“Turismo Sustentável: Um legado para o futuro” juntou profissionais do setor que debaterem sobre o futuro dos Açores

À volta do tema “Turismo Sustentável: Um legado para o futuro” o Governo Regional dos Açores e a Confederação do Turismo de Portugal (CTP) promoveram, no Dia Mundial do Turismo, um debate entre profissionais do setor. Uma “conversa” que ficou marcada pela necessidade de investimento na “qualidade de oferta e recursos humanos”, assim como a “promoção” dos Açores de modo a conquistar novos mercados garantindo  a “sustentabilidade” do destino. 

Marta Sousa Pires foi a primeira a tomar a palavra. A administradora executiva da Bensaude Turismo considera que são precisos “mais e melhores turistas”, até porque “a taxa de sazonalidade ainda é bastante elevada, apesar de ter sido atenuada. Temos, de facto cinco meses muito difíceis nas várias ilhas dos Açores”, alerta. 

A gestora considera que o próximo passo é “trabalhar na promoção, num destino de qualidade com qualificação de oferta”, apesar de “estarmos dependentes do tráfico das companhias aéreas e das várias operações”. O caminho, entretanto, já começou a ser trilhado com “vários investimentos na melhoria do produto e da oferta”, após vários “anos de crise económica. Os negócios sofreram”, atesta. No entanto, “temos aproveitado os meios financeiros para fazer a qualificação da oferta”. 

No entanto, este trabalho de promoção passa pela sustentabilidade do destino. “É claro que queremos um bom turismo e de qualidade sustentável a médio e longo prazo”, refere Marta Sousa Pires, acrescentando que essa “sustentabilidade económica só se consegue tendo em atenção as vertentes social e ambiental”, não negando a importância dos colaboradores. “Somos um turismo de serviço e o nosso maior recurso são os nossos trabalhadores. Temos de manter e cuidar aquilo que temos”, considera. 

“Estamos muito longe de ter um turismo de massa”

Luís Rego, administrador da Ilha Verde Rent a Car, não tem dúvidas que “há espaço” para crescer, acreditando que “temos necessidade de mais turistas”. Contudo, o empresário alerta para a importância de “ter condições” para receber os turistas. “Não podemos exigir turistas de qualidade se não temos oferta de qualidade”, sustenta o responsável, acrescentando que é “preciso repensar aquilo que podemos oferecer ao turista na época baixa”. Na vertente ambiental, o administrador considera como um desafio a adoção dos carros elétricos mas refere que as empresas de rent a car na ilha “não têm condições” para isso. Nesta matéria, Luís Rego é perentório ao afirmar que “sem sustentabilidade não há turismo nos Açores”.

Quem parece concordar com a mesma visão é Carlos Morais, presidente da Associação de Turismo dos Açores (ATA), reforçando a necessidade de “criar melhores condições” tendo em conta a “pressão” que se faz sentir nos principais pontos de interesse. De forma a limitar a ação diária dos turistas em algumas das ilhas, o dirigente afirma que já estão em “curso” planos, existindo, por exemplo,  trilhos que só é possível fazer com “pré-reserva”. Considerando que “estamos muito longe de ter um Turismo de massa”, Carlos Morais aponta como principal desafio a “promoção”, sendo necessário um maior “investimento nos meios digitais”. Nessa matéria, o responsável afirma estarem “despertos”, nomeadamente na captação de novos mercados e novos nichos. Também os recursos humanos “são importantíssimos”, mas sem “sustentabilidade não há turismo nos Açores”, sustenta.

“Não há turistas a mais”, afirma, por seu turno, José Romão Braz, vice-presidente do conselho de administração da Finançor, sustentando que “aquilo que se faz no verão, pode fazer-se no inverno”, havendo “sazonalidades distintas nas várias ilhas”. Contudo, o empresário considera que existe cada vez mais uma “maior pressão” no que toca à sustentabilidade. Exemplo disso é a forma como os empresários investem, sendo imperativo “pensarem muito bem antes de os realizar” porque “serão determinantes para o futuro e para o sucesso desses mesmos”. 

Ainda dentro da sustentabilidade, o responsável aponta para a necessidade de haver mais “orçamento” e “vontade política” para arranjar novas soluções. “Temos de ser inteligentes a limitar os acessos aos locais de maior pressão” e na forma como “aprovamos os investimentos e os incentivos”. Contudo, o empresário realça a “disposição do ponto de vista público e privado que nos levem a fazer o caminho certo.”

Com base no estudo apresentado sobre o “Impacto da Economia Digital na Atividade Económica do Turismo”, que refere que uma grande percentagem dos açorianos deseja ainda mais turistas, José Romão Braz não tem dúvidas de que as pessoas “estão a perceber as vantagens que o turismo traz” para a comunidade. O turismo foi “essencial à recuperação de que estamos a viver”, recordando que, entre 2007 e 2015, o aumento das receitas foi “zero”. Neste sentido, o empresário afirma que é muito difícil “não querermos mais turismo”, sendo esta uma atividade “transversal e indutora” a outros setores. Embora a “qualificação” da oferta seja importante, José Romão Braz considera as “acessibilidades” como principal desafio, sendo essa a única forma de garantir turistas nos Açores, sem nunca abandonar a ideia de que, “para garantir a sustentabilidade ambiental, é fundamental ter um número certo de turistas”.