Decorre hoje em Tomar, e até 9 de junho, o 8º Fórum de Turismo Interno Vê Portugal. E Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP), aproveitou a deixa para iniciar o seu discurso da sessão de abertura dizendo que Tomar é precisamente “um bom exemplo de como o turismo no nosso país tem de ser descentralizado dos seus tradicionais destinos” e de como “temos de apostar no turismo interno”. Considera pois fundamental o debate das novas tendências do comportamento dos turistas assim como de novos produtos turísticos que responsam às novas necessidades, não só de quem nos visita mas também dos portugueses que viajam dentro do país.
Reconhecendo que não há dúvidas de que o turismo interno está em crescimento, e que o mercado nacional se revelou, nos anos pandémicos, uma vez mais essencial para atividade turística portuguesa, o dirigente da CTP recordou os dados relativos à Páscoa deste ano e as perspetivas para o verão, que “confirmam que há mais portugueses a optar por fazer férias no país, escolhendo não só os destinos tradicionais mas querendo também conhecer outras regiões, cidades e locais que não eram tradicionalmente considerados destinos turísticos”.
[blockquote style=”1″]”todos os intervenientes da atividade turística devem conhecer as novas tendências, antecipar respostas e responder às necessidades do novo turista”[/blockquote]
Isto porque a realidade mudou e, se com a pandemia, os portugueses, por uma questão de segurança, optaram por viajar cá dentro, a verdade é que muitos confirmaram a grande diversidade que Portugal tem para oferecer. “É para esta nova tendência que temos de olhar, pelo que devemos reforçar a estratégia de criação de novos produtos turísticos em todas as regiões do país, até mesmo criando novos produtos que se dirijam a nichos de mercado, mas nunca esquecendo os produtos turísticos tradicionais em Portugal que continuam a ter uma elevada procura”. Com as alterações do comportamento e das expectativas das pessoas, alterou-se também a forma como viajam e o turismo que querem pelo que, revela Francisco Calheiros, “todos os intervenientes da atividade turística devem conhecer as novas tendências, antecipar respostas e responder às necessidades do novo turista”.
O orador lembrou ainda que este novo perfil de turista tem outros elementos bem vincados: sustentabilidade e novas tecnologias. E defende que, nos dias de hoje, para captar turistas, é fundamental cumprir os critérios de sustentabilidade, dando o exemplo de que, segundo estudos recentes, mais de 70% dos consumidores estão dispostos a pagar mais pelo turismo sustentável. “Esta é também uma realidade que o turismo interno deve ter em conta”, acrescentou.
[blockquote style=”1″]”os profissionais de turismo têm de seguir as tendências tecnológicas para se manterem competitivos”[/blockquote]
Já no que diz respeito às novas tendências tecnológicas que já começaram a mudar o turismo, o presidente da CTP refere que a digitalização no setor das viagens já é uma realidade e uma necessidade, e deverá “ser um investimento fundamental”, estando já a mudar o modelo de turismo tradicional, pelo que “os profissionais de turismo têm de seguir as tendências tecnológicas para se manterem competitivos”.
[blockquote style=”1″]”a época alta de 2022 vai confirmar que este ano o turismo vai superar os números de 2019″[/blockquote]
À porta de mais um verão turístico, Francisco Calheiros admite estar otimista de que “a época alta de 2022 vai confirmar que este ano o turismo vai superar os números de 2019”. E relembra os dados da IATA, que confirmam a recuperação das viagens aéreas, e as últimas estatísticas do INE, que também provam essa tendência. Em abril, o mês da Páscoa, a atividade turística ultrapassou os níveis de 2019, “muito boas notícias”, aponta o responsável, adiantando que estes dados continuam também a confirmar a subida do turismo interno, sendo que o número de turistas portugueses a viajar em Portugal até aumentou mais do que o número de estrangeiros a dormir no nosso país. Assim, face a abril de 2019, o mercado interno cresceu 15% mas os mercados externos caíram 4,4%. “Estes dados mostram bem a importância crescente do turismo interno e a necessidade de olhar para o turista português de uma forma estratégica e consolidada”. O orador disse lembrou ainda que com estes sinais positivos, e como se espera uma época de verão com ocupações hoteleiras perto dos 100%, “acredito que ainda este ano conseguiremos superar os números do turismo de 2019, aquele que foi o melhor ano turístico de Portugal”.
[blockquote style=”1″]”os empresários do turismo têm demonstrado uma grande resiliência e querem continuar a investir e a criar emprego. Mas precisam de apoios no imediato e não apenas das ajudas que têm estado a ser acionadas a conta-gotas”[/blockquote]
Apesar do otimismo, Francisco Calheiros não deixou de frisar que o turismo ainda enfrenta problemas, como a capitalização das empresas, “um fator essencial para o futuro próximo”, pedindo que “as ajudas públicas há tanto tempo prometidas saiam do papel e cheguem à economia real”. O dirigente da CTP disse mesmo que “os empresários do turismo têm demonstrado uma grande resiliência e querem continuar a investir e a criar emprego. Mas precisam de apoios no imediato e não apenas das ajudas que têm estado a ser acionadas a conta-gotas”. Apelou também à revisão da política fiscal e à redução da “pesada” carga de impostos.
[blockquote style=”1″]”Uma das soluções passa por recorrer a profissionais de outros países, por exemplo, dos PALOP. Está provado que não será possível satisfazer a necessidade de mão de obra recorrendo apenas a soluções internas”[/blockquote]
Outro problema não esquecido pelo orador foi a falta de mão de obra no turismo, para o qual pediu ao Governo que agilizasse o processo de vistos. “Uma das soluções passa por recorrer a profissionais de outros países, por exemplo, dos PALOP. Está provado que não será possível satisfazer a necessidade de mão de obra recorrendo apenas a soluções internas”, admitiu.
Considerou ainda urgente resolver os problemas do SEF para evitar que se repitam no verão “situações lamentáveis” como as que assistimos no final de maio, no Aeroporto de Lisboa. “Não é esta a imagem do país turístico que queremos transmitir lá fora”, criticou. E recordou que além de passarmos a imagem de um país cheio de diversidade e seguro, também tem de ter as infraestruturas necessárias para receber o número crescente de turistas. Claro que para que isso seja uma realidade, “é urgente que se tome uma decisão final nesta legislatura sobre a construção do novo aeroporto da região de Lisboa”, frisou.
Francisco Calheiros terminou o seu discurso apontando que se o mundo e o turista estão a mudar, “todos temos que nos adaptar” e que se “adaptarmos à mudança, se continuarmos resilientes, se as entidades oficiais colocarem o turismo nas suas opções prioritárias e se aproveitarmos as oportunidades, ganhamos todos”.