“Vejo uma grande oportunidade de utilizarmos o PRR para reformular o conceito da distribuição e da aproximação ao mercado”

Esta foi uma das conclusões retiradas por António Trindade, CEO do PortoBay Hotels & Resorts, num webinar que teve lugar hoje dedicado ao tema “O turismo e a revitalização económica das regiões ultraperiféricas”, organizado pela Europe Direct Madeira. “Vejo uma grande oportunidade de utilizarmos o PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) para reformularmos o conceito da distribuição e da aproximação ao mercado”, sublinhou o empresário madeirense, referindo-se concretamente à questão da digitalização e da aplicação deste conceito ao setor do turismo.

Para António Trindade, respondendo a uma questão relacionada com o PRR e o facto de este não contemplar diretamente o turismo, existe uma “versatilidade nesta proposta nacional de plano apresentada à União Europeia”, versatilidade esta que permite “várias áreas de abertura que, para o gestor, se resumem a duas, muito particularmente dizendo respeito à Madeira: A discussão das acessibilidades e da sua sustentabilidade, e a digitalização.

“Temos que ter consciência que, sobretudo a oferta turística nacional, viveu durante muito tempo numa dependência do negócio com os intermediários”, refletiu o orador. Mencionando os dois grandes polos de oferta turística em Portugal – Madeira e Algarve, o empresário não tem dúvida de que ambos “tinham uma dependência dos intermediários (operadores turísticos) que fazia com que o conceito da digitalização e das novas áreas de aproximação em termos de distribuição, tivessem ficado muito na dependência de terceiros”. E a verdade, lembra, é que quando comparamos o turismo com outras atividades económicas, que se desenvolveram e criaram novas possibilidades de apoio ao cliente final – e o retalho é um exemplo – “em termos de oferta turística estamos manifestamente atrasados”. E é aqui que aponta a oportunidade de aproveitar este ambiente do PRR, já que a digitalização do setor privado criará “condições de maior oportunidade entre a oferta turística e o consumidor final.

Também Cláudia Monteiro de Aguiar, deputada do Parlamento Europeu, indica a transição digital como uma oportunidade neste mecanismo, especialmente para a região da Madeira. Já a eurodeputada Sara Cerdas admite que “o turismo precisa de apoios mais específicos” e que apesar deste Plano não contemplar tais medidas, “os Estados Membros têm que ser criativos na captação dos fundos”, frisa.

Como retomar o turismo em segurança?
Esta foi outra questão abordada no webinar e Cláudia Monteiro de Aguiar lembrou que estamos a enfrentar momentos de incerteza, que têm provocado quebras superiores à anterior crise de 2009, ameaçando milhões de postos de trabalho no setor do turismo na Europa. Por isso mesmo, defende que “a aceleração do processo de vacinação é essencial”.

Quanto ao certificado europeu, “é mais uma ferramenta que se criou”, claro que “não é a solução”. Mas defende que o facto de haver um único documento vem facilitar a mobilidade dos cidadãos entre os vários Estados Membros.

Sara Cerdas acredita que é necessário garantir as condições de segurança e saneamento, e apostar em iniciativas como aquelas que já existem em Portugal, o Selo Safe & Clean, ou na Madeira, o Madeira Safe. No que diz respeito ao certificado Covid-19, designação pela qual deverá ser conhecido este instrumento, funcionará como “uma linha rápida de deslocação entre os Estados Membros. Falta saber como será agilizado, esperando-se que esteja concluído no início de verão, ao longo do mês de junho.

Para António Trindade, o elemento determinante de confiança no mercado é a vacina. “Sem imunidade de grupo não conseguiremos falar de uma grande retoma”, acredita. O empresário dá o exemplo do grupo PortoBay, que sempre prometeu estar a fazer tudo para que o cliente se sentisse seguro, e essa sim é a mensagem principal.

O empresário recorda outro desafio que se coloca ao setor, assente no facto de nos apercebermos do quanto estávamos dependentes das decisões de outros Estados Membros, e países. Pegando no caso do Reino Unido, que deverá anunciar para que países é seguro viajar a 17 de maio, António Trindade diz que essa decisão só começará a ter efeitos a partir de julho ou agosto deste ano. E “a evolução da capacidade de resposta da hotelaria está muito dependente destas decisões. Já quanto ao Brexit, o gestor sublinha; “o setor do turismo será o menos afetado”.