Francisco Calheiros presidiu ontem à sessão de abertura da V Cimeira do Turismo Português – ‘Turismo pós-Covid’, que decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian, defendendo que “o momento é de olhar para o futuro” e de “tentar encontrar nele o caminho para a recuperação do Turismo” pois “todos os recursos estão canalizados para a sobrevivência” e sem medidas concretas “não há legislação” que trave os despedimentos.
O presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP) iniciou o seu discurso refletindo que “falar do futuro neste contexto tão incerto é um exercício arriscado”, ainda que “absolutamente necessário”, em parte porque “ainda não conhecemos na totalidade o impacto dessa mudança nas nossas vidas ou sequer se existirão ainda mais mudanças”.
A certeza é de que “o Turismo atravessa um momento muito difícil” após um período em que “o setor paralisou por completo”, e Francisco Calheiros menciona, a esse propósito, a “terrível imagem das centenas de aviões estacionados no aeroporto de Lisboa”. Assim, o setor que “tanto contribuiu para a recuperação do país no período pós-Troika”, está “em crise”. Se “vive da deslocação de pessoas” foi, sem dúvida, a primeira atividade a sentir o efeito da pandemia e será “das últimas a recuperar”.
O responsável avança que “somos atualmente a atividade com mais empresas em lay off” e “onde estas se mantiveram mais tempo em lay off simplificado”, terminado em julho e que, alerta, “tem de ser reposto com a maior urgência”. Além disso, “registámos quebras de mais de 80% em várias das nossas atividades” o que pode criar um “cenário preocupante” de pré-encerramento de empresas e aumento de desemprego. A par estão as “inúmeras limitações de tráfego aéreo, a exclusão de Portugal em alguns corredores aéreos e medidas de quarentena impostas” por vários países.
Desta forma, Francisco Calheiros adianta que: “A quebra significativa da economia por mais tempo terá efeitos graves no desemprego se as medidas do Programa de Estabilização Económica e Social (PEES) não forem rápidas, ágeis, efetivas e plenamente executadas”, se “os apoios financeiros da União Europeia (UE) não chegarem rapidamente” e se “se mantiver o erro estratégico de se apostar num sucedâneo do lay off simplificado que pressupõe uma retoma rápida da economia”.
O presidente da CTP critica o facto de o Governo ter estado “bem no início desta crise com o lançamento de medidas eficazes como o lay off simplificado, mas inexplicavelmente vai abandoná-lo”. O que será, de acordo com a Confederação, um “erro estratégico” pois “na falta de apoios concretos e que funcionem, não há legislação alguma que possa travar os despedimentos”. Em suma, “todos os recursos das empresas do turismo estão canalizados para a sobrevivência”, sublinha.
“O momento é de olhar para o futuro”
Francisco Calheiros afirma que, do ponto de vista turístico, “o ano de 2020 está perdido, o ano de 2021 poderá trazer alguma recuperação” e que “seguramente a retoma só se iniciará em 2022”. Apesar das incertezas, defende que “o momento é de olhar para o futuro” e de “tentar encontrar nele o caminho para a recuperação do Turismo”. Nesse sentido, o Governo deverá comprometer-se com “mais diplomacia económica, com concertação de medidas de prevenção a nível europeu, com um quadro jurídico laboral à medida das circunstâncias, com ferramentas de apoio como o lay off simplificado e sem burocracias excessivas”, argumenta.
O presidente da CTP deixou ainda duas notas para o futuro: a primeira é de que “a margem para adiar” a construção do aeroporto do Montijo “já terminou” e a segunda é sobre “o papel da Europa na recuperação da nossa economia”, na medida em que se “mantém um quadro de indefinição de quanto e quando chegará o apoio financeiro” a Portugal. Segundo Francisco Calheiros, exige-se “menos inércia por parte dos governantes europeus, maior capacidade de decisão, maior concertação de estratégicas de promoção turística e mais clareza e desburocratização nas regras” juntamente com “uma linha específica de apoio ao turismo com dotação própria”.
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