WTTC lança recomendações para a recuperação e aumento da resiliência do setor do turismo

A WTTC e o Ministério do Turismo da Arábia Saudita lançaram hoje um novo relatório que destaca os principais obstáculos à retoma da mobilidade internacional e as recomendações para a recuperação do setor do turismo.

Com a pandemia a trazer uma paralisação quase total às viagens internacionais, devido ao encerramento de fronteiras e várias restrições, o turismo sofreu mais do que qualquer outro setor nos últimos 18 meses.

O contributo do setor para o PIB global caiu de quase 9,2 triliões de dólares em 2019 para somente 4,7 triliões de dólares em 2020, representando uma perda de quase 4,5 triliões. Além disso, perderam-se 62 milhões de postos de trabalho.

Este novo relatório da WTTC divulga as mais recentes projeções económicas que indicam que a recuperação do setor deverá ser mais lenta do que esperado este ano, em grande parte devido à continuação do fecho de fronteiras e a desafios relacionados com a mobilidade internacional.

O contributo do setor para o PIB deverá subir cerca de 30,7% em 2021 face a 2020, representando apenas um aumento de 1,4 triliões de dólares e, ao atual ritmo de recuperação, o contributo do setor do turismo para o PIB poderá ter um crescimento similar de 31,7% em 2022.

Entretanto, o emprego no setor deverá crescer apenas 0,7% este ano, representando somente dois milhões de postos de trabalho, seguido de um crescimento de 18% no próximo ano.

Representando a pior crise do setor do turismo, a Covid-19 não só impactou a economia global como também o bem-estar e as vidas das pessoas a nível mundial.

Antes da pandemia, o turismo era um dos principais setores globalmente, responsável por um em cada quatro postos de trabalho criados a nível mundial entre 2015-2019, e foi um principal impulsionador do desenvolvimento socioeconómico e da redução da pobreza, oferecendo oportunidades únicas às mulheres, às minorias, às comunidades rurais e aos jovens.

Este novo relatório revela os principais problemas centrados no desafio urgente de restaurar a mobilidade internacional, juntamente com a necessidade de abordar as fragilidades do setor reveladas durante a pandemia redesenhando um futuro mais sustentável, inclusivo e resiliente.

O estudo demonstra de que forma os encerramentos das fronteiras internacionais, a incerteza devido à constante mudança de regras, o custo proibitivo dos testes e a ausência de reciprocidade e evolução desequilibrada da vacinação prejudicaram a recuperação do setor do turismo.

1. Fecho de fronteiras

Em junho de 2020, todos os países tinham ainda alguma forma de restrições às viagens, desempenhando um papel importante na descida das despesas internacionais em 69,4% nesse ano.

Mais recentemente, desde 1 de junho de 2021, havia apenas três países sem quaisquer restrições e 78 destinos, 36% de todos os destinos globais, com algumas condições de entrada mas sem encerramentos totais ou parciais de fronteiras.

2. Incerteza devido à constante alteração de regras

Embora a procura reprimida para viajar seja expressiva, a constante mudança de restrições e regras continua a afetar significativamente a confiança do consumidor. Estas restrições, em permanente mudança e confusas, continuaram a afetar fortemente a confiança do viajante para reservar, já que não não havia um caminho claro nem um consenso global em termos de requisitos de testes, quarentenas e padrões de vacinação. Além dos sistemas de semáforos Covid, que diferem de país para país, levando a que os viajantes se sintam perdidos num oceano de informação e desinformação.

De acordo com o último inquérito ao sentimento do viajante de Oliver Wyman, 66% dos inquiridos planeiam viajar a nível doméstico nos próximos seis meses, mas apenas 9% já reservaram a sua próxima viagem, indicando que persiste a incerteza relativa às políticas da Covid-19.

3. Custo proibitivo dos testes

A mobilidade internacional e a livre movimentação das pessoas estão comprometidas pelo fracasso em harmonizar regulamentações de entrada e saída, bem como de proporcionar diretrizes claras e alinhadas para abrir as fronteiras internacionais. Além disso, muitos dos testes obrigatórios como os PCR, são demasiado caros e morosos para os consumidores. Isto está a ter um impacto negativo no setor que tenta recuperar da pandemia. Na verdade, de acordo com o mais recente inquérito da IATA, 86% dos inquiridos estão dispostos a ser testados, mas 70% também acreditam que o preço dos testes é uma barreira importante às viagens. De facto, segundo a IATA, mesmo o teste PCR mais barato aumentaria muito o preço de voar com base nas tarifas médidas. Um bilhete de ida que custava 200 dólares antes da pandemia aumentaria para 290 dólares com a adição do teste PCR, um aumento de 45%. Se for necessário um segundo teste à chegada, esta despesa poderia chegar a 380 dólares, uma subida de 90%. A obrigação dos dois testes na ida e na volta, resultaria em que uma viagem de ida-e-volta individual custaria 760 dólares.

Este custo proibitivo dos testes, juntamente com as restrições às viagens, já está a prejudicar a acessibilidade das viagens, criando maiores desigualdades. Está, aliás, a reverter o progresso das últimas décadas no sentido de proporcionar viagens mais acessíveis para todos e a criar um sistema elitista, diz a WTTC. Em 1979, um bilhete doméstico básico nos EUA custaria 615,82 dólares à moeda atual, um número que desceu para 344,22 dólares em 2016.

4. Ausência de reciprocidade e progresso desigual da vacinação

O setor do turismo é uma atividade económica fundamental a nível mundial, incluindo para muitas economias emergentes e em desenvolvimento. Sem um processo de vacinação célere e equitativo, a reabertura das fronteiras internacionais continua ameaçada com um impacto negativo consequente sobre a retoma da atividade económica.

Desde 21 de setembro de 2021, 2,52 biliões de pessoas, ou 32% da população mundial de 7,9 biliões, estão totalmente vacinadas contra a Covid-19. Contudo, persistem grandes diferenças entre países e regiões. Enquanto que alguns países na Europa e nas Américas conseguiram vacinar com sucesso uma grande maioria das suas populações, outros países, especialmente nas regiões de África e da Ásia Pacífico, estão atrasados. Na verdade, somente 1,9% das pessoas em países de baixo rendimento receberam pelo menos uma dose, o que não está só a gerar problemas sanitários, económicos e sociais, como também a impedir as pessoas de poderem viajar internacionalmente.

A mobilidade global é ainda mais prejudicada pelo facto de apesar de haver 13 vacinas a serem utilizadas, somente sete estão aprovadas pela OMS, e nem todas são reconhecidas pelos países.

Recomendações da WTTC:

1. Cooperação internacional para reabrir fronteiras
Dada a complexidade e interconectividade do nosso ecossistema global e do impacto vasto da Covid-19, a reabertura do setor para salvar milhões de postos de trabalho e recuperar biliões perdidos no PIB, exige uma colaboração e coordenação internacionais contínuas e intensificadas, tanto nos governos como no setor privado. Potenciar relações internacionais, a nível multilateral e bilateral, é não só essencial para partilhar práticas e visões eficientes mas também para o desenvolvimento de soluções comuns. Neste novo contexto, será fundamental incluir a voz dos países desenvolvidos e em desenvolvimento num diálogo para que ninguém fique para trás. A inovação deve ser considerada um princípio chave na conceção de soluções para permitir acessibilidade e igualdade. Da mesma forma, a colaboração público-privada permite que os dados fluam em tempo real o que ajuda no processo de tomada de decisão.

2. Restaurar a confiança
Reconstruir a confiança do consumidor será essencial esta nova era, com a saúde & higiene e a flexibilidade a tornarem.se critérios importantes no processo de tomada de decisão dos viajantes, tanto quanto o preço e a localização. Para sustentar a recuperação do setor, é necessário uma abordagem coordenada, consistente e transparente de modo a permitir viagens seguras. Neste contexto, a WTTC, em conjunto com governos, peritos de saúde e outras associações da indústria, trabalham em conjunto para desenvolver protocolos harmonizados e eficazes para 11 indústrias do setor do turismo.

Além disso, os viajantes vão cada vez mais virar-se para as autoridades nas quais confiam para ter informação precisa e atual, antes e durante as suas viagens. Neste contexto, é importante que os governos continuem a apesar à implementação de protocolos de saúde e segurança em todo o setor e recomendem o uso de máscaras em todos os transportes públicos e áreas lotadas para aumentar o nível de segurança e minimizar o risco.

3. Acessibilidade e viabilidade dos testes
OS testes à Covid-19 surgiram como um caminho chave para reabrir fronteiras às viagens internacionais mas é essencial que os testes sejam não só fiáveis como também de fácil acesso, baratos e adequados ao nível de risco. Para garantir que o turismo continua a ser acessível, há uma necessidade crescente de abordar o custo elevado dos testes à Covid-19. Devem ser consideradas alternativas aos testes PCR, tais como permitir o uso dos testes de antigénio.

4. Reconhecimento, reciprocidade & adoção digital para facilitar as viagens
Dadas as provas de que a vacinação resulta em níveis muito elevados de redução na infeção e transmissão da Covid-19, o risco de importação de viajantes vacinados está muito reduzido. Como tal, os protocolos devem ser aliviados para os viajantes vacinados, incluindo a remoção da quarentena ou necessidade de testes, em linha com a orientação da OMS de “considerar uma abordagem de risco para facilitar o turismo internacional levantando medidas, tais como testes e/ou quarentenas”. Esta abordagem deve também incluir um reconhecimento global para as viagens internacionais de todas as vacinas que foram autorizadas para uso e consideradas seguras e eficazes pela OMS. Em simultâneo, os líderes mundiais devem continuar a priorizar e a apoiar o processo global de vacinação para permitir a igualdade na vacinação em todo o mundo. E para promover a reabertura segura e célere das fronteiras, o apoio ao desenvolvimento e proliferação de passaportes de saúde digitais e portais digitais será essencial. Isto porque têm a capacidade de aumentar a segurança criando uma experiência mais integrada para o viajante permitindo que obtenham facilmente e verifiquem o seu estatuto de vacinação, resultado de teste negativo ou imunidade natural. A interoperabilidade e o reconhecimento destes passaportes e portais nos países será importante para a recuperação do setor e da economia global. A adoção digital a larga escala, incluindo a identidade digital e a biometria, precisa de continuar a ser uma prioridade,

6. Impacto social e Sustentabilidade
A pandemia não resultou apenas numa perda dramática de vidas humanas como também apresentou um desafio sem precedentes à saúde pública, aos sistemas alimentares e ao mundo do trabalho. Milhares de milhões de pessoas correm o risco de pobreza extrema, 3,3 biliões correm o risco de perder os seus meios de subsistência, e muitas têm-se debatido em simultâneo com o seu bem-estar mental. Como setor focado nas pessoas, que empregava 334 milhões de pessoas em 2019 e indiretamente apoiava mais alguns milhões, isto é especialmente importante.

As PMEs, que constituem 80% de todas as empresas globais do setor, também foram afetadas de uma forma desproporcional. Nos EUA, por exemplo, estima-se que 75% dos restaurantes independentes que fecharam temporariamente durante a crise não tenham sobrevivido. Da mesma forma, na China, 20% das PME’s declararam em fevereiro de 2020 que o seu cash flow não lhes permitiria sobreviver mais de um mês, e 64% disseram que não conseguiriam sobreviver mais de três meses.

Olhando para o futuro, é essencial que a recuperação do setor do turismo seja também sustentável, com um foco na conservação ambiental e em políticas amigas do ambiente para permitir que o planeta prospere. Na verdade, a sustentabilidade deveria estar no centro de todo o planeamento do turismo.