Turismo nacional tem capacidade para captar novos mercados

Numa altura em que a economia europeia mostra alguns “sinais de desaceleração”, Rui Constantino, economista chefe do Banco Santander, foi convidado para intervir num dos almoços de associados da Associação de Hotelaria de Portugal (AHP) que teve como mote “2020 – Que Perspetivas, Desafios e Oportunidades para o Turismo?”.

No decorrer da sua intervenção, ficou uma certeza: “O crescimento da economia vai ser em torno dos 1,5%”, apesar do mesmo ser “menor em relação aos dois anos anteriores”, afirmou Rui Constantino. No entanto, o panorama para o setor turístico em 2020 é traçado com otimismo. “As perspetivas continuam a ser positivas”, afirma o economista à Ambitur.pt. Apesar da incerteza no contexto económico, “continuamos a ter condições favoráveis de evolução de rendimentos na generalidade dos países com nível de desemprego baixo”, refere o responsável, enaltecendo a “capacidade elevada e significativa de adaptação dos empresários portugueses” face “às alterações que estão a correr nesse mercado”.

Quanto aos desafios, Rui Constantino refere que, “apesar dos sinais da desaceleração”, o crescimento vai acontecer de forma mais moderada. “Não será de dois dígitos como já tivemos”, frisa. O economista aponta como “fator-choque” o Brexit, sendo este “um fator importante para alguns mercados turísticos. Há localizações e regiões no país em que o turismo britânico tem um peso muito mais forte”, indica, ressalvando que “o nível de incerteza pode, no imediato, pesar um pouco mais”. Neste sentido, num cenário de um Brexit “sem acordo”, o responsável afirma que, ao nível do turismo, vai depender “daquilo que será o ajustamento da economia britânica a esse cenário”, referindo-se aos termos de contração na atividade económica ou ao aumento de desemprego. “Não haver rendimento para as famílias conseguirem viajar para o exterior”, seria um dos “piores cenários”, sustenta.

Portugal está preparado para captar novos/outros mercados?

Rui Constantino não tem dúvidas de que vai haver uma transformação no setor. “Houve um primeiro momento focado na quantidade” mas agora “sabemos que não vamos continuar a crescer, ao mesmo ritmo” até porque “existem limitações à capacidade atual do aeroporto”, sublinha. 

No sentido de “mitigar os riscos”, o turismo nacional está a enfrentar uma “transformação ou um constante ajustamento” na captação de mercados. Para o economista do Banco Santander, essa “capacidade de diversificação pode ajudar (o setor) neste processo”, constatando que o foco passa assim por “rentabilizar” os mercados em crescimento. O aumento, nos últimos anos, de “mercados terceiros” ou oriundos da Europa de Leste, assim como dos extracomunitários como o Brasil, EUA e mesmo a China, são provas de que tem “existido essa capacidade em captar novos mercados” e que permitem “compensar os ciclos diferenciados de outros”.

Num panorama marcado pelas “incertezas”, Rui Constantino eleva o turismo doméstico como sendo uma “alavanca”. Considerado como “um fator importante”, é o crescimento “saudável” que se tem assistido do turista interno. “Além de ser um complemento ao turista não residente” é um “mercado adicional que pode ser explorado”, cabendo ao turismo nacional “proporcionar novas experiências”, remata.