o mesmo comportamento de antes”
Também Beraldino Pinto, vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), acredita na importância do trabalho em rede. Defendendo que “o interior foi descoberto e a procura turística não vai o mesmo comportamento de antes”, sendo uma procura com uma maior perceção da questão da segurança, o orador garante que é este elemento que a região norte pode potenciar. E aqui o conceito de destino em rede “assume um papel relevantíssimo”, diz: a rede de produtos e serviços, de atores e de espaços, uma rede que terá de ser sempre de pontos de encontro e conexões. “E compete-nos a todos fazer com que esta rede funcione, que estas sobreposições de redes temáticas ou territoriais e as suas conexões acrescentem valor ao produto e tragam mais valor à região”, justifica. E aponta: “Se é verdade que o vinho e a gastronomia acrescentam valor ao turismo, também é verdade que o turismo acrescenta valor ao vinho”. E vai mais longe: “Se conseguirmos aumentar o preço pela diferenciação do vinho servido na região, associando-lhe a cultura, transmitindo a identidade, então estamos a contribuir para esse acrescento de valor”.
Beraldino Pinto diz que, ao nível da CCDR-N as estratégias PROVERE foram implementadas e já estão a dar frutos. E que a complementaridade de turismo de natureza, turismo rural, turismo patrimonial, turismo ativo, que no Minho já eram exemplares, tem-se reforçado com esta articulação, e agora com a rede urbana. “Temos que, na rede, permitir conexões para outros pretextos”, acredita, admitindo que “temos aqui um longo caminho de redes para construir mas com uma expectativa muito positiva neste momento”.
O orador lembra ainda que estamos perante novos tempos, nos quais os argumentos para o apelo à visitação não são só os tradicionais, até porque a pandemia trouxe o digital, as redes sociais, o teletrabalho. “Há toda uma nova rede que se associa”, crê Beraldino Pinto.
“A força da rede é a capacidade de planeamento e antecipação em conjunto”
O presidente executivo da ADXTUR não hesita em destacar as mais-valias do trabalho em rede. “A capacidade de em rede nos transformarmos como oferta é muito mais eficaz do que se o fizermos de forma desagregada”, assegura. E acrescenta: “A força da rede é a capacidade de planeamento e de antecipação em conjunto”. Rui Simão dá o exemplo da alteração que a pandemia trouxe, o ano passado, ao tipo de procura, dirigindo-a mais para moradias independentes, com piscina e churrasqueira, por exemplo. Mas a oferta era débil a este nível. “Em conjunto fomos capazes de responder a este tipo de procura”, advoga, “capazes de jogar no campeonato que disputa o interesse daqueles que têm condições para usufruir deste tipo de serviços, com uma oferta considerável”.
O orador admite que é “difícil trabalhar em rede” mas há um lado positivo, quando todos percebem que sozinhos valem muito pouco em termos de posicionamento do país. “Se, por um lado, é mais difícil agregar estes pequenos atores, por outro lado é mais fácil que ganhem a perceção do valor da rede”, explica. E adianta que é relevante “a noção de que a perceção de valor que se cria junto do mercado é que cria apetência pelos produtos que temos para vender”.
Rui Simão recorda também que no projeto das Aldeias do Xisto as partes pública e privada complementaram-se, e “não poderia ser feito de outra forma”. “Primeiro, a parte pública tem que ir à frente, mostrar caminho, aguentar a fase onde não é visível o custo-benefício” e depois “é importante que a parte pública assuma novos desafios no sentido de ajudar à estruturação e promoção desta rede de parceiros”.
“Não temos turismo a mais”
A ideia de que Portugal tem turismo a mais é rejeitada por Ricardo Rio. O autarca do município de Braga defende que “não temos turismo a mais, temos ainda uma significativa margem de crescimento em termos de potencial de captação de turistas”. E defende uma gestão uniformizada do território e a colaboração como elementos essenciais para uma estratégia de consolidação no que diz respeito à promoção de um destino turístico.
E o presidente executivo da ADXTUR garante que o turismo tem tido um impacto positivo indiscutível nas áreas onde as Aldeias do Xisto estão inseridas. “O turismo vai criando amenidades, vai melhorando os serviços, vai qualificando a capacidade de fazer que, desde logo, fica acessível para os residentes; mas, por outro lado, o turismo é um dos setores mais abertos, o primeiro fator de internacionalização, de externalização, de exportação, de abertura ao resto do território”, esclarece. Rui Simão não tem dúvidas de que “o turismo é uma alavanca essencial para aquilo que é uma estratégia de posicionamento macroeconómico dos territórios”. O orador salienta, no caso das Aldeias do Xisto, a capacidade de agregar o produto e a oferta numa plataforma pioneira – Book in Xisto – que conta atualmente com mais de 300 produtos turísticos e envolve mais de 600 postos de trabalho. “Fomos distinguidos pela estratégia de agregar ferramentas de negócio e projetar essa oferta a partir de uma marca que tem um imaginário rural, próximo da natureza, de imersão no espírito comunitário”, revela. E realça ainda: “É preciso agregar, promover, projetar as marcas e os produtos, mas é preciso fazê-lo a partir de conteúdos que sejam capazes de desafiar a perceção daqueles que são capazes de reconhecer o valor que as singularidades têm e que os produtos exclusivos têm”.