Universidades querem ser parceiras do turismo na sua “renovação, inovação e disrupção”

Esta foi uma das mensagens deixadas por Daniel Traça, diretor da Nova SBE, na mesa-redonda que decorreu hoje integrada no Demo Day do programa Check-In, organizado pelo Haddad Entrepreneurship Institute e Westmont Institute of Tourism & Hospitality da Nova SBE, com o apoio do Turismo de Portugal, que se debruçou sobre “O papel das universidades nos ecossistemas da inovação”. O responsável garante que Portugal não fica atrás de nenhum país europeu no que diz respeito ao ensino universitário. “O problema é que produzimos muito talento mas as empresas não têm o dinamismo para pegar nesse talento, incrementar a sua criatividade e capacidade de inovar e transformar-se”, defende. O mesmo acredita que se trata de uma relação entre as empresas e as escolas e universidades mas que estamos a falar de “disrupção e transformação do tecido”. E acrescenta: “há muito sobre skills mas não o suficiente para transformar as empresas para pegarem nessas skills e tornarem-nas produtivas”.

Daniel Traça lembrou que todas as crises representam também oportunidades e questionou então sobre onde estará a oportunidade desta crise. Referindo-se especificamente ao setor do turismo, fez questão de dizer que acredita que esta indústria vai continuar a crescer mas chamou a tenção para que não serão “os mesmos players, com o mesmo modelo de negócio, a mesma experiência e a mesma definição limitada do setor que vão ficar por cima”. E quem acredita nisso, diz, não vai estar cá para ver daqui a cinco anos. Por isso mesmo, defende que o maior desafio para este setor é, neste momento, “pensar no futuro, pensar disrupção, pensar no que há de novo, na forma como o mundo vai ficar”. E garante as universidades podem, neste ponto, ser uma ajuda.

A oportunidade para o setor do turismo será de “uma transformação massiva para novos modelos, novas empresas e compreender que o digital vai mudar as coisas”, justifica Daniel Traça. E adianta que “as universidades querem ser parceiras da renovação, da inovação, da disrupção, dessa nova forma de proporcionar experiências”.

Além disso, o responsável da Nova SBE recorda que vamos precisar de muitas skills novas. “Temos de executar, de ser criativos, de saber lidar com problemas, demonstrar resiliência”, aponta. E admite que o atual sistema de ensino não permite dar essas skills aos estudantes. “As universidades e o sistema de ensino têm de mudar para podermos proporcionar essas skills”, frisa. E indica que a principal ferramenta será uma aprendizagem baseada no empreendedorismo e em projetos. “É impossível colocar os alunos numa sala de aula, fazê-los ler um livro, fazer um teste e pensar que vão aprender resiliência, coragem, comunicação, espírito de equipa”, assegura.

Por outro lado, Daniel Traça garante que na Nova SBE “vamos ser muito inovadores na criação do campus de Carcavelos”, com a presença das empresas. “As organizações transformam-se porque falam com os seus futuros empregadores, futuros consumidores, futuros investidores, vislumbram o futuro e preparam-se para o mesmo”, diz. E sublinha que, deste modo, “os estudantes obtêm o tipo de skills de que estamos a falar”. E conclui, dizendo que “o empreendedorismo é essencial pois o empreendedorismo é a escola”.

Por outro lado, o responsável deixa a mensagem de que em termos de transformação a nível da sustentabilidade é necessário apelar à ação não só a nível das empresas mas também das próprias autoridades do país pois “estando a apoiar a indústria do turismo, é muito importante que não seja apenas uma questão de sobrevivência mas sim de transformação, de pensar no futuro”.

Empreendedorismo e inovação são pilares
Chitra Stern, proprietária do Martinhal Hotels & Resorts e fundadora da United Lisbon International School (ULIS), foi outra das participantes nesta mesa redonda e concorda que esta abordagem à sustentabilidade deve ser holística, envolvendo todos, desde o ministério da Educação ao Turismo de Portugal, passando pelas universidades e escolas. “Temos que ensinar metas de desenvolvimento sustentável às crianças desde cedo”, defende.

A empresária criou a ULIS, uma escola que acolhe alunos dos três aos 18 anos e que integra um hub de educação que pretende resolver problemas nesta área e ajudar as crianças e jovens a enfrentar o futuro. E garante que a escola está a ser construída com base nos pilares do empreendedorismo e da inovação.

Na prática, isso passa por aproximar as empresas dos estudantes desde muito cedo, dispondo de um hub educativo de 5000 m2 e convidando as empresas a fazer parte deste ecossistema e contribuírem. Dando um exemplo, o Martinhal Hotels & Resorts já convidou alguns alunos de 14-15 anos para, durante uma semana, estarem no seu hotel de Cascais e aprenderem um pouco da realidade de um hotel, nas suas mais diferentes áreas. “Muito do antigo sistema escolar resume-se a pensar «dentro da caixa», nós queremos que eles saiam dessa caixa, expô-los à vida real e ajudá-los a tornarem-se cidadãos globais e responsáveis”, sublinha a oradora. A ULIS tem apostado em projetos interdisciplinares, promovendo a colaboração e a comunicação.

Trazer o turismo para outras áreas de conhecimento
O terceiro orador deste painel foi Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, que não tem dúvidas acerca do papel do ensino na evolução do setor do turismo ao nível do digital e da sustentabilidade. Mas atenta que há algo que falta: confiança. “As empresas não confiam nas universidades e no meio académico porque o modelo que têm em mente é a imagem das universidades de há 20 anos”, critica o dirigente. Por isso defende que, tal coma Daniel Traça indicou, é necessário juntar o conhecimento baseado nos projetos, juntando empresas no campus com estudantes e professores.

O orador dá o exemplo da parceria que tem com a Nova Medical School para o lançamento da versão atualizada do Selo Clean & Safe. “Pensamos que saúde e turismo terão de andar de mãos dadas no futuro”, admite. E mais: “temos que levar o turismo para as outras áreas de conhecimento”. E reconhece que “é esta coordenação que nos falta e que precisamos mais do que nunca”. Luís Araújo esclarece que “por vezes estamos demasiado focados num ensino de alto nível e esquecemos que as empresas precisam, muitas vezes, da base da pirâmide”.

Para o responsável, “nada será igual no futuro”: o cliente mudou, os modelos de negócio estão a mudar, os mercados também. “Por isso diria que esta é a oportunidade e a resposta é simples: a sustentabilidade. Não apenas como campanha ou ferramenta de marketing mas no sentido de sabermos como podemos mudar as atitudes das pessoas que trabalham nas nossas empresas e dos que nos visitam”, acrescenta. Para o presidente do Turismo de Portugal, “a sustentabilidade é muito importante para melhorar a eficiência das nossas empresas e precisamos de ser mais eficientes, especialmente no setor do turismo”. Conclui dizendo que “se Portugal e as empresas portuguesas do turismo se focarem na sustentabilidade, em encontrar soluções inovadoras, apoiar a economia circular, teremos seguramente a atenção de outros mercados e destinos”.