Esta é a convicção de André Oliveira, diretor de Vendas da On Travel Solutions, um DMC que representa em Portugal empresas como a Jet2Holidays. Como orador no primeiro webinar promovido pela Câmara Municipal de Faro no ciclo “Desafios & Oportunidades para o Turismo de Faro”, e onde se abordou a temática “O que procura o turista no pós pandemia?”, o responsável não tem dúvidas de que uma das principais tendências será o “last minute”.
André Oliveira defende que é importante reposicionar o Algarve, e Faro, dando a conhecer outros segmentos que não só sol e praia, como a cultura, o trekking ou “sighting”, pois a região apresenta índices de dezembrego muito grandes e existe uma “falta de liquidez gigantesca” nas empresas. “Era importante Faro posicionar-se como um modelo verde”, acredita o orador, e diz que também faria sentido falar em economia do mar. Defende ainda a criação de um Gabinete de Promoção Turística de Faro.
Para já, a curto prazo, André Oliveira vê que a região que vive do turismo e para o turismo possa começar a sentir uma recuperação a partir da segunda quinzena de julho. O ano passado, e durante todo o período da pandemia, reconhece que para os DMC’s a “boia de salvação” foi o mercado nacional, não só do Algarve, mas de todo o país. Este ano, espera que a operação de verão seja mais prolongada no tempo, estendendo-se até à primeira quinzena de outubro. O ano de 2021 será muito em linha com 2020, mas para 2022 a On Travel Solutions já sente mais procura, e o responsável prevê que se possam atingir os valores de 2014 ou 2016, o que “já é sustentável para manter uma estrutura turística e hoteleira”, diz. Mas só em 2023 assistiremos a uma recuperação sólida.
Reino Unido divide países por cores
Também Cláudia Miguel, diretora da delegação do Reino Unido do Turismo de Portugal, acredita que este verão poderá ser muito “last minute” e lembra que, da parte deste mercado emissor, um dos principais para o Algarve, existirá, a partir de 17 de maio, um sistema de semáforo com três níveis: verde, amarelo e vermelho. O sistema será avaliado consoante a percentagem de população vacinada (uma das categorias com maior peso), a taxa de infeção, a prevalência de variantes de risco e o acesso a dados científicos fiáveis e sequenciação genética. Neste momento, a responsável adianta que apenas sete países estariam na lista verde: Islândia, Emirados Árabes Unidos, Malta, Israel, Gibraltar, Austrália e Nova Zelândia. Portugal já esteve na categoria “vermelha” anteriormente mas a responsável esclarece que, segundo conversas que tem tido com operadores turísticos, esse facto não teve consequências para o país. O que melhora este ano é, frisa, a comunicação entre o Governo do Reino Unido e as empresas, estabelecendo-se uma semana de intervalo para a alteração da cor de determinado país para que os turistas não sejam apanhados de surpresa, de férias, em outros destinos.
Por outro lado, Cláudia Miguel avança que o Governo britânico tem estado a incentivar mais as estadias mais longas e que esta “é uma oportunidade” para o Algarve e Portugal. É verdade que as famílais “não estão a marcar como gostaríamos” até por toda a logística da viagem e o custo dos testes, mas há espaço para apostar em outros públicos-alvo que, segundo revelam as pesquisas, estão já a adiantar-se nas reservas, nomeadamente, as pessoas com mais de 50 anos, casais ou viajantes a solo. Cláudia Miguel garante que a apetência, no Reino Unido, para fazer férias no exterior, é grande, rondando os 68%. E que há já muitos destinos a apostar na extensão do verão, olhando para o mês de outubro, altura em que “poderá haver maior confiança” por parte dos consumidores.
Porto com plano estratégico 2020-2022
Neste webinar também houve a oportunidade de ouvir o exemplo da cidade do Porto que não tem estado parada desde o início desta pandemia e conta já com um plano estratégico de curto prazo (2020 a 2022), estando já a começar a preparar o plano de 2022-2030. Ricardo Valente, vereador com o pelouro da Economia, Turismo e Comércio e da gestão de fundos comunitários da Câmara Municipal do Porto, começou por dar conta de quatro tendências observadas ao longo desta pandemia, desde logo a afirmação das cidades como smart cities; além do sistema de certificação de segurança sanitária, lembrando aqui que o Porto depende muito do mercado externo, sendo que 3/4 dos turistas são não residentes; da adaptação da procura e da oferta, com maior personalização das experiências turísticas, um turismo imersivo e sensorial (slow travelling) e a descentralização de fluxos turísticos; e, por fim, a comunicação e promoção digital dos destinos.
A partir desta informação, o Porto centrou o seu plano estratégico em quatro eixos. Em primeiro lugar, valorizar o território e as comunidades, atuando ao nível da qualificação do alojamento, da proteção e valorização da oferta, e da gestão dos fluxos turísticos. O segundo eixo diz respeito a impulsionar a economia, procurando captar investimento e apoiar a economia local, apostar num serviço aftercare (acompanhando os investimentos e empresas) e valorizar o talento. Em terceiro lugar, destaque para a aposta em potenciar o conhecimento, através de sistemas de gestão (implementação do Observatório do Turismo, Observatório do Comércio, Observatório do Talento) e da criatividade e inovação (criação da nova app “in Porto” e aposta numa estratégia digital municipal, entre outras medidas). Por fim, o quarto eixo apresentado diz respeito a projetar um destino sustentável, apostando em dinamizar um destino turístico sustentável e um destino de investimento sustentável.
A nível do marketing do destino, os maiores desafios apontados por Ricardo Valente dizem respeito a alavancar a retoma progressiva do setor turístico e a sustentabilidade da sua atividade e stakeholders, e reforçar o posicionamento do Porto como uma cidade multidisciplinar e um destino seguro e de eleição. “Queremos posicionar o Porto, a nível nacional e internacional, como o melhor destino para visitar, viver, investir, trabalhar e estudar”, frisa. E, para isso, esclarece, a “nossa oferta turística tem de ser única, autêntica e diversificada”. E, como o turismo nacional não é capaz de assegurar os níveis de fluxos que o Porto tinha antes da pandemia, o destino irá continuar a lutar para atrair fluxos internacionais.
“Vivemos um período de transição em Portugal”
O webinar da autarquia de Faro convidou também o virologista Pedro Simas para deixar a sua visão sobre o atual momento e o que podemos esperar do vírus nos próximos tempos. O responsável acredita que 2022 vai ser um ano normal, no qual não vamos usar máscaras, não vamos fazer testes e não vamos ter passaportes sanitários. Vai haver “uma grande retoma”, vaticina. Reconhece, no entanto, que “vivemos um período de transição em Portugal” e que pode ainda haver um revés, que se traduzirá por mais uma vaga de infeções, mas que esta vaga não significará mais mortes ou internamentos. Isto porque a vacinação e a imunidade de grupo funcionam. Pedro Simas estima que, no final de maio, “estaremos muito perto da imunidade de grupo. E, se tudo correr bem, “este verão já vai ser muito diferente, e já a partir de junho”, defende.