Turismo Religioso: Os caminhos da espiritualidade em Portugal

O Turismo Religioso é um segmento em crescimento em Portugal. Fátima é, sem dúvida, um destino central que atrai todos os anos milhões de visitantes. Mas também a região de Lisboa se apresenta com os seus atrativos neste âmbito. Ambitur foi conhecer de perto de que forma se têm desenvolvido estas duas regiões.

A procura turística de Fátima tem vindo a recuperar gradual e consistentemente desde a pandemia. De acordo com a Aciso – Associação Empresarial Ourém-Fátima, o regresso da peregrinação em grupo e o aumento do turismo individual de âmbito religioso e espiritual, motivado pela fé ou pela procura de paz interior, têm sido fatores fundamentais. Purificação Reis, presidente da direção da Aciso, indica que os números de visitantes voltaram a crescer significativamente a partir de 2022. E a realização da Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, que trouxe o Papa Francisco ao nosso país, também contribuiu para esta evolução positiva e, muito importante, para a captação de novos públicos, os jovens do mundo inteiro.

Purificação Reis, Aciso

A dirigente associativa não tem pois dúvidas de que “Fátima está a viver um novo ciclo”. E recorda que Fátima “é universal para católicos e não católicos; é símbolo de Paz, de ecumenismo, de encontro”. A verdade é que o visitante tem hoje motivações espirituais que não são estritamente religiosas, procurando o equilíbrio emocional, o alimento espiritual e experiências complementares, como o turismo cultural e natural da região.

“Cada vez mais o turista tem necessidade de se refugiar do ambiente stressante do seu dia-a-dia”, sublinha Purificação Reis. E retiros espirituais, retiros de silêncio e outros momentos de encontro consigo mesmo, assumem uma crescente expressão na procura, quer em Fátima, quer em outros destinos de turismo espiritual e religioso, acrescenta. Por outro lado, diz ainda que se tem observado um crescimento do turismo multigeracional e do interesse por eventos que combinam espiritualidade e outros temas, como o turismo sustentável.

Palácio Nacional de Mafra

Também na região de Lisboa o património religioso assume um papel central na experiência turística, especialmente no período pós-pandemia, marcado por um crescimento significativo deste segmento. Isso mesmo revela Carla Salsinha, presidente da Entidade Regional de Turismo da Região de Lisboa (ERT-RL), que destaca aqui a presença de monumentos classificados como Património Mundial da UNESCO, como o Mosteiro dos Jerónimos, a Torre de Belém, a Paisagem Cultural de Sintra e o Palácio Nacional de Mafra. A estes acrescem, nos 18 municípios que integram a região, um vasto conjunto de santuários, igrejas e capelas que enriquecem a sua oferta cultural e turística.

Visitar a região de Lisboa pressupõe pois o contacto com um património religioso rico e diversificado. “Nas zonas mais antigas das nossas cidades e vilas, seja num largo no final de uma rua, no cimo de uma subida ou próximo das margens do Tejo, do Sado ou do Atlântico, os visitantes deparam-se frequentemente com exemplares marcantes deste património”, indica a responsável. E explica que no centro das terras, o património religioso, reflexo da importância que tem na cultura e história, representa muitas vezes o expoente máximo da arquitetura e arte locais.

Sendo o principal produto turístico da Região de Lisboa o city break, a verdade é que o turismo religioso se integra aqui como uma extensão natural. “Esta continuidade da experiência turística enriquece as estadias de curta duração, destacando o papel do turismo religioso como um complemento que valoriza as visitas à Região”, frisa Carla Salsinha.

Um futuro promissor

Para que este segmento continue a merecer o interesse dos turistas, a ERT-RL está já a desenvolver projetos de estruturação de produto, em parceria com o Turismo de Portugal, o Centro Nacional de Cultura e a Associação Via Lusitana, relativos ao Caminho de Santiago e ao Caminho de Fátima.

Carla Salsinha, ERT-RL

Ao nível da oferta, Carla Salsinha lembra que em cada um dos 18 municípios da Região de Lisboa, desde Vila Franca de Xira até Mafra e de Alcochete a Sesimbra, o património religioso desempenha um papel central nos centros históricos, com as Igrejas Matriz de cada localidade a contarem a história e o percurso de quem as habita.

Entre algumas sugestões na região incluem-se uma visita ao Palácio Nacional de Mafra, classificado como Património Mundial da UNESCO, ou à Igreja Matriz de São João Batista, em Alhandra (Vila Franca de Xira), que proporciona uma vista única sobre o Tejo, as suas águas, as suas correntes e os seus mouchões. Outra sugestão é a criação de um roteiro a partir do Santuário de Nossa Senhora do Cabo Espichel, em Sesimbra, um local onde o misticismo se funde com a paisagem, e onde o fim da terra encontra o início do Atlântico.
Carla Salsinha frisa que a Jornada Mundial da Juventude “demonstraram ao mundo a nossa capacidade para organizar e acolher eventos religiosos à escala mundial”, sendo que o desafio futuro é dar continuidade a este legado, ” consolidando a imagem de Portugal como um país de princípios, um país de encontro e um país reconhecido pela sua hospitalidade”.

Da parte da Aciso, as expectativas para 2025 são otimistas, também alicerçadas em eventos como a Jornada Mundial da Juventude de 2023 e o IWRT – International Workshops of Religious Tourism, que “reforçaram a notoriedade de Fátima”, destaca Purificação Reis. A responsável defende pois que, em termos turísticos, é necessário continuar a trabalhar o produto turístico, inovando-o, para ir de encontro aos novos públicos, mais jovens e mais exigentes. A nível internacional, há um vasto conjunto de mercados com forte potencial em termos de turismo religioso e espiritual, adianta, e estes têm de continuar a ser trabalhados, com persistência. Mas a Aciso já prevê uma diversificação dos mercados emissores, especialmente da América Latina e Ásia.

A oferta também se tem renovado, nomeadamente os hotéis, criaram-se roteiros temáticos e modernizaram-se os espaços de acolhimento dos peregrinos. “No futuro próximo, destacam-se projetos ligados à sustentabilidade, como iniciativas de mobilidade verde e novas experiências imersivas que integram tecnologia e património espiritual”, avança a responsável da Aciso.

Por Inês Gromicho, publicado na edição 350 da Ambitur.