Portugal necessita de uma estratégia para o futuro. O apelo de urgência foi feito por Jorge Rebelo de Almeida, CEO do Grupo Vila Galé, que não tem dúvidas de que a hotelaria é um dos pilares da economia e do desenvolvimento do país. E a prova disso é o crescimento e a recuperação que teve, depois de dois anos marcados por uma crise da pandemia de Covid-19: “Até a nós nos surpreendeu a recuperação que o setor teve num período tão curto”.
O líder do grupo hoteleiro português, que falou aos jornalistas esta quinta-feira, 10 de novembro, na apresentação oficial da nova pizzaria Massa Fina e do renovado bar Soul & Blues, espaços integrados no Vila Galé Porto, reiterou a importância de existir uma estratégia concertada para Portugal, onde se dê prioridade àquilo que merece verdadeiramente relevo: “Não temos um país gigantesco, temos um país relativamente pequeno e o nosso futuro tem de ser feito com engenho e arte, crescendo mais na receita do que na quantidade de pessoas”, até porque “Portugal tem ainda turistas insuficientes para a oferta que temos”, considera. O gestor chamou também a atenção para a oportunidade que há no Interior do país, havendo muitas áreas que podem crescer: “Somos (Vila Galé) pioneiros nesta zona e o grupo que mais arrisca, mas há muita coisa que tem de ser melhorada”. Neste âmbito, o empresário refere-se à ferrovia, um problema para o qual não tem havido uma solução: “Temos de apostar nos comboios e não há uma solução para a gestão pública. Só vejo uma solução para o país que é concessionar”.
É na seleção de prioridades que, no entender de Jorge Rebelo de Almeida, Portugal falha, dando como exemplo as áreas da administração pública: “Temos quatro projetos para abrir para o ano e as dificuldades de resposta da administração pública às aprovações, aos apoios e aos incentivos, e os desbloqueios estão terríveis e pior do que nunca. Algumas coisas que até já estiveram melhores voltaram a estar piores”, lamenta. Outro exemplo é a falta de mão-de-obra qualificada que o país enfrenta e na qual insiste em não dar prioridade: “Portugal não sobrevive, se não tiver mão-de-obra de fora, mas tem de dar condições e tem que haver uma política concertada”. No Grupo Vila Galé, por exemplo, depois da crise de 2009, foi implementado um seguro de saúde para todos os colaboradores: “Não é só o salário que é importante, até porque mais de metade do mesmo é absorvido pelo Estado, mas sim o pacote integral. Temos que puxar pela imaginação para ter iniciativas para melhorar a vida das pessoas”. Neste âmbito, Jorge Rebelo de Almeida anunciou que, no próximo ano, vão ser criados incentivos para a habitação: “Vamos ter algumas iniciativas para criar apoios para que as pessoas tenham uma solução”.
Além disso, somam-se outros problemas, como a TAP ou o SEF: “Nasci e vivi com a TAP e nunca tive tanta dúvida sobre a viabilidade da companhia”. Um exemplo demonstrador disso são as dúvidas e os receios que prejudicam toda a equipa que faz parte da transportadora nacional: “Se estamos num projeto e nos dizem que o mesmo vai ser vendido, seja onde for, vamos desmotivar e ficar com receio quanto ao futuro”. E o mesmo acontece no SEF que, desde sempre, tem um “procedimento prejudicial” para o turismo e cidadãos: “(Até ao dia de hoje) ouviram tomar alguma medida para melhorar o SEF?”, questionou.
Jorge Rebelo de Almeida lamenta que a resposta de Portugal às questões prioritárias nem sempre seja a correta, constatando que o país tinha todas as condições para ser mais assertivo na forma como prioriza os problemas: “Não vejo, há muito tempo, ninguém a ter uma ideia para o país e nunca tivemos condições tão extraordinárias com uma maioria absoluta, depois de seis anos parados e com geringonça desastrosa para o país”.
Relativamente ao futuro, o empresário português é da opinião que as “empresas competentes” vão sobrevivendo, defendendo que a crise que se avizinha não pode ser vista com negativismo, mais ainda depois de dois ano parados: “O pior defeito é um comportamento de excesso, seja de euforia ou de negativismo. Sabemos que o próximo ano não vai ser maravilhoso, mas temos de nos manter a fazer coisas e ter um pensamento positivo”.
Por Cristiana Macedo, no Vila Galé Porto.