O Turismo Religioso é um segmento com enorme potencial em Portugal, e são várias as regiões que pode visitar se estiver interessado numa viagem mais espiritual. Quer se assuma como um complemento do turismo cultural ou como motivação pessoal, a oferta neste âmbito é significativa a nível nacional e Ambitur percorreu o Alentejo, o Algarve, Lisboa e o Centro do país e deixa-lhe algumas sugestões para que conheça estes destinos de uma forma mais profunda.
O que têm estado então as regiões a fazer para dinamizar este segmento? A Região de Turismo do Algarve (RTA) tem feito um caminho de divulgação da oferta religiosa deste destino ao longo dos últimos anos, enquanto componente da oferta cultural e como forma de combater a sazonalidade do turismo balnear. João Fernandes, presidente da RTA, assume que o Programa “365 Algarve” funciona como “forte impulsionador”.
Já no Alentejo, nos últimos anos, a estruturação de várias Rotas Culturais que podem ser usufruídas de forma autónoma pelos visitantes, ou através de um operador turístico, tem permitido integrar a promoção do património religioso numa lógica de venda, diz-nos Vítor Silva, presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo. E acrescenta que a valorização da oferta do turismo religioso também foi acentuada pelo trabalho de estruturação, sinalização e promoção dos Caminhos de Santiago Alentejo e Ribatejo.
A Entidade de Turismo da Região de Lisboa garante ter vários projetos em desenvolvimento, como é o caso do Caminho de Santiago, o Caminho de Fátima, o Património Judaico e o Legado Islâmico que, segundo Vítor Costa, presidente da ERT-Lisboa, “são exemplos maiores de ofertas de visitação ligadas ao turismo religioso”.
Por fim, o Centro de Portugal tem concretizado várias ações em alinhamento e articulação com os produtos e programas do Turismo de Portugal e CIMs do território. Assegurou o acompanhamento das dimensões complementares do projeto nacional “Caminhos da Fé”, nomeadamente através dos “Caminhos de Fátima”, “Herança Judaica” e “Caminhos de Santiago”. Por outro lado, apoiou a certificação dos itinerários dos “Caminhos de Santiago” do seu território, contribuindo para a sua promoção e valorização. E apoia eventos de relevo na preservação e captação do turismo religioso, como é o caso dos X Workshops Internacionais de Turismo Religioso, em Fátima, que este ano decorreram de 23 a 24 de junho. Pedro Machado, presidente da Turismo Centro de Portugal, esclarece que a entidade ainda assegura a elaboração do material promocional e a sua divulgação em certames de turismo nacionais e estrangeiros, e promove campanhas de comunicação como a iniciativa “Experiências Espiritual By” ou a produção do “Guia de Turismo Espiritual e Religioso”, distribuído com o jornal Expresso.
Algarve: um segmento de valorização turística
Começando a sul do país, as cidades e vilas algarvias têm vários polos de interesse que podem ser visitados, como igrejas, capelas e ermidas, das quais se podem destacar a Sé de Silves ou a igreja de Santa Maria do Castelo, em Tavira. Sugerimos ainda museus e monumentos que remetem para as vivências religiosas de outros tempos e fazem parte do espólio turístico religioso, como o Museu Municipal no Convento de Nossa Senhora da Assunção, em Faro. E, claro, as festividades associadas à presença cristã, sendo o Algarve muito conhecido pelas celebrações da Páscoa e do Natal (Festejos da Mãe Soberana em Loulé, Festas das Tochas Floridas em São Brás de Alportel ou o presépio de Vila Real de Santo António).
O presidente da RTA sublinha que o turismo religioso é um ” segmento de valorização turística do Algarve, englobando toda a vivência espiritual e cultural dos habitantes em espírito de partilha com os turistas que nos procuram por motivos de fé, ou ainda, para celebrarem os seus casamentos, uma escolha frequente entre os noivos britânicos e irlandeses”. Funcionando como um motivo por si só, este segmento é também um complemento da restante oferta turística, desde a natureza à gastronomia, diz João Fernandes, diversificando ” uma oferta que vai muito para além do Sol, Mar e Golfe, pelos quais o Algarve é fortemente procurado”. É pois através desta diferenciação da oferta turística de um território com uma história milenar que a cultura e a religião saem enriquecidas e podem ser exploradas enquanto fatores de procura do Algarve, garante o responsável.
A não perder no Algarve…
- Tavira, a “cidade das igrejas”
- Ermida de Nossa senhora de Guadalupe, Vila do Bispo
- Igreja Matriz de São Lourenço, Almancil
Alentejo: Um complemento do turismo cultural
O Alentejo e Ribatejo assume que o turismo religioso funciona como uma atividade complementar do turista cultural que visita a região, e Vítor Silva, presidente da ERT-Alentejo e Ribatejo explica que é “muito relevante quer pelo testemunho da expressão de Fé dos povos que, ao longo da história, têm habitado estes territórios, quer ao nível da riqueza e diversidade artísticas e arquitetónicas do seu património”, não sendo contudo trabalhado de forma desagregada.
Entre os principais polos de interesse nesta região do país encontram-se os Santuários dedicados ao culto Mariano, a herança Judaica, com maior expressão em Castelo de Vide, e a herança islâmica, na qual se destaca a Mesquita de Mértola, transformada em Igreja. A não perder ainda os vários museus de arte sacra do território, nomeadamente o Museu dos Cristos, em Sousel, e o Museu Diocesano, em Santarém.
- Santuário de Nossa Senhora D’Aires, Viana do Alentejo (na foto à esquerda)
- Igreja de Nossa Senhora da Conceição, Vila Viçosa
- Sé Catedral de Évora, Sé de Portalegre e Sé Catedral de Santarém
- Capela dos Ossos e Igreja de São Francisco, Évora
- Judiaria e antiga Sinagoga, Castelo de Vide
- Mesquita de Mértola
Lisboa: Um património excecional
O presidente da ERT-Lisboa não tem dúvidas de que o património religioso é “central na experiência turística da região”. Começando pelo Património Mundial da UNESCO, com um presença muito significativa nesta região através do Mosteiro dos Jerónimos e da Torre de Belém, da Paisagem Cultura de Sintra e do Palácio Nacional de Mafra. E a este património “excecional” Vítor Costa acrescenta santuários, igrejas e capelas que podem ser conhecidas nos 18 municípios deste território. “Nas zonas mais antigas das cidades e vilas da Região de Lisboa, num largo ou no final de uma rua, no cimo de uma subida ou na proximidade do Tejo, do Sado ou do Atlântico, sempre se revelam, perante os turistas, exemplares do nosso património religioso”, garante.
Sendo o principal produto desta região o city break, o turismo religioso é uma parte integrante destas estadas curtas. E o responsável realça que em cada um dos 18 municípios, de Vila Franca de Xira a Mafra, ou de Alcochete a Sesimbra, o “património religioso marca e destaca os centros históricos” e que “cada Igreja Matriz conta a história do lugar e o percurso histórico de quem o habita”.
A não perder na Região de Lisboa…
- Palácio Nacional de Mafra, Património Mundial da UNESCO
- Alhandra e Igreja Matriz de São João Batista (Vila Franca de Xira)
- Santuário de Nossa Senhora do Cabo Espichel, Sesimbra
Centro: Um pilar crucial para o turismo da região
Terminamos a nossa viagem no Centro de Portugal onde se encontram alguns dos destinos turísticos religiosos mais relevantes do país pelo que Pedro Machado não hesita em afirmar que “este é um pilar crucial para o turismo da região”, estando identificado como um dos cinco pilares estratégicos do Plano regional de Desenvolvimento Turístico da Turismo Centro de Portugal (TCP) para 2020-2030. O objetivo é que os milhões de visitantes que chegam à região por causa de Fátima partam, a partir daqui, à descoberta do restante território, complementando a experiência do turismo religioso com o turismo de natureza, o turismo ativo e o turismo gastronómico. “Que conheçam a nossa História, o nosso património, as nossas tradições. E que se vão embora com vontade de regressar”, sustenta o presidente da TCP.
Para que possa planear a sua viagem espiritual nesta região, deixamos-lhe três polos a não perder. O primeiro prende-se com o Santuários Marianos, com Fátima no centro já que é o santuário mariano mais visitado da Europa, mas não é o único no Centro de Portugal. Não deixe de conhecer outros templos marianos como o da Nossa Senhora da Nazaré, o Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, o Mosteiro de Santa Maria da Vitória (Batalha), Igreja de Nossa Senhora do Pranto (Dornes), Sé de Viseu, Altar de Nossa Senhora da Boa Estrela (Manteigas), Via Sacra do Bussaco (Mealhada), Sé de Aveiro ou a Ermida de Nossa Senhora do Castelo (Mangualde).
O segundo polo são os Caminhos Portugueses de Santiago, um produto recente que está a ser estruturado. As diversas rotas portuguesas que atravessam a região – Caminho Português Central, Caminho Interior e Via Portugal Nascente – têm o potencial de encaminhar milhares de peregrinos até à Catedral de Santiago de Compostela. Por fim, o terceiro polo de interesse é formado pela herança judaica. Pedro Machado lembra que a presença judaica na região é anterior ao Cristianismo e hoje é possível visitar vários locais onde se pode conhecer o Portugal Judaico, sendo os mais relevantes Belmonte, Trancoso e Tomar.
A não perder no Centro de Portugal…
- Caminhos de Fátima (Caminho do Tejo, Caminho da Nazaré, Caminho do Norte, Rota Carmelita ou Caminho do Centenário)
- Legado judaico em Belmonte; Museu Judaico
- Rota dos Pastorinhos, no concelho de Ourém
Quatro regiões com muito para ver e conhecer no âmbito dos caminhos da fé, e que merecem uma viagem sem pressas para explorar um outro Portugal que também encanta.