O segundo Webinar do 3.º Fórum de Turismo Visit Braga, que teve lugar na passada sexta-feira, tentou perceber de que forma podem as entidades de conhecimento e investigação, como as universidades, ajudar o Turismo a dinamizar-se e a responder aos desafios impostos por uma pandemia, nomeadamente, numa região como Braga que aposta, sucessivamente, no conhecimento, na cultura e na tecnologia, atraindo milhares de congressos e eventos que dinamizam a região.
Do lado do conhecimento…
Relação estratégica entre o Turismo e o Conhecimento
A Universidade Católica de Braga teve de se “reinventar” neste período conturbado e a professora Carla Cardoso defende que “a suspensão das atividades turísticas pode ser uma oportunidade para reforçar uma colaboração ativa que nos permita estarmos bem preparados e mais fortes do que nunca”, pois existe efetivamente uma “relação estratégica entre o turismo e o conhecimento”. A docente atenta que as universidades partilham estudos de interesse para o desenvolvimento turístico e que transferem conhecimento para os seus alunos de forma a “dar resposta a um turismo cada vez mais exigente a todos os níveis inclusive na qualificação” ao passo que o turismo pode ser uma “fonte de investimento para a investigação”.
Carla Cardoso destaca quatro desafios para o ensino: a contínua aposta na inovação, criatividade e empreendedorismo; o aumento da produção científica que possa contribuir para a competitividade; o reforço e a consolidação de parcerias com o tecido empresarial e a promoção de uma dinâmica ativa junto das comunidades locais na medida em que “o conhecimento tem de sair de portas ou trazer para dentro das suas portas as comunidades locais”, reflete.
No contexto pós-Covid, as instituições de ensino e investigação podem também contribuir nas mais diversas valências como, por exemplo, perceber atempadamente o novo perfil do turista, quais as intenções de viagem pós-pandemia e que mercados e produtos estarão nas preferências dos turistas. A investigadora avança que o turista, cada vez mais, tem “maior conhecimento, procura a diferença e produtos muito específicos” e que a partir de agora “a segurança sanitária passou a ser claramente uma preocupação”. Na sua opinião, a região do Minho pode ter uma vantagem competitiva visto ter menos densidade populacional, o produto Natureza e a riqueza de Património.
Turismo do conhecimento, criativo e e-turismo
O pró-reitor da Universidade do Minho, Paulo Cruz, considera que o turismo do conhecimento, o turismo criativo e o e-turismo são vertentes a aposta no futuro. O turismo do conhecimento consiste em “atrair indivíduos que buscam não só conhecer a região mas também trocar ideias e capital inteletual com pessoas da mesma área profissional”, descreve, e para tal muito contribuem os congressos e eventos que ajudam a viabilizar as cidades que os acolhem. Nesse sentido, Paulo Cruz adianta que a Universidade do Minho “tem atraído para a região milhares de congressos e eventos internacionais” e que não é por acaso que decretou enquanto objetivo estratégico para 2020 “constituir-se como a universidade portuguesa com maior impacto no desenvolvimento socioeconómico”.
Braga foi escolhida para Capital Europeia da Juventude, em 2012, o que resultou na criação do gnration que se traduz num “espaço de criação, performance e exposição no domínio da música contemporânea e da relação entre arte e tecnologia”, explica o responsável. Assim, o turismo criativo “implica uma forte ligação entre a criatividade e os lugares de destino, proporcionando aos visitantes uma experiência de imersão na cultura local e de contato direto com a comunidade”, acrescenta. Segundo o pró-reitor, “hoje Braga é uma das cidades mais empreendedoras de Portugal”, com um elevado número de startups e clusters tecnológicos, e adianta saber da “vocação de Braga” para acolher grandes eventos e da sua intenção de “evoluir para uma innovation city afirmando-se como centro de indústrias criativas e de juventude”. Desta feita, a cidade pretende ser Capital Europeia da Cultura em 2027.
Agora é tempo de refletir sobre o “novo normal” num contexto “incerto”, admite Paulo Cruz, mas uma das oportunidades poderá ser a “rápida e efetiva transformação digital em Braga” com o “e-turismo a ganhar cada vez maior importância”. Isto significa que “num futuro mais próximo, do que imaginávamos, possamos brindar o turista com a possibilidade de não ter de sair do conforto e segurança do hotel, usufruindo de conteúdos digitais e de realidade aumentada que lhe ofereçam um conjunto de experiências emersivas e personalizadas”.
Do lado do Turismo…
Oportunidade de estreitar laços e definir estratégias para o futuro
Por sua vez, Varico Pereira, administrador dos Hotéis Bom Jesus, sugere que num “momento bastante difícil” e “perante um cenário nunca antes visto ou sequer pensado”, especialmente no setor turístico, “é mais importante que nunca pensarmos todos em conjunto quais poderão ser as soluções para amenizar a situação” e que esta é uma “excelente oportunidade de estreitar laços e de definir estratégias para o futuro”.
O hoteleiro revela que “estamos esperançosos que, a partir da Páscoa do próximo ano, as coisas melhorem significativamente porque, se estivermos a trabalhar com estas limitações todas, obviamente que não vamos conseguir, brevemente, produzir a procura que tínhamos há três meses atrás”. Os Hotéis Bom Jesus orientam, assim, a sua oferta para o “mercado interno e de proximidade” para quando reabrirem, pelo menos, as fronteiras terrestres até porque “não sabemos as regras da aviação e quando alguns países vão abrir as suas fronteiras”.
Há quem defenda que Portugal possa receber um “boom” de turistas assim que as fronteiras reabram, pela boa imagem que o país tem lá fora, mas Varico Pereira que isso pode também trazer consequências como o facto de “estarmos aqui a tratar de um problema e trazê-lo de volta”. Daí que “as unidades hoteleiras tenham uma grande responsabilidade na segurança sanitária”.
Para já é tudo uma “incógnita” mas se efetivamente o mercado nacional responder à retoma turística e verificar-se uma procura acentuada pelo Turismo de Natureza “Braga tem as condições ideais para isso” assim como o Bom Jesus que conta com 26 hectares de “espaço natural perfeitamente preservado e adequado a receber turistas”.
Evolução do turismo favorece territórios como Braga
O Grupo Hoti Hotéis, por sua vez, tem atualmente uma unidade na cidade, o Meliá Braga, e encontra-se a desenvolver “uma segunda unidade que se vai localizar na Avenida Central”, revela Manuel Proença. O presidente do Grupo adiciona que na região Norte, próximo de Braga, estão outras unidades em desenvolvimento “em Viana do Castelo, Famalicão e na área do Porto”.
Manuel Proença comenta que “este é um ano muito atípico” e que, segundo dados recentes, “regredimos cerca de sete anos no crescimento do turismo” pelo que “vamos ter de começar praticamente de novo e julgamos que a situação só será normalizada na Páscoa de 2021”. Apesar disso, o Meliá Braga não fechou portas e tem estado ao serviço do Sporting de Braga para receber e isolar a equipa.
Nas suas palavras, o Grupo que preside sempre manteve uma “colaboração ativa com as universidades e entidades relacionadas com o Turismo”, como autarquias, e que tanto no passado como no presente, e futuro, “estamos completamente disponíveis para colaborar com estas entidades que têm organizado congressos, incentivos e seminários”. O segmento MICE é importante para o Hoti Hotéis mas também será “muito importante para a retoma da atividade económica não só em Portugal mas também no Norte do país”, confia.
Um dos critérios de preferência do turista será a “segurança do destino” e um dos problemas apontados por Manuel Proença é que “o turista sai do hotel e poderá, eventualmente, ser objeto de infenção que não tem a ver com o hotel” pelo que “é fundamental que todos os equipamentos ligados ao turismo estejam em condições de manter essa segurança”. O presidente do Grupo Hoti Hotéis refere que há cerca de um ano “a preferência pelo turismo de lazer foi ultrapassada pelo turismo urbano, cultural e de conhecimento” e que essa evolução “favorece territórios como o de Braga para o futuro”. Manuel Proença conclui, por isso, que mantém interesse em toda a região de Braga: “Estamos decididos e não vamos recuar a construir novos hotéis e nova oferta tendo em conta exatamente esta evolução que o turismo está a ter.”