Turismo: “Se calhar, todo o sucesso que têm tido não é sustentável”

A economista Vera Gouveia Barros analisa projeções do crescimento económico português, assente no turismo, e alerta para os riscos associados ao setor que, diz, ainda não recuperou do choque da Covid-19. Em entrevista ao Jornal Económico, questionada «Com se explicam as dificuldades na contratação neste setor? Estas podem condicionar o impacto no crescimento no final do ano?», considera:

“Eu sou uma pessoa que, reconhecendo a existência de falhas de mercado, acha que, mesmo assim, o mercado ainda é a melhor forma de organizar a atividade económica. Portanto, eu explico as dificuldades na contratação com aquela resposta cliché dos economistas procura e oferta. Não conseguem atrair recursos humanos para o setor? Deve ser porque estão a pagar um preço abaixo de equilíbrio. Claro que, se eu quiser contratar gambozinos, não me adiantará de muito subir os salários. Mas, felizmente, as pessoas para trabalhar na hotelaria e afins não são gambozinos: elas existem  e nem têm nenhumas caraterísticas genéticas especiais que as tornem raras. Se as remunerarem devidamente, elas aparecem e candidatam-se. O setor do alojamento, restauração e similares é aquele que tem maior proporção de trabalhadores a receber o salário mínimo e manteve-se como o que tem a remuneração e o ganho médio mais baixos no conjunto da economia. Apesar do excelente desempenho da última década, que incluiu aumentos anuais médios de 6%, os salários só cresceram 2%, não conhecendo um processo de convergência face às demais atividades económicas. Acho estranho. Não conseguem pagar melhor aos seus trabalhadores? Então, se calhar, todo o sucesso que têm tido não é sustentável, lamento dizê-lo.”