Vila Galé: Combinar sustentabilidade e excelência do serviço requer “soluções inteligentes e tecnologias discretas”
Os hotéis já integram a sustentabilidade na sua operação do dia-a-dia. A Ambitur publicou um trabalho extenso na sua edição 354, onde falou com várias cadeias hoteleiras para perceber como lidam com a questão da sustentabilidade na operação diária.

Hoje falamos com Pedro Azeitona, diretor de Qualidade e Ambiente da Vila Galé, que conta com formação em Engenharia do Ambiente e Energias Renováveis, um mestrado em Gestão de Empresas e Pós-graduação em Segurança e Saúde no Trabalho Nível VI. A sua função passa por garantir a conformidade legal, apoiar as equipas no terreno, implementar boas práticas e promover uma cultura de melhoria contínua em todas as unidades, trabalhando diretamente com todos os departamentos para garantir uma abordagem transversal e consistente a todo o grupo. Na Vila Galé, são já várias as unidades certificadas com a Green Key e EcoStars e o hotel Vila Galé Albacora possui ainda a certificação Eco-Hotel da TÜV Rheinland, certificações que avaliam critérios como eficiência energética e hídrica, gestão de resíduos, redução de plásticos, educação ambiental e envolvimento da comunidade.
Seguindo uma estratégia integrada de sustentabilidade ambiental alinhada com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, a Vila Galé aponta como pilares a eficiência energética, a gestão responsável da água e dos resíduos, a redução do desperdício alimentar e a valorização das comunidades locais. Pedro Azeitona, diretor de Qualidade e Ambiente da cadeia hoteleira, refere que no grupo há uma aposta forte na certificação ambiental das unidades hoteleiras e na formação contínua das equipas, com o objetivo de garantir o cumprimento rigoroso das melhores práticas em sustentabilidade.
Entre as práticas já implementadas ao nível energético, o responsável destaca o corte parcial da energia dos quartos quando a chave é retirada do economizador; a utilização de lâmpadas de baixo consumo em 90% da instalação dos hotéis; a ativação da iluminação exterior por células fotoelétricas ou por relógio; a ativação da iluminação das casas de banho públicas e de serviço por detetores de presença; o uso de máquinas de lavar ligadas à instalação de água quente; a utilização de temporizadores em equipamentos eletromecânicos; o isolamento das canalizações de água quente sanitária (AQS) para evitar perdas térmicas; e a definição prévia de temperaturas nos equipamentos de ar condicionado. Adianta que a cadeia hoteleira promove ainda o aproveitamento da luz solar nas áreas públicas, como salas de reunião, receções, restaurantes e piscinas interiores. E faz a monitorização diária do consumo de energia, recorrendo a fontes de energia de origem renovável, incluindo energia solar fotovoltaica.
Relativamente à gestão da água, a Vila Galé reutiliza as águas do processo de backwash das piscinas interiores e exteriores para fins de rega e utiliza sistemas de rega gota a gota programáveis, com o objetivo de evitar horários de maior calor. Por outro lado, instalou estações meteorológicas nas unidades da Albacora e da Herdade Clube de Campo, utilizando espécies vegetais adaptadas ao clima de cada região. E todas as torneiras e chuveiros têm redutores de fluxo, bem como os autoclismos sistemas de descarga dupla. Além disso, a lavagem de roupa e loiça é realizada apenas com cargas completas. E, para as limpezas de grandes áreas, recorre-se a mopas húmidas ou autolavadoras. A distribuição de toalhas de piscina é feita apenas a pedido dos hóspedes. Já a monitorização do consumo de água é feita diariamente e por setor, com análise de desvios. E, finalmente, a produção de água quente é complementada com sistemas solares térmicos.

Pedro Azeitona explica também que, no que respeita ao capital humano, 100% dos colaboradores estão integrados em programas de formação contínua, tanto interna como externa. Além disso, 10% dos colaboradores são propostos para promoções internas, e todos têm acesso a seguro de saúde privado no prazo máximo de um ano após a sua entrada na empresa. É promovida a contratação local, com 50% dos colaboradores de cada unidade provenientes da região onde está localizada, e procura-se assegurar que pelo menos 50% dos cargos de chefia ou direção são ocupados por mulheres.
Ao nível da preservação do planeta, estão definidos vários objetivos para os próximos anos, entre os quais se destacam: redução de 20% dos resíduos indiferenciados; redução de 85% do plástico de utilização única; implementação de políticas que permitam atingir 75% de operações sem papel (paper free), através de formação e da implementação de software e hardware adequados; redução de 4% no consumo de energia; aumento de 200% na produção de energia renovável, com o desenvolvimento do parque solar; e a garantia de que 100% das unidades desenvolvem, pelo menos, uma iniciativa de preservação ambiental. Outros objetivos incluem que 80% da frota de veículos seja de mobilidade elétrica, uma redução de 25% no desperdício alimentar e uma diminuição de 15% no consumo de proteína.
O grupo hoteleiro português dispõe de mais de 190 indicadores ESG, que monitoriza regularmente, incluindo consumos energéticos por hóspede, emissões de CO₂, eficiência hídrica e taxas de reciclagem.
Quanto aos stakeholders, a Vila Galé compromete-se a identificar e avaliar 100% dos fornecedores considerados de maior risco. Está também prevista a promoção de um aumento de 25% na proporção de fornecedores locais. Todas as unidades deverão desenvolver, pelo menos, uma iniciativa de responsabilidade social junto da comunidade local.
O diretor de Qualidade e Ambiente da Vila Galé frisa que esta estratégia está numa “fase madura de implementação”, com várias medidas já consolidadas e resultados já mensuráveis. O grupo hoteleiro português dispõe de mais de 190 indicadores ESG, que monitoriza regularmente, incluindo consumos energéticos por hóspede, emissões de CO₂, eficiência hídrica e taxas de reciclagem. A produção de energia solar no seio da Vila Galé, por exemplo, já permite evitar centenas de toneladas de emissões de CO₂ por ano, assim como outras atividades que a cadeia tem vindo a realizar junto das comunidades locais, como reflorestação, recolha de resíduos em praias, doação de material excedentário evitando o encaminhamento para resíduos, doação de refeições.
Os desafios da sustentabilidade
Mas são muitos os desafios com que o grupo se depara, admite Pedro Azeitona, que explica que “o aprofundamento das práticas ambientais sustentáveis no setor hoteleiro, e especificamente nas unidades Vila Galé, enfrenta uma série de desafios estruturais e operacionais que exigem uma abordagem estratégica, transversal e contínua”.

Um dos grandes obstáculos, aponta, é a rotatividade de colaboradores, que é bem típica do setor hoteleiro. Isso exige uma aposta permanente na formação e sensibilização ambiental, garantindo que todos os colaboradores, mesmo os recém-integrados, compreendem e aplicam corretamente os procedimentos sustentáveis – desde a separação de resíduos, à gestão eficiente de água e energia, até ao desperdício alimentar.
Por outro lado, a adaptação constante a novas exigências legais e normativas também representa um desafio significativo, reconhece o gestor, especialmente porque a Vila galé opera em várias regiões com regulamentos distintos e, por vezes, com lacunas ou ausência de infraestrutura pública – como é o caso da recolha seletiva de biorresíduos que, em muitos municípios, ainda não está implementada ou operacionalizada de forma eficaz.
Outro ponto crítico destacado pelo entrevistado é o equilíbrio entre sustentabilidade e conforto do cliente. Por exemplo, medidas como a limitação da troca de toalhas ou a regulação de temperaturas nos quartos podem ser percecionadas como perda de qualidade, sendo necessário comunicar e envolver os hóspedes nesse esforço coletivo. “A experiência do cliente continua a ser central na hotelaria, e práticas ambientais não podem comprometer a excelência do serviço – o que requer soluções inteligentes e tecnologias discretas”, sublinha.
Garantindo que a gestão de recursos naturais nas unidades Vila Galé tem sido uma prioridade clara ao nível da estratégia ambiental, “com progressos evidentes e contínuos ao longo dos últimos anos”, Pedro Azeitona dá conta do conjunto de medidas de eficiência energética e de integração de energias renováveis que o grupo tem vindo a implementar. Por exemplo, a monitorização diária e centralizada dos consumos permite detetar rapidamente desvios e otimizar operações. Houve um investimento em sistemas fotovoltaicos para autoconsumo em várias unidades, iluminação LED em mais de 90% das instalações e controlo automatizado da climatização e equipamentos técnicos. E uma aposta na utilização de energia de origem 100% renovável fornecida pela rede. No entanto, o responsável admite que “continuamos a enfrentar o desafio da renovação de equipamentos técnicos mais antigos em algumas unidades históricas, onde intervenções estruturais são mais complexas e exigem investimento elevado.
No que à água diz respeito, a Vila Galé adotou uma abordagem integrada que combina eficiência, reutilização e monitorização inteligente. Estão instalados redutores de caudal em torneiras e chuveiros, sistemas de rega gota-a-gota programáveis, reaproveitamento de águas de piscina para rega e equipamentos de lavagem otimizados para carga total. Algumas unidades recorrem também a águas tratadas por ETAR para rega de jardins. Com a ajuda da ferramenta Infraspeak, a cadeia hoteleira conseguiu fazer uma monitorização por setores (lavandarias, piscinas, jardins, cozinhas), o que melhora a capacidade de resposta a fugas ou consumos anómalos. Contudo, avança, há ainda oportunidades por explorar, especialmente na reutilização de águas cinzentas (ex. águas de lavatórios ou duches), uma solução que exige infraestrutura própria e aprovação legal que varia de município para município. “Aqui, o intercâmbio de experiências com outras cadeias hoteleiras e o apoio técnico de entidades especializadas seriam muito relevantes para acelerar a implementação”, defende.
o grande desafio está na gestão de biorresíduos, aponta o responsável, que esclarece que este é um dos resíduos mais volumosos gerados na hotelaria e exige um sistema local de recolha ou de compostagem
Por fim, na área dos resíduos, Pedro Azeitona adianta que a evolução tem sido “muito positiva”. O grupo conta com um sistema de separação e recolha seletiva implementado em todas as unidades, incluindo resíduos perigosos como pilhas, lâmpadas e óleos alimentares usados. E trabalha para eliminar plásticos descartáveis, substituir amenities por dispensadores e reduzir o volume de embalagens individuais, principalmente nas áreas de restauração. Adicionalmente, promove a reutilização de materiais (ex. mobiliário e têxteis) através de doações a instituições, contribuindo para a economia circular. Mas o grande desafio está na gestão de biorresíduos, aponta o responsável, que esclarece que este é um dos resíduos mais volumosos gerados na hotelaria e exige um sistema local de recolha ou de compostagem. “Infelizmente, a falta de uniformização nas soluções municipais e a ausência de infraestruturas adequadas em muitos destinos limitam a escala da nossa intervenção. Esta é uma área onde o setor, em geral, beneficiaria de uma atuação coordenada, incluindo apoio técnico, incentivos públicos e benchmarking entre operadores”, reivindica.
Pedro Azeitona fala-nos ainda sobre o cliente e o papel deste nesta temática, reconhecendo que “Os nossos hóspedes estão cada vez mais conscientes e valorizam práticas sustentáveis”. Isso reflete-se nas escolhas de estadia, no envolvimento com as iniciativas do grupo e até nas sugestões que fazem. “Temos investido na sensibilização ativa, através de mensagens em pontos estratégicos, atividades para crianças com a mascote Nep e iniciativas com clientes e colaboradores, porque acreditamos que a sustentabilidade também se constrói em conjunto com quem nos visita”.
Por Inês Gromicho, o texto sobre hotelaria e sustentabilidade foi publicado na edição 354 da Ambitur.